O número de casos confirmados do novo coronavírus em Passo Fundo passou de 58, na quarta-feira, para 73, na tarde desta quinta (23). A elevação aconteceu, também, no número de óbitos. Somente na quarta-feira, o município registrou duas mortes por Covid-19 e, agora, soma um total de seis óbitos causados pelo vírus. Outros 43 casos ainda aguardam resultado do teste. De acordo com o governador Eduardo Leite e a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, o quadro local de evolução da doença pode estar relacionado a um surto de contaminação identificado em uma empresa do município.
Procuradora do Trabalho em Passo Fundo, Priscila Schvarcz, confirmou que 19 trabalhadores de uma empresa do setor de frigorífico testaram positivo para a Covid-19, além da existência de outros 15 casos suspeitos, dois óbitos de familiares de funcionários e o afastamento de 78 trabalhadores com síndrome gripal. Segundo ela, os casos positivos são funcionários que residem nos municípios de Passo Fundo, Ronda Alta e Ibirapuitã. "Essas pessoas são vetores de transmissão para outros municípios. Trabalham na unidade aqui e retornam para suas casas", disse.
O Ministério Público do Trabalho (MPT) passou a receber diversas denúncias sobre situações de irregularidades na empresa. Uma equipe da Vigilância Sanitária visitou o local e reconheceu a existência de um surto. Com base nessas informações, o MPT, após tentativa de um acordo extrajudicial sem sucesso, ingressou com uma ação civil pública.
Nesta ação, o órgão apresenta uma série de pedidos, como o afastamento por 14 dias ou até a testagem dos funcionários. Medidas como a manutenção da distância entre os trabalhadores, nos mais diferentes setores da empresa, fornecimento de máscaras adequadas, uso de viseiras, custeio dos exames para identificação da doença, vacinação para o H1N1, melhora no monitoramento, vigilância ativa dos casos suspeitos, entre outros. A ação tramita na 2ª Vara do Trabalho.
Desde quarta-feira, a Gerência Regional do Trabalho em Passo Fundo realiza uma ação fiscal na empresa. O trabalho deve ser concluído nesta sexta-feira (24).
Ranking
Os dados, que deixam Passo Fundo em segundo lugar no ranking de municípios gaúchos com maior de número de casos e de óbitos por Covid-19, atrás apenas de Porto Alegre, colocaram a situação da cidade “na pauta da nossa equipe epidemiológica”, conforme declarou a secretária estadual de saúde Arita Bergmann. Na tarde de quinta-feira, uma reunião com a equipe de epidemiologia do Estado tratou exclusivamente dos casos de surtos, com foco no município de Passo Fundo. Arita explicou que a Secretaria da Saúde detalha no boletim epidemiológico semanal os casos de todo o Rio Grande do Sul, apresentando o perfil das pessoas e evidências dos óbitos. Segundo ela, são pessoas acima de 60 anos, que tem cardiopatia, obesidade e outras comorbidades.
Por outro lado, Arita alertou que os casos confirmados em uma mesma empresa de Passo Fundo são de pessoas ativas que estão no mercado de trabalho. “Já está sendo feito um levantamento pela 6ª Coordenadoria Regional de Saúde e pela área de vigilância do Estado para identificarmos quais as medidas sanitárias que terão que ser reforçadas nos espaços onde a transmissão está acontecendo. Sempre lembrando que um trabalhador ou um cidadão sintomático tem que ficar protegido, ficar em casa, usar máscara e ir para o isolamento domiciliar sem os seus contatos”, ressaltou.
Sindicato
Segundo informações do sindicato que representa os trabalhadores da empresa suspeita, a entidade procurou o Ministério Público do Trabalho, na semana passada, pedindo por providências. "O emprego é importante, mas nossa preocupação é com a vida dos trabalhadores", declarou o presidente da entidade. Segundo ele, o sindicato não tem informações claras sobre o momento em que esses profissionais foram afastados das funções, se permanecem hospitalizados ou em recuperação em casa. "Agora vamos aguardar os resultados", declarou.
Direitos humanos
Para o coordenador-geral da Comissão de Direitos Humanos (CDHPF) de Passo Fundo, Paulo Carbonari, embora a situação do foco de contaminação gere surpresa, o momento traz à tona a necessidade de cobrar das autoridades de vigilância local a responsabilidade à qual foram incumbidas. “A situação indica claramente o que significa a gente defender valores à vida ou colocar outros aspectos como mais importantes. Na prática, isso só ocorreu porque os sujeitos que dirigem essa empresa não atuaram de modo responsável, cumprindo as determinações que deveriam ter sido feitas para proteger a vida dos trabalhadores da empresa e, além deles, a vida de todas as pessoas com quem esses trabalhadores estabelecem relações. Estamos diante de uma irresponsabilidade flagrante, mas além da irresponsabilidade dos dirigentes, é preciso considerar e perguntar onde está a responsabilidade das autoridades que têm ao seu encargo fazer a fiscalização para verificar se, efetivamente, aquelas medidas que foram orientadas para fazer a segurança da saúde dos trabalhadores estão sendo tomadas”.