A Universidade de Passo Fundo (UPF) começou a realizar nesta semana, em parceria com a Prefeitura de Passo Fundo, os testes para diagnóstico da Covid-19, doença causada pelo coronavírus SARS-CoV-2. O convênio prevê a realização de dois mil testes, destinados a pacientes com sintomas clínicos moderados e que não se enquadram nos critérios de testagem definidos pelo Ministério da Saúde. A instituição tem capacidade de realizar a análise de 50 amostras por dia, cujos resultados devem ficar prontos em, no máximo, 30 horas. O objetivo é ampliar a testagem, identificação de casos, ações de isolamento e controle da disseminação do novo coronavírus em Passo Fundo.
Atualmente, a recomendação do Ministério da Saúde é de que os testes sejam feitos apenas em casos graves de pessoas com suspeita do vírus e profissionais de saúde e segurança com sintomas respiratórios. Com os testes próprios, conforme explica a secretária de Saúde de Passo Fundo, Carla Crivellaro Gonçalves, o Município tem autonomia para ampliar a testagem a casos que os critérios do Ministério da Saúde ou da Secretaria Estadual da Saúde não abrangem. “Temos o objetivo de fazer essa ampliação para pessoas com 60 anos ou mais que tenham sintomas, mas não se enquadram nos critérios de síndrome respiratória aguda grave, além de pessoas que, independente da idade, têm fatores de risco que podem piorar o quadro quando têm sintomas. Entra aqui também trabalhadores de outras áreas como assistência social, coletores de lixo e recicladores, por exemplo”, lista.
O teste adquirido pelo município é o de RT-PCR, que pesquisa o vírus nas vias aéreas, ou seja, no nariz e cavidade da garganta, e está em conformidade com as recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS). Conforme explica o coordenador do Programa de Pós-Graduação em Bioexperimentação da UPF, Luiz Carlos Kreutz, responsável pela frente de trabalho dentro da universidade, a coleta do material é feita por meio de um swab (similar à um cotonete) que é introduzido profundamente em cada narina e outro swab na garganta do paciente. Depois, os instrumentos são depositados em um frasco e enviados até o laboratório. Essa etapa fica a cargo da Secretaria de Saúde. “As equipes de enfermeiros e médicos que atuam junto aos CAIS do município vão coletar o material das pessoas que procuram atendimento nessas unidades apresentando sintomas clínicos condizentes com o novo coronavírus, mas que não se encaixam nos critérios do Ministério da Saúde”, esclarece. Nas palavras do professor, o projeto serviria como um serviço complementar ao feito em hospitais que, por sua vez, coletam o material e encaminham para o Laboratório Central de Saúde Pública do Rio Grande do Sul (Lacen).
Depois que o material é coletado e enviado à UPF, ainda de acordo com Kreutz, as equipes da instituição dividem-se em duas unidades de trabalho para a realização do teste. “A primeira equipe faz a extração do material genético presente nas amostras, enquanto a segunda unidade amplifica o material extraído e identifica se há ou não a presença do vírus. São todos procedimentos feitos por meio de equipamentos sofisticados, com protocolos idênticos aos que são seguidos no Lacen”, salienta. A expectativa é de que os resultados possam ser entregues entre 24 e 30 horas depois.
Os laudos devem ser encaminhados para a Vigilância Epidemiológica do Município. A pasta fica responsável por comunicar o resultado aos devidos postos de saúde e às entidades oficiais, para que os casos positivos possam integrar os boletins oficiais do Estado. O laboratório estruturado na Universidade de Passo Fundo deve operar de segunda a sexta-feira, em período integral, e nos sábados de manhã, conforme demanda.
Diagnósticos mais precisos devem auxiliar na tomada de decisões
A compra dos insumos para realização dos testes havia sido anunciada pela Prefeitura ainda no dia 28 de março. Na oportunidade, o prefeito Luciano Azevedo ressaltou que a falta de diagnósticos precisos, devido ao baixo número de testes disponibilizados pelo Ministério da Saúde, prejudicava a tomada de decisões, uma vez que sem os diagnósticos não é possível saber até que ponto o vírus se disseminou na região, tampouco diferenciar quem está com o coronavírus de pessoas apenas com sintomas semelhantes. A expectativa é de que, agora, com mais dois mil testes disponíveis, o Município tenha informações mais concretas em relação à situação epidemiológica local e, assim, possa definir melhores estratégias de isolamento.
Doutor em Microbiologia Veterinária e pós-doutor em Imunologia, o professor Luiz Carlos Kreutz também reitera a importância de ampliar a testagem. “Muitas pessoas que procuram atendimento podem estar infectadas sem a sintomatologia mais grave e, por isso, acabam não sendo diagnosticadas. Então, a ideia é que com esses testes a gente possa identificar e dar as orientações adequadas para que essas pessoas com o vírus fiquem confinadas, reduzindo seus contatos e minimizando a possibilidade de transmitir a outras pessoas. Isso antecipa uma situação mais grave”.