Entidades criticam abre e fecha do comércio

Para a presidente do Sindilojas, mudanças constantes nas regras de funcionamento do comércio, em razão do plano de distanciamento controlado adotado pelo governo estadual, dificultam o planejamento financeiro dos pequenos empresários

Por
· 4 min de leitura
Luciano Breitkreitz/ON Luciano Breitkreitz/ON
Luciano Breitkreitz/ON
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Depois de uma semana com as portas fechadas para atendimento presencial, o comércio voltou a receber os consumidores em Passo Fundo nessa terça-feira (7). A mudança de bandeira, que passou de vermelha para laranja, permitindo a flexibilização das medidas de distanciamento social, foi recebida de forma positiva pela categoria. No entanto, de acordo com entidades que representam o setor, a inconstância nas determinações do governo estadual tem custado caro para os pequenos empresários. “O empresário não consegue planejar o seu estoque. Ele prepara todo o ambiente para receber os clientes e, de repente, precisa fechar. Depois, quando ele decide não aumentar muito o estoque porque não tem certeza se vai poder vender, recebe a notícia de que pode abrir. Esse abre e fecha traz tantas dificuldades quanto estar fechado”, afirma a presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sindilojas) de Passo Fundo, Sueli Marini.

O cenário de incertezas, ilustrado por Marini, é observado nos resultados de uma pesquisa divulgada pela Fecomércio-RS, na última semana. De acordo com o Índice de Confiança do Empresário do Comércio (ICEC-RS), na percepção dos varejistas, a situação econômica, que já era crítica no final de abril, ficou ainda pior no final de maio. O tombo na confiança dos empresários foi recorde tanto em relação ao mês anterior (-19,5%) quanto em relação ao mesmo período do ano passado (-33,7%), derrubando o índice para 76,1 pontos, com intensificação do pessimismo entre os varejistas. Dentre os entrevistados, 92,7% avaliaram uma piora na condição atual da economia. Em relação ao setor e à própria empresa, a percepção de condições piores foi referida por 74,1% e 69,9% dos empresários, respectivamente.

A análise divulgada pela Fecomércio traz ainda dados do Novo Caged, que aponta o fechamento de 2 mil postos de trabalhos formais no comércio varejista gaúcho desde o início da pandemia (considerando março, abril e maio). “A situação do varejo é muito crítica. Crédito difícil, sobretudo para os menores, receitas pequenas com movimento baixo para muitas atividades do varejo, incerteza sobre a possibilidade de prorrogação de medidas relacionadas à jornada de trabalho são desafios que os empresários têm enfrentando para passar pela crise. Nesse cenário incerto já muito difícil, a alternância entre abrir e fechar ameaça ainda mais a sobrevivência dos negócios e traz consequências ainda mais severas sobre o setor”, comentou o presidente da Fecomércio-RS, Luiz Carlos Bohn. 

Para a presidente do Sindilojas, as restrições nas atividades econômicas têm se arrastado além do esperado. “No início da pandemia, o setor concordou com o fechamento para que pudesse haver a organização da saúde em Passo Fundo, como nos demais municípios do Brasil. Mas, agora, acreditamos que a dosagem do remédio está sendo um pouco alta demais. Nessa inconstância, já temos visto muitas empresas que encerraram as atividades e outras tantas que estão prestes a fechar. Temos sorte por termos conseguido reverter e evitar mais uma semana de portas fechadas, mas a situação ainda é muito preocupante”, opina.

Sindilojas estima queda de 80% nas vendas da última semana

Embora ainda não existam estimativas oficiais sobre a perda de arrecadação para os comerciantes locais desde o início da pandemia, o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL) de Passo Fundo, Sergio Giacomini, reitera que o setor tem sido um dos mais afetados pela crise. "Há muita incerteza e insegurança para as empresas. Elas não conseguem se programar porque não sabem o que acontecerá na semana seguinte. Esse abre e fecha impede que a economia tenha um padrão de crescimento, como vinha acontecendo, de forma gradativa. Era de forma muito lenta, mas já dava alguma esperança. Nessa semana em que ficamos fechados, o movimento voltou a cair”, observa.

Ainda conforme Giacomini, apesar de a bandeira vermelha autorizar compras online e no formato pague e leve, esse modelo de venda ainda é pouco difundindo na região. “O consumidor gosta de estar dentro da loja para poder escolher o produto, olhar de perto, provar”, justifica. Além disso, conforme explica Sueli Marini, muitos estabelecimentos locais não contam com uma plataforma adequada para vendas online. “Grandes redes estavam preparadas e já eram conhecidas no e-commerce, então não tiveram a mesma dificuldade que o pequeno empresário. As pequenas e médias empresas sempre sofrem uma pressão maior, elas não têm a possibilidade de manter uma estrutura de marketing para promover as vendas online. Todo empresário que conversa conosco comenta que, na semana de bandeira vermelha, vendeu 20% do que seria vendido se a loja estivesse aberta”.

A esperança da categoria é que, com a chegada das baixas temperaturas, a venda de roupas de inverno seja incrementada na região – mesmo que, conforme a presidente do Sindilojas, a expectativa ainda não seja das mais otimistas. “Há uma colocação muito segura de que o que não se vendeu até agora, não se vende mais. Não vamos recuperar o que foi perdido desde março. É por isso que, neste momento, a população precisa lembrar da importância de comprar no comércio local. Não estamos conclamando que as pessoas saiam em multidões, mas sim que saiam pela necessidade e que deem preferência às empresas da cidade. Podemos garantir que, salvo raras exceções, as lojas estão preparadas para atender com segurança, seguindo todos os protocolos. Nós fizemos uma pesquisa por amostragem, com 945 colaboradores do comércio e, destes, apenas dois haviam testado positivo para Covid-19. Isso nos mostra que o aumento da pandemia não é responsabilidade do comércio”, defende.

Gostou? Compartilhe