A pandemia vai passar até que outra e outra surja nos horizontes de todos nós. E ceifará vidas de velhos e doentes, e ceifará vidas de velhos e não doentes. Outras causas de se morrer não quedarão, no entanto. Morrerão no país a cada ano 500 mil pessoas de problemas cardiovasculares e trauma, isso provavelmente não vai passar porque para isso não há vacina, nem antibióticos contestados pela ciência ou pela política. Dizem que morremos porque vivemos mal, comemos e bebemos mal, porque criamos intrigas e aditivamos a cabeça com drogas e bebidas lícitas ou ilícitas e isso não vai mudar. Porque não vai mudar? Porque o homem não muda, não há cenário que faça o humano entender seu desiderato nessa existência. Ganhamos um presente mágico, cheio de nuances bacanas, como família, saúde, trabalho...pelo menos para boa parte de nós. E colocamos em perigo esse presente maravilhoso de maneira súbita ou lentamente por hábitos nocivos que não sabemos controlar como, por exemplo, de trabalhar demais em busca da conquista da materialidade. Subjugamos a espiritualidade e afundamos nas angústias que trazem em si a debilidade dos humores, a sensação do vazio, a menos valia.
O homem, desde os relatos do rei sumério Gilgamesh, debate-se entre a teoria e a prática, entre a ética e a moral. Gilgamesh queria a imortalidade e leva uma vida para compreender que a imortalidade reside não eternidade da matéria; reside na imaterialidade na vida vivida como exemplo diante das desventuras, na vida consagrada a coisas boas e extensível a outros.
A ética, essa cláusula pétrea da vida harmônica, esse código ideal de normas e condutas é facilmente entendida e dificilmente aplicável. À aplicação da ética chamamos moral e a moral nem sempre bate com a ética, a prática nem sempre bate com a teoria. A ética pressupõe liberdade de escolha entre fazer coisas bacanas ou trashes; é imperioso, até em homenagem apo presente chamado vida, que se escolha dar o melhor de cada um de nós em todas as circunstâncias do dia-a-dia. Mas, não o fazemos. E essa pandemia seria uma boa oportunidade para que deliberássemos sobre nossas condutas da vida em sociedade. Ao invés do exercício da introjeção crítica para extrojeção de condutas bacanas, caímos na rede social para expor, muitas vezes, o que há de pior em nossos pensamentos. Ali, ofendemos opiniões contrárias as nossas, criticamos os que não entendemos, potencializamos mentiras e fofocas.
Acho que o Homem está ficando cansado da gente, acho que nós estamos ficando cansados de nós mesmos.