“Meu nome é Dani, eu moro na Valinhos e tô aqui com
meu banheiro que tá com uma situação cheio de buraco, entra bicho e é muito frio. Tô necessitando de um banheiro, de uma ajuda, não tem nem pia, está meio que caindo” assim se apresenta Daniele da Silva Barbosa em um vídeo do instagram do projeto Arquitetura Para Quem + Precisa. O banheiro da casa dela é a primeira reforma do projeto em Passo Fundo. Antes da reforma, o banheiro tinha apenas água fria, os dejetos eram despejados a céu aberto, passando ao lado da casa, e a entrada de animais pelos buracos era comum. Em Passo Fundo, apenas 54.1% de domicílios tem esgotamento sanitário adequado, de acordo com o Censo de 2010 do IBGE.
O projeto nasceu em Rio do Sul-SC, no Centro Universitário para o Desenvolvimento do Alto Vale do Itajaí (Unidavi), instituição onde a passo-fundense Marina Bernardes leciona Arquitetura e Urbanismo. “Muitas colegas Arquitetas e Urbanistas viram o projeto e propuseram a réplica em Passo Fundo”, contou Marina, coordenadora geral do Arquitetura Para Quem + Precisa.
O Instagram do projeto foi criado em abril para divulgar a ideia. “Logo foi comprada por muitas pessoas e também por outras arquitetas. Assim, fechamos um grupo de 16 mulheres, arquitetas ou estudantes de arquitetura”, relatou a coordenadora.
A intenção do “Arquitetura” é garantir uma casa saudável para famílias de baixa renda. “Uma moradia sem qualidade pode gerar uma série de doenças, por estar com falta de habitabilidade e aspectos sanitários e de higiene. Sendo assim, nosso objetivo principal é construir ou reformar banheiros, fossas, reformar telhados, pisos, abrir janelas, melhorar ventilação e iluminação de ambientes”, explicou a arquiteta.
O projeto é realizado em parceria com a Central Única das Favelas (CUFA) de Passo Fundo, que indica os moradores para as reformas a partir da campanha Mães da Favela, que já entregou 82 cartões de vale alimentação durante a pandemia. “É uma doação permanente, doações a gente entrega várias, mas essa fica para sempre para a família, protege a família toda”, ressalta o coordenador da CUFA Passo Fundo, Marcelo Godoy, sobre as reformas. A CUFA também teve apoio com a estrutura da sede da organização e em outras frentes. “Planejamos manter os projetos a partir de indicações da CUFA, pois além disso, executam parte importante na divulgação, arrecadação e auxílio com mão de obra. Mas também estamos abertas para receber pedidos, e analisaremos a partir do caráter emergencial de cada um”, explicou Marina.
O projeto é considerado de suma importância por Marcelo. “Isso é qualidade de vida e dignidade para uma pessoa, ter uma moradia, poder tomar um banho, poder dar um banho nas suas crianças, sem entrar escorpião, sem entrar aranha, sem entrar cobras”, destaca relatando a situação do banheiro da Dani.
As reformas são realizadas a partir de doações, tanto em dinheiro quanto de materiais de construção. “Estamos conseguindo fazer uma ótima arrecadação de materiais de obra, a partir de pessoas e empresas interessadas em ajudar”, conta a arquiteta. Já na primeira campanha, o projeto arrecadou mais de R$ 3 mil, além de materiais de acabamento, portas e equipamentos, entre outros.
A mão de obra também é voluntária, inclusive a especializada. “No primeiro dia de obra, postamos no instagram, e surgiram mais de quinze interessados em auxiliar”, conta Marina. A proposta do projeto é seguir “com uma mão de obra especializada conduzindo e voluntários auxiliando”.
Pandemia
Ao contrária do que se imagina, a pandemia não atrapalhou os planos do projeto. “A pandemia aflorou um sentido de solidariedade inesperado. Muitas pessoas tem enviado mensagens relatando como tem percebido, a partir do nosso projeto, que a questão do "lavar as mãos" é inviável para muitas famílias passo-fundenses”, conta Marina. Por isso, o projeto considera que a pandemia, na verdade, tem auxiliado o processo de engajamento social.
Mãos à obra
Enquanto o banheiro da Dani é reformado, o “Arquitetura” já tem outros dois projetos em andamento, assim como outros pedidos. A vaquinha online, inclusive, já está no ar. “Tudo com o intuito de poder adiantar um pouco mais a arrecadação que embora tenhamos muito auxílio, é uma etapa demorada”, explica Marina. O projeto pode ser contatado pelo instagram @arqpquemmaisprecisa_pf.
Em relação a uma meta para o ano, a coordenadora deixa claro o seu objetivo. “Acredito que a meta é ajudar o máximo de pessoas possível, garantindo o acesso à direitos humanos básicos relacionados à moradia, que podem colaborar para o enfrentamento da pandemia”, afirmou Marina.