Após mais de duas décadas operando algumas linhas de transporte coletivo urbano, em Passo Fundo, a empresa Transpasso anunciou, nesta quinta-feira (16), a suspensão das atividades no município e a demissão de cerca de 40 funcionários responsáveis pela direção dos veículos e cobrança de passagens no perímetro urbano.
Em nota, encaminhada ao prefeito Luciano Azevedo (PSB), a administração da concessionária alegou "nefastos reflexos econômicos provocados pela pandemia Covid-19 e pelas medidas de mobilidade social adotadas pela municipalidade" que, segundo a empresa, agravaram a situação econômica do setor. A redução de cerca de 80% no transporte de passageiros, inviabilizaram o prosseguimento dos serviços prestados nos deslocamentos diários. "Assim, diante dos fatos já expostos acima e em uma atitude de responsabilidade com seus funcionários, suas famílias e comunidade, conduta tradicional por parte dessa empresa, não resta opção senão a de encerrar as atividades e proceder a devolução ao poder público municipal das linhas que opera, para que adote as medidas adequadas ao interesse público", justificou a Transpasso.
Surpresa
Tão logo o documento declaratório chegou à mesa do prefeito, já foi encaminhado para conhecimento do secretário municipal de Transportes e Obras Públicas, Cristiam Thans. Alegando surpresa em relação à decisão da empresa, ele afirmou ter convocado uma reunião com os gestores das outras duas concessionárias do serviço de transporte coletivo no município, Coleurb e Codepas, para viabilizar a absorção das duas linhas operadas pela Transpasso: Vila Fátima/Santa Maria e Cidade Nova/Santa Maria. “As empresas estão funcionando com horário de domingo em função da baixa demanda pelo isolamento social. Sentimos muito pela decisão [da Transpasso]”, ponderou. “Esse desligamento de empresas de transporte é nacional. Infelizmente, respingou em Passo Fundo. Precisamos, agora, sentar e resolver para não deixar os passageiros desassistidos”, prosseguiu o secretário.
A preocupação, conforme relatou ele, é com o deslocamento dos usuários a partir do decreto de liberação para a abertura do comércio local, anunciado na manhã de quinta-feira (16). “Talvez, seja necessário fazer adaptação nas linhas ou recondicionar linhas próximas”, disse Thans.
Operando com 20% da capacidade, a Transpasso alegou, ainda em nota, a exclusão no processo licitatório do transporte público, que permanece judicializado entre a Stadtbus e a Coleurb. O secretário de transportes, contudo, justificou que a empresa não permaneceu na disputa por não dispor de condições de infraestrutura de veículos e financeira para assumir uma possível concessão. No índice que avalia as frotas, como mencionou, a Transpasso ficou com um indicador de 1,63, enquanto as demais pontuaram 1,88.
Há quase 25 anos, a empresa chegou a viabilizar o transporte em quatro rotas, além das mencionadas, como lembrou Thans. Em caráter emergencial, a frota realizava os trajetos entre Semeato F1/ Vera Cruz. Apesar do desligamento sem aviso prévio ao Poder Público, o secretário afirma que houve uma “boa relação” entre a iniciativa privada e o governo municipal.
40 demissões
Com o encerramento das atividades, 40 funcionários foram demitidos da empresa. Segundo o presidente do Sindiurb, Miguel dos Santos, o corpo jurídico sindical já ingressou com uma medida cautelar solicitando o bloqueio de bens da concessionária – declarados em 9 ônibus, uma caminhonete e um terreno – para assegurar o pagamento dos direitos trabalhistas do quadro funcional. “Entendemos que houve má-fé. O sindicato está preocupado com a maneira como ocorreu, de um dia para o outro”, declarou. Na quarta-feira (15), os representantes sindicais foram chamados à sede da empresa, que comunicou a permanência da frota na garagem no dia seguinte. Mas, de acordo com o sindicalista, o documento de demissão foi entregue apenas na manhã de quinta.
O débito da Transpasso com os colaboradores, segundo Miguel, ainda está sendo contabilizado.