Taxistas e motoristas de aplicativo enfrentam queda de 70 % nas corridas

Com a redução no movimento, profissionais do setor estão buscando outras fontes de renda

Por
· 4 min de leitura
Luciano Breitkreitz/ON Luciano Breitkreitz/ON
Luciano Breitkreitz/ON
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

A redução do número de pessoas em circulação pelas ruas de Passo Fundo, desde que a pandemia do novo coronavírus teve início, tem afetado de forma direta a renda de taxistas e motoristas de aplicativo. Com o comércio parcialmente fechado, bares e restaurantes operando apenas no formato de tele-entrega e as faculdades trabalhando com aulas online, o serviço de transporte de passageiros tem registrado quedas históricas. De acordo com o vice-presidente da Associação dos Taxistas de Passo Fundo, Jair Embarach, a categoria chegou a enfrentar uma queda de 90% na média de corridas diárias durante o mês de março.

O taxista, que antes costumava atender entre 18 e 20 clientes em um único dia, viu esse número cair de forma drástica. “As pessoas não têm para onde ir, só sai quem realmente precisa. No primeiro mês de pandemia, eu atendia uma ou duas corridas por dia. Agora, com algumas atividades voltando, essa média subiu para quatro corridas diárias. Mas tudo isso depende da troca de bandeiras, que acaba influenciando nesse movimento e, ainda assim, não é o suficiente. O que a gente ganha, hoje, dá só para pagar os gastos”. Ainda de acordo com Jair, o índice pouco animador fez com que muitos colegas precisassem procurar outra fonte de renda. “Se você depende da comissão do táxi, não consegue se manter”, explica.


Com mais de 20 anos de experiência, taxista pensa em desistir da profissão 

Os impactos relatados por Jair Embarach são também compartilhados pelos colegas de profissão. Sérgio Antônio Lemes dos Santos, de 54 anos, que trabalha como taxista há aproximadamente 20 anos, diz que a categoria já viveu momento muito melhores. Com a pandemia, e especialmente a classificação de bandeira vermelha em Passo Fundo, a quantidade de corridas que ele fazia diariamente caiu para mais da metade. “Em média, eu fazia 18 a 20 corridas por dia, mas agora o movimento chega ser 70% menor. Hoje, por exemplo, fiz apenas duas corridas”, explica. 

Para Sérgio, o trabalho como taxista está se tornando inviável. Ele revela que muitos profissionais, inclusive ele, estão pensando em desistir, pois além da concorrência dos aplicativos, que já trouxe uma queda no número de corridas, a pandemia impactou de forma direta este setor. Trabalhando com um táxi alugado, Sérgio conta que atualmente o perfil de corridas que faz é para clientes programados, em que há um atendimento periódico e de longa data. “Os taxistas que tinham uma clientela antiga, que conseguiram segurar, estão conseguindo se manter no mercado, mas quem começou há mais pouco tempo e ainda não teve tempo para formar uma grande clientela não está conseguindo se manter”.


Motoristas de aplicativo estimam redução de até 70%

A alternativa encontrada pelos taxistas tem sido apostar no uso de aplicativos de corrida voltadas à categoria, que oferecem descontos significativos para os usuários, na tentativa de atrair novos passageiros. No entanto, nem mesmo quem já era adepto a essa tecnologia, como os motoristas de aplicativo, é capaz de driblar a crise que segue o rastro do vírus. O passo-fundense Josué Enrich, que trabalha há dois anos em uma das empresas de mobilidade urbana em operação em Passo Fundo, calcula uma redução de 70%. “A minha rotina não mudou tanto porque eu não uso o aplicativo como fonte principal de renda, mas tenho colegas que viviam só das corridas e a situação está bem complicada. A maioria dos que trabalhavam com carro alugado devolveu o automóvel ou renegociou as taxas com a locadora”, conta.

Sócio operador de outra empresa do ramo, Leandro Peruzzo estima que entre os meses de março e julho deste ano, os motoristas enfrentaram um decréscimo de pelo menos 50% nas corridas clássicas finalizadas em Passo Fundo. Ele acredita que entre os fatores que levaram à baixa estão o fechamento do comércio, bares, restaurantes, boates e instituições de ensino, locais bastante frequentados por jovens, que constituem grande parte dos usuários de apps. “Também está relacionado aos grupos de risco, que precisam ficar em isolamento e ao fechamento de empresas com demissão de funcionários, que antes iam para o trabalho usando o serviço. Por outro lado, com as pessoas em casa, o setor de tele-entregas aumentou consideravelmente e a nossa empresa criou uma opção de delivery de carro para atender essa demanda”, explica.


Aumento do desemprego leva população a buscar novas alternativas de renda

Enquanto a pandemia levou o movimento de clientes a cair pela metade, Leandro observa que os reflexos no número de motoristas credenciados nos aplicativos de mobilidade urbana se deram de maneira oposta. “Não houve queda. Pelo contrário, houve um aumento de motoristas se cadastrando. Alguns por terem perdido emprego, outros por quererem empreender, encontrando a oportunidade no momento de crise, de ter seu próprio negócio e um lucro que depende de si próprio”, pondera.

Para aqueles que continuaram ou ingressaram na profissão, a rotina tem exigido maiores cuidados. Na empresa operada por Leandro, por exemplo, os motoristas são orientados a respeitar os protocolos de segurança definidos pela Prefeitura Municipal durante a atividade, como o uso obrigatório de máscara por parte dos motoristas e dos passageiros, o transporte de no máximo duas pessoas por veículo (e sempre no banco traseiro), a disponibilização de álcool gel 70% e a higienização dos automóveis após o fim de cada corrida. “Nós, além disso, implementamos o serviço Garupa Seguro, onde além de todos esses protocolos o veículo tem uma capa protetora que isola o motorista do passageiro, dividindo a parte da frente e a parte de trás do veículo, para que não haja nenhum contato e nem proximidade entre eles”, exemplifica.

Gostou? Compartilhe