Enfermeiros, médicos, plantonistas, mulheres e homens, escalados para serem anjos reais no socorro aos enfermos da pandemia vivenciam a angústia da própria sobrevivência. O risco inexorável do contágio segue o compasso da própria respiração a cada segundo. A tarefa é missão grave que leva a deixar de lado a vida própria. As cautelas de quem atua em qualquer setor do socorro não terminam na jornada extenuante e sempre esticada do ambiente hospitalar. Ao retornar para o convívio familiar, as horas que restam prosseguem tensas carregadas por medidas exigidas. O sono é perturbado pela aflição da atividade inexcedível na atenção aos afetados pelo coronavírus. Essa dedicação toda vem custando a saúde, com efeitos a serem avaliados, além da pressão psicológica.
Os números apontados recentemente também retratam a angústia. São mencionados 201 casos de morte, na enfermagem, auxiliares de atendimento e médicos nesta tragédia do Covid-19. O Brasil figura como segunda maior incidência nesses casos no planeta. Já se abordou sobre a deficiência de material de proteção aos profissionais da saúde. A falta de equipamento, excesso de horas de trabalho, ou carência no controle por testes, e até atrasos no pagamento de salários, agravam o desafio. São muitas a mortes neste exército de anjos, onde 132 mulheres (que são maioria) perderam a vida.
Dignidade
Os casos de afetação da pandemia, em muitos momentos, surgem com o temor imediato da morte. E, mesmo nos casos fatais, que já são aos milhares, o mínimo de dignidade humana é a assistência. Se não há cura, o leito aparelhado e a mão dos atendentes resume o único afeto na hora da morte. É o fator da dignidade possível na esperança de sobrevivência. Repetimos, é a única expressão de dignidade humana. É o diferencial sobre-humano dos estertores, real e triste.
Prioridade
É muito preocupante o abalo que atinge em cheio a classe dos sanitaristas direta e indiretamente empenhados. A ampliação de alas com novos leitos hospitalares só pode significar eficiência se o Brasil devotar mais atenção aos heróis da pandemia. As pessoas habilitadas, escasseiam em vários estados da Pátria. Esse cuidado com nossos anjos de verdade é a prioridade, que reforçamos, prioridade máxima.
Remédio
Depois de tantas crenças exóticas, remédios duvidosos e até mentiras, surge a corticóide Dexametasona. As experiências indicam o melhor efeito contra o Covid-19, em percentuais em torno de 30% de cura. A Inglaterra anunciou a adoção do remédio a ser aplicado na fase aguda da doença, não como preventivo. A questão de efeitos colaterais, ou não, é responsabilidade do médico que faz o atendimento. No momento em que paira o perigo de reaparecimento dos focos da pandemia, a notícia soa esperançosa, já que a vacina demanda mais tempo. Parece ser mesmo a melhor novidade que surge, considerando que não depende de monopólio de produção, por preço acessível. É medicamento já autorizado mundialmente.
A contramão perversa
As loucuras e excessos, dissimulados ou não, lamentavelmente ocupam atenções no cenário político. A avidez pelo poder levou a ameaça da harmonia institucional entre poderes democráticos. Todos os excessos apresentam feições quase vulcânicas, via acusações entre lideranças ou julgamentos precoces. Embora grave o momento político, a precipitação de algumas disputas, que poderiam ser prudentemente proteladas, adquirem proporções perversas conquanto superam a principal causa que é a saúde pública. O que está acontecendo é terrível. No meio do apelo dramático para salvar vidas, os desvios criminosos de corrupção na aplicação de recursos e interesses partidários assumem o protagonismo. É hora do esforço cívico de todas as forças, inclusive rivais, pela causa da salvação de vidas. Os casos de polícia, com a monstruosidade da corrupção em plena pandemia, devem ser tratados pelos órgãos policiais. Aliás, a PF parece ser a instituição ainda incólume e tem competência para continuar sua tarefa. O que une a intenção democrática nesta hora é a missão de socorro aos males da pandemia. O desvio é perverso.