Estudo aponta perfil dos óbitos por coronavírus no município

Relatório divulgado pela Prefeitura de Passo Fundo apresenta dados como a idade média das vítimas, quadro clínico e o tempo médio de internação

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A Prefeitura de Passo Fundo divulgou, nessa terça-feira (19), um estudo sobre o perfil dos óbitos por coronavírus ocorridos na cidade. O levantamento aponta que as mortes estariam relacionadas, principalmente, à condição clínica dos pacientes. Em coletiva de imprensa, no início desta semana, o prefeito Luciano Azevedo afirmou que o documento traz respostas científicas para tentar esclarecer os elevados índices da Covid-19 em Passo Fundo. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, até o momento, são 359 casos positivos e 25 mortes de moradores com o novo coronavírus. Os dados colocam Passo Fundo em primeiro lugar no ranking de municípios gaúchos com o maior número de óbitos.

Feito pelo Município, em conjunto com o Comitê de Orientações Emergenciais (COE), que inclui a Secretaria Municipal de Saúde, hospitais, Faculdades de Medicina, Ministério Público, Conselho Municipal de Saúde e médicos epidemiologistas, o levantamento analisa os 24 óbitos registrados em Passo Fundo entre os dias 22 de março e 18 de maio de 2020. O 25º óbito, confirmado na manhã dessa terça-feira, não está incluído no estudo – a vítima é um homem de 63 anos, com comorbidades. Com base em informações da Secretaria Municipal de Saúde, Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) e Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HC), o estudo divulgado aponta que dos óbitos avaliados, 12 pessoas, o equivalente a 50%, procuraram atendimento diretamente nos hospitais, o que contribuiu para que chegassem em estado grave.

O tempo médio entre o primeiro atendimento até a internação (considerando o total de óbitos) das vítimas foi de 1,7 dia, variando entre zero e 6 dias. Esses pacientes tinham de 51 a 90 anos, sendo que a idade média era de 75,2 anos. O tempo médio de internação foi 8,5 dias, sendo o mínimo de um dia e o máximo de 26 dias. Todos os pacientes apresentavam um ou mais problemas de saúde que estão descritos como fatores de risco, como hipertensão, diabetes e cardiopatia. Cinco deles eram pacientes com limitação de cuidados invasivos por opção da família. O estudo afirma ainda que a letalidade do vírus em Passo Fundo segue o comportamento internacional, nacional e estadual, onde o percentual de óbitos é maior em idosos, em especial com 80 anos ou mais. Informa, ainda, que em Passo Fundo não foram observados óbitos de pacientes jovens, sem comorbidades ou profissionais da saúde. No Rio Grande do Sul, ela ocorre a partir dos 20 anos.

O tratamento dos internados em UTI, em ambos os hospitais da cidade, além do suporte de vida relacionado ao controle das complicações pelo COVID-19, tem incluso o uso de hidroxicloroquina, oseltamivir, anticogulantes e macrolídeo (azitromicina ou claritromicina). Ainda conforme o relatado, Passo Fundo não vivenciou, em nenhum momento, o colapso dos leitos hospitalares. “Os hospitais já internaram 349 pessoas, dessas 113 em UTI. Sendo assim, não se pode ligar o número de mortes a possível deficiência do sistema hospitalar”, diz. O balanço mais recente da Secretaria Estadual de Saúde confirma a afirmação em relação à situação atual do município, cuja taxa de ocupação em leitos de UTI Adulto não passa de 75%.

“Os óbitos estão relacionados à condição clínica dos pacientes. O novo coronavírus tem se demonstrado mundialmente letal para idosos e pessoas com problemas de saúde. Esse fator reforça a necessidade de que famílias e instituições isolem os idosos, não permitindo sua exposição para a possibilidade de contato com o vírus, seja não permitindo o acesso a ambientes onde circulem muitas pessoas ou não permitindo o contato de amigos e familiares no ambiente doméstico, restringindo aos cuidadores”, analisa o documento. 

Casos em frigoríficos

O estudo elaborado pela Prefeitura de Passo Fundo trata também dos surtos registrados em frigoríficos do interior do Estado, incluindo o caso da unidade da JBS em Passo Fundo. Segundo o documento, os trabalhadores da indústria de alimentos podem apresentar maiores vulnerabilidades econômicas e sociais. Esse perfil populacional teria maior dificuldade de isolar os doentes das pessoas mais velhas, em função do maior número de pessoas morando em habitações com menos cômodos, o que favorece a transmissão do coronavírus entre pessoas suscetíveis. Além disso, são pessoas com menos acesso a outros direitos fundamentais relacionados à qualidade de saúde, como saneamento básico, água tratada, prática de atividades físicas ou controle prévio de doenças crônicas, fazendo com que a COVID19 tenha maior impacto na mortalidade. 

Município afirma que agiu “de forma imediata” no enfrentamento da pandemia

Na introdução do estudo, afirma-se também que não teria havido negligência do município quanto à adoção de medidas de enfrentamento à pandemia do novo coronavírus. A análise declara que, seguindo orientações do Ministério da Saúde e levando em consideração os cenários social, econômico e de saúde, o Município agiu de forma imediata, no início da pandemia, publicando decretos para organizar o funcionamento de atividades. Em recente coletiva de imprensa, ao falar sobre o levantamento que, na data, ainda estava sendo elaborado, o chefe do Executivo reiterou também que as medidas adotadas em Passo Fundo teriam sido tomadas ao mesmo tempo que outros municípios do mesmo porte.

“Assim que foram notificados os primeiros casos de coronavírus no país, a Prefeitura iniciou o desenvolvimento de ações para combater a epidemia e preparação da estrutura de saúde para atender a população. Houve contratação de profissionais, o Cais Petrópolis foi estruturado e definido como referência em atendimento de pessoas com sintomas gripais, funcionando 24h com o suporte de alunos da UPF, UFFS e Imed. Em parceria com a Universidade de Passo Fundo, desenvolveu o teleatendimento para tirar dúvidas da população sobre o coronavírus e ampliou a testagem. Também reforçou os hospitais com a aquisição de 11 respiradores. Os hospitais estruturaram leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) para pacientes com Covid-19, suspeitos ou confirmados: o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) confirmou mais 20 leitos; o Hospital de Clínicas (HC) disponibilizou mais 13”, lê-se no estudo divulgado pela Prefeitura.

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