Em 1977 eu tinha 20 anos e lia na ZH os comentários de Goida (Hiron Goidanich) sobre filmes. Neste ano o diretor Richard Brooks brindou com “De bar em bar, à procura de Mr Goodbar” estrelado por Diane Keaton que conta a história da professora Theresa Dunn que à noite, de bar em bar, procura o homem perfeito.
Quando tive conhecimento de Gianfrancesco Guarnieri e, através dele, também de José Carlos Martinez, Augusto Boal e Plinio Marcos, passei a me interessar pelo teatro, tanto comentado por minha falecida mãe que amava Cacilda Becker e seu marido Walmor Chagas, Procópio Ferreira, Antonio Abujamra entre outras feras. Li sobre “Esperando Godot, de Samuel Beckett”, peça que nunca assisti como também ao filme acima citado.
Diógenes procurava ou esperava encontrar o homem honesto, perfeito; usava uma lanterna para a busca na escuridão da pequenez dos homens.
A minha geração, a do pós segunda guerra, herdou os protótipos dos babyboomers, como é definida a turma do deixa-disso, flower-power, sexo-drogas-rock. A turma se expandiu na Europa, principalmente na devastada França, tão ricamente reportada por Flavio Alcaraz Gomes em “O Diário de Um Repórter” e encontrou eco nos states através do festival de Woodstok e pela peça “Hair” trazida ao cinema por Milos Forman, em 1979. Nós, babyboomers, em processo de desativação-aposentadoria podemos ser avaliados. Conforme Ruy Castro em seu livro de crônicas “A Arte de Querer Bem”, da Estação Brasil, páginas 23-24, a geração babyboomer revolucionou a tecnologia, avançou na medicina e comunicações, criou o sexo sem culpa, a consciência ecológica, os direitos das mulheres, das minorias, dos animais, etc. Em compensação, tornamos as cidades impraticáveis, disseminamos as drogas, destruímos o cinema e a música popular, triplicamos a pobreza, intoxicamos o planeta com publicidades, carros e agrotóxicos, compramos e vendemos armas e políticos e tudo o que pudesse ser negociado.
Penso sobre que homem surgirá depois dessa pandemia? Virá o ser reflexivo, ponderado, social e humanamente justo como resultado dessa esfrega virulenta que nos colocou em genuflexão? Ou virá ao pensamento de que a vida é agora porque o futuro só a Deus pertence e, portanto, sexo-drogas e rock-and-roll?
Até março estava tudo alinhavado, não é mesmo? Esperávamos o fim dos tempos através de uma guerra da tecnologia onde um país bloquearia tudo ou um asteroide maligno. Mas, não, é um ser desprezível a tal ponto de aniquilar nossos planos, tão desprezível que podemos combater usando água e sabão.
À procura de Mr Goodbar, Esperando Godot, Hair ou livros de Ruy Castro servem para reflexões sobre o nosso real tamanho e nossos dilemas.