Como ocorreu em outras regiões do Brasil a Gripe Espanhola chegou a Porto do Rio Grande trazida por marinheiros e passageiros. Com diversos sintomas como febre, dor de garganta, tosse e falta de ar, os 38 tripulantes do Itajubá desembarcaram em solo rio-grandense no dia três de outubro de 1918. O vapor, pertencente à Companhia Nacional de Navegação Costeira, transportava como os demais “Itas” da frota (Itaberá, Itagiba, Itaimbé, Itaipú...) cargas e passageiros. O transporte de cabotagem atendia dezenas de portos, de Manaus a Porto Alegre, sendo uma das primeiras atividades econômicas do Brasil desde os primórdios do século XIX. As maiores embarcações, com 120 metros de comprimento, tinham capacidade para até 280 passageiros distribuídos na 1ª, 2ª e 3ª classes. Até o final daquele ano e nos primeiros meses de 1919, a “Hespanhola”, como era grafada na época, se dissipa por todo o RS.
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Instalado no prédio que atualmente abriga o Palácio do Ministério Público, na Praça da Matriz, no centro de Porto Alegre, o governo do Estado permaneceu alheio à pandemia. Nas páginas do jornal A Federação, a situação era minimizada. Os periódicos alinhados ao Partido Republicano Riograndense replicavam o conteúdo do jornal governista, noticiando que diante das boas condições de higiene na capital e demais cidades o vírus não causaria maiores danos. Diante do agravamento da situação e do número de mortes provocadas pelo vírus, o todo poderoso Borges de Medeiros e a cúpula do governo deixam as intransigências para trás. Nas páginas do jornal que vinha sendo editadas desde janeiro de 1884 com o objetivo de difundir o ideário republicano, as autoridades passaram a orientar os leitores quanto às medidas sanitárias. Aglomerações públicas são suspensas e as Igrejas fecham suas portas.
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A palavra “influenza”, como também era chamada em função do contágio ser transmitido de uma pessoa doente sobre outras, ficou imortalizada nos rótulos de medicamentos processados e vendidos nas boticas nos anos finais da década de 1910. Com o título "Notas sobre a Gripe Espanhola”, publicada pelo Instituto Histórico e Geográfico do RS, Moacir Flores descreve o caos vivido na capital e interior. Dentre das memórias de infância contadas pela sua mãe, o professor revela: “o governo proibiu os enterros durante o dia”. E na sequencia: “A noite os carroções percorriam as ruas da cidade, recolhendo os mortos que as pessoas deixavam junto as calçadas”. E por fim: “Policiais acompanhavam os carroções, enquanto 16 presos da Casa de Correção recolhiam os cadáveres”. A pandemia ocorrida há pouco mais de um século chegou até os locais mais remotos, dentre os quais o Sertão do Alto Uruguai.