Com 73 casos confirmados e seis óbitos por coronavírus, Passo Fundo ocupa o segundo lugar no ranking de municípios gaúchos com maior número de casos e mortes por Covid-19. De acordo com levantamento da Secretaria Estadual da Saúde, o município fica atrás apenas da Capital, Porto Alegre, onde mais de 400 casos testaram positivo e, destes, 10 evoluíram para óbito.
O governador Eduardo Leite e a secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, afirmaram na tarde de quinta-feira (23) que parte dos casos confirmados em Passo Fundo estavam relacionados a um surto de contaminação do novo coronavírus, identificado em uma empresa do município, onde 19 funcionários foram diagnosticados com o vírus - dois dos óbitos locais registrados são familiares destes trabalhadores.
Questionado sobre a situação epidemiológica de Passo Fundo, o prefeito Luciano Azevedo foi cauteloso ao analisar outros fatores, além do surto, que podem ter contribuído para que Passo Fundo, com pouco mais de 200 mil habitantes, registrasse seis mortes por coronavírus em menos de um mês, enquanto Porto Alegre, com 1,4 milhão, contabiliza 10 óbitos até o momento. “Nós ainda estamos buscando as respostas para isso. Essas respostas não são rápidas e nem simples, mas estamos procurando e, quando tivermos, elas serão dadas”, adiantou.
O político reiterou que o município tem adotado medidas de enfrentamento do novo coronavírus, como o distanciamento social, desde o fim de março. “Nós tomamos todas as mesmas medidas que foram tomadas por quase todos os municípios do Estado. Umas de restrição, outras de flexibilização, todas elas mais ou menos no mesmo tempo das outras cidades”.
Ainda segundo o chefe do Executivo, o decreto municipal que restringe as atividades econômicas e determina outras medidas de proteção contra o coronavírus é similar ao adotado em cidades como Santa Maria, Caxias do Sul, Uruguaiana e Bento Gonçalves. Nessas cidades, no entanto, nenhuma morte por Covid-19 foi registrada até o momento. “Talvez essa seja a questão central: se Passo Fundo tomou as mesmas medidas que cidades com um porte parecido e aqui tem mais mortes, é sinal de que temos uma situação peculiar, diferente das outras. O que está acontecendo? Entendo que o Estado deveria dar uma atenção especial para a nossa região. Um polo, com seis mortes e onde milhares de pessoas circulam, não pode ser tratado como os outros”.
Velocidade de testagem pode estar relacionada ao número de casos positivos
Quando avalia o que pode estar relacionado ao aumento da circulação do vírus entre os habilitantes locais, o prefeito Luciano Azevedo destaca o fato de o município ser um polo regional em diversos setores, especialmente de Saúde. “Nós atendemos cerca de 200 municípios no nosso sistema de saúde. Se há uma circulação maior de pessoas, pode contribuir para uma circulação maior do vírus. Mas isso é só uma hipótese, não podemos afirmar que seja o motivo. Como estamos falando de uma questão de saúde, não gosto de dar opinião, precisamos aguardar a confirmação”, expôs.
Outra hipótese levantada pelo político é a velocidade de testagem para Covid-19 no município que, até a última quarta-feira, estava estimada em uma média de 170 testes para cada 100 mil habitantes, enquanto em outros municípios da região de abrangência da 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (6ª CRS) era de 80 testes para cada 100 mil habitantes. “É um número pequeno, mas desconfio que em outras regiões os números seriam ainda menores”, apontou. Segundo Azevedo, o Município já solicitou ao Estado dados sobre a velocidade da testagem em outras regiões do Rio Grande do Sul, para fins comparativos, mas ainda não obteve resposta. “Talvez, se confirmado que a nossa velocidade é maior, isso explique porque aqui temos mais casos. Naturalmente, se eu testo menos, terei menor número de confirmações”, exemplificou.
Em relação à curva de crescimento da doença, o prefeito disse que o aumento no número de casos é uma consequência natural da chegada do vírus. “Nós estamos acompanhando o que aconteceu no mundo. O que está claro para nós é que esse aumento está acontecendo em todos os lugares e que ele tem que ser acompanhado das medidas de tratamento das pessoas. As medidas adotadas aqui têm sido discutidas constantemente pelos especialistas do Comitê de Orientação Emergencial. Elas estão em permanente avaliação, não existe nada que não possa ser mudado, tudo depende do avanço da doença e das condições do município, que continuarão sendo observadas”.
Gráfico elaborado pelo jornal O Nacional aponta a evolução na curva de contágio no municipio.
Prefeito cobra mais atenção do Estado
De acordo com o prefeito Luciano Azevedo, atualmente, a taxa de ocupação dos leitos de UTI para Covid-19 em Passo Fundo é de 45%, o que significa que mais da metade da capacidade de internação ainda está disponível. Ele garantiu também que, por ora, o município tem estrutura suficiente – entre leitos, respiradores, EPIs e trabalhadores de Saúde – para atender a população. Por outro lado, mostrou-se crítico em relação à atenção que o Estado tem dado para a região. “Há um mês, eu já havia dito para o governador que estávamos insatisfeitos com os recursos passados para Passo Fundo para o combate do coronavírus. Se temos mais hospitais, nós vamos receber mais gente e precisamos de mais recursos do que outros municípios. Precisamos investir em estrutura, em leito e até na divulgação das medidas que temos que tomar ou que estão sendo tomadas”, ponderou.
Estado antecipa R$ 1,4 milhão para hospital de Passo Fundo
Uma resposta ao apelo da Prefeitura de Passo Fundo pareceu ter chegado no fim da tarde de quinta-feira. A antecipação de R$ 1,4 milhão para custeio dos 10 novos leitos de UTI instalados no Hospital de Clínicas de Passo Fundo foi anunciada pelo governador Eduardo Leite na data, durante transmissão ao vivo pela internet. Serão aplicados R$ 1,6 mil por dia para cada leito. As unidades fazem parte do Plano de Contingência Hospitalar da Secretaria da Saúde do Estado para enfrentamento à Covid-19.
Eduardo Leite afirmou que o governo tem tido, desde o início da pandemia, “um olhar especial e diferenciado para Passo Fundo” referindo-se que, além dos novos leitos de UTI, foi realizada a distribuição de Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), com mais de 47 mil máscaras sendo destinadas para a utilização de trabalhadores da saúde daquele município.
A secretária da Saúde, Arita Bergmann, complementou dizendo que Passo Fundo é um polo de “suma importância na gestão dos serviços de saúde principalmente na formação e na assistência hospitalar”. Ela também lembrou que no RS quase 70% das pessoas que tiveram os casos confirmados para Covid-19 estão recuperadas.