Em meio às amarguras que o ataque do Coronavírus vem causando à humanidade, algumas lições de empatia surgem inabaláveis. No solo do Oriente, na Europa, ou nos Estados Unidos, onde a geografia nos mostra civilização luzidia e radiante, a dor do abandono do homem encontra a primeira luz verdadeira nos gestos de solidariedade. Subitamente, uma saudação do vizinho na sacada ou na janela ativa a esperança. É a ternura humana, até então vista como despicienda formalidade dos mais humildes, ganhando significado generoso. A aproximação das pessoas na hora do sofrimento que nos reduz ao perigoso grau de finitude, por mais modesta que possa parecer, é o socorro. A ameaça de um vírus invisível derruba gente em plena exuberância ou status, e pode surpreender a todos igualitariamente. O medo nos remete à realidade de corpos frágeis que buscam o primeiro conforto na alma alheia. E nos damos conta de que somos corpo e alma (emoção, espírito, energia interna ou sentimento). Junto com atenção médica, ou no isolamento preventivo, as angústias fazem o somatório das ânsias de ver, ouvir, sentir e olhar o próximo. E lá se vão diferenças ante o clamor da solidariedade, que também chamamos de amor humano.
Lembramos trabalhador
Há algum tempo a crise brasileira tem exposto fome, miséria e falta de saneamento. Há meses são vistos vultos (humanos) vasculhando o lixo à cata de alimento. Não é de hoje o drama do desemprego. O movimento efervescente do comércio, subitamente definhou com o isolamento. O impacto nas empresas esvaziou e o dinheiro desapareceu. Empresários foram às ruas, lotando avenidas com carros de luxo. É urgente a volta ao trabalho, a volta do trabalhador que precisa produzir para fazer girar a economia. A justa ação que exige o retorno do movimento da cidade, mesmo diante da terrível possibilidade do contágio coletivo é séria e real. Ainda não resolvemos a situação, mas uma novidade histórica, mesmo em parte dissimulada: o trabalhador volta a receber atenção como indispensável ao desenvolvimento.
Sem divisão
O esforço pela sacralização do empresário impreterivelmente carrega a valorização do trabalhador, mesmo com a atual baixa estima por conta da perversa correlação de forças. Não dá pra dividir, no meio da crise, a importância da saúde do trabalhador instado a ficar em casa e a necessidade produzir. É um drama. Mas a hora não permite que se cometa o desatino da divisão profunda dos interesses. A velha tática de guerra manda dividir para governar (dividit et imperat). O momento, porém, é de salvarmos a saúde que ameaça a todos, máxime os menos favorecidos, respeitando as duas necessidades. Perder a vida é irremediável, perder dinheiro é recuperável.
Ação e calma
Todos, indistintamente, são convocados a agir para se defender da contaminação que pouco conhecemos. A paralisação do país não é omissão, é ação recomendada pela ciência e pela técnica. Já se percebe na fala do ministro Mandetta, a constatação de alguns bons resultados de fôlego. Parece que ganhamos tempo, mais do que Itália, Estados Unidos, França e Espanha. Não temos o dinheiro que jorra em Nova Iorque, mas é possível acreditar em peculiaridades que nos favoreçam.
Os atendentes
Médicos, enfermeiros, laboratoristas, pessoal de segurança e o agora a Força Nacional, com liberação de dinheiro ou ajuda das empresas e do povo compoem integração de esforços para vencermos esta luta. Estamos comprando equipamentos para proteção de médicos e enfermeiros. Além da ampliação dos equipamentos de teste. Proteção aos médicos é urgente.
Paradoxo
O negativismo perante as evidências científicas sobre o alastramento do Covid-19 gerou comportamento legítimo de mobilidade popular. Embora a insistência frenética de segmento palaciano em aporias contra o distanciamento entre as pessoas, firmou-se o convencimento contrário à displicência presidencial. Legitimou-se postura com feições de desobediência civil ao comando esdrúxulo. Prevalece a orientação ministerial de Mandetta.
Ditadura
Nunca mais!