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Passo Fundo registrou o primeiro caso do novo coronavírus no dia 25 de março. Passados 61 dias, a cidade contabiliza 491 casos e 30 mortes em decorrência da Covid-19. O comportamento da população é apontado por especialistas como a principal causa para os números. “O negacionismo da pandemia é muito forte. Muitas pessoas têm dificuldade de se adaptar ao novo estilo de vida que o vírus está nos obrigando a levar. O distanciamento social, não é uma opção, é uma necessidade”, afirma o professor da Universidade de Passo Fundo e doutor em Biologia Molecular, o argentino José Eduardo Vargas. A “despreocupação” de parte da população também é percebida pela infectologista e responsável pelo Serviço de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital de Clínicas, Clarissa Oleksinski. “Muitas pessoas andando na rua sem máscara, em grupos. Saindo para atividades que não são essenciais”, explica. O professor relembra que o vírus é muito contagioso, já que 1 infectado pode transmitir para 3 a 4 pessoas.
O número de testes também é apontado pelo pneumologista Tiago Simon como uma possível causa para os números. “Talvez estejamos testando mais do que as demais cidades do Rio grande do Sul”, explica. Ele ainda ressalta os surtos no frigorífico da JBS e em uma instituição de longa permanência, “o que pode ter contribuído para o aumento importante deste número de casos”.
Evolução
O perfil do vírus, que tem muitos infectados assintomáticos, é difícil acompanhar sua evolução. “Não se pode fazer um registro real de quando foi o primeiro caso de infecção, apenas são registrados e molecularmente verificados os suspeito sintomáticos”, destaca Vargas. Isso conta uma história parcial do vírus na cidade. “A chave da compreensão real da evolução da infecção em Passo Fundo, como Porto Alegre, se obteria por diagnóstico em massa da população”, explica Vargas. A pesquisa realizada pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), em cidades como Passo Fundo, revelou que para cada caso notificado pela Secretaria Estadual da Saúde (SES), há cerca de dez casos não notificados.
A famosa curva de infecções tem se mantido estável nas duas últimas semanas em Passo Fundo. “Não temos visto aumento expressivo dos casos. O padrão se mantém controlado desde então”, afirmou a infectologista Clarissa em entrevista no dia 14/05. O pico da curva, no entanto, ainda não foi atingido na cidade na opinião de José Eduardo Vargas.
O controle de transmissão da Covid-19 é um dos critérios da OMS para o fim do isolamento, assim como a capacidade de testar a população, tratar todos os casos e traçar todos os contatos dos infectados. Questionada se isso está ocorrendo em Passo Fundo a infectologista é enfática: “absolutamente não”. “O que vemos é que uma grande quantidade de suspeitos não é testada no âmbito da saúde municipal, o que com certeza gera subnotificação. Muitos casos leves e que são tratados domiciliarmente não são testados. Se não testamos, não sabemos quem está doente realmente. Assim o vírus de propaga com mais facilidade”, explica Clarissa.
Retomada das atividades
A discussão que pauta o Brasil sobre o distanciamento social atinge também Passo Fundo. Os especialistas consultados concordam com o distanciamento social, porém divergem em alguns pontos. “Se alguns setores comerciais forem abertos, porém, a população realmente utilizá-los de forma consciente, acredito que não haveria grandes problemas”, aponta Clarissa. “Acredito na necessidade de um retorno gradual e ordenado das atividades na nossa cidade, mas respeitando sempre as medidas de higiene e proteção”, aponta o pneumologista Simon.
De outro lado, o professor José é enfático ao afirmar que o momento não é adequado para abertura pela falta de uma vacina, e defende o distanciamento social como a única maneira de prevenir a infecção. “Entendo que economicamente e so
cialmente é muito mais complicado. Mas, até não ter um tratamento efetivo para diminuir a gravidade dos sintomas ou tempo de internação e até não ter vacina, abrir negócios aumenta as chances de infecção”, explica Vargas.
A preocupação com os assintomáticos é pelo risco de contaminação de pessoas de grupo de risco. O efeito no sistema de saúde pode ser grave, já que outras doenças seguem demandando tratamento. “A margem para saturar o sistema de saúde em Passo Fundo... não é muito alta”, explica o professor.
Os dados estão sendo continuamento atualizados conforme as divulgações dos órgãos de saúde.
Infografia: Bruna Scheifler