O jovem paraguaio, Samuel Berestovoy Telöken, nem tinha atingido a maioridade quando decidiu que era hora de deixar a propriedade rural onde morava com a família em Colonia Capitán Miranda, próximo à tríplice fronteira do país cortada pelas delimitações dos territórios brasileiro e argentino, para partir em busca de qualificação e independência.
Há dois anos, ele fez as malas e com quase 500km de estrada deixados para trás, e percorridos em pouco mais de 4 horas, desembarcou em Passo Fundo para assinar a matrícula no curso de Agronomia da Universidade de Passo Fundo (UPF). “Desde pequeno fui apaixonado por tudo que envolve o agro. Meu pai sempre me levava com ele desde o início do plantio até a época da colheita”, relembrou à reportagem do jornal O Nacional.
Com essas memórias afetivas, e um gosto particular por pilotar a colheitadeira nas terras agricultáveis junto ao irmão, que também sustentam o crescimento de gado, o estudante de 19 anos conta que a estrutura de ensino ofertada na cidade pesou na hora da escolha em se mudar para o país e encarar a burocracia. “Não encontrei, no Paraguai, nenhum curso que me satisfazia. Encontrei, aqui [referindo-se a Passo Fundo], uma excelente oportunidade”, avaliou.
O caminho percorrido por Samuel foi o mesmo escolhido por outro jovem acadêmico vindo, porém, de mais perto. De Não-Me-Toque, cidade que abriga anualmente uma das maiores feiras do agronegócio nacional, o igualmente filho de agricultores, Ígor Heller, já fala com uma maturidade de alguém prestes a ser diplomado na área. Com oito semestres cumpridos, dos 10 exigidos pelo curso de ensino superior, a necessidade de aprendizado técnico na área impulsionou a vinda para o município onde compartilha, com o paraguaio Samuel e os demais colegas, não apenas os coturnos pesados e jaquetas pretas características da carreira, como também o amor pelos cultivos de solo. “A gente enxerga que o agro move Passo Fundo. Todas as empresas que são referência no agro estão aqui ou nos arredores", ponderou Heller. “Depois que tu entras na Agronomia, o entendimento se torna muito mais evidente para saber o que é o melhor a ser aplicado. É claro, conhecendo de uma forma mais aprofundada e transmitindo esses ensinamentos para os meus pais também”, ressaltou.
Êxodo intelectual
A saída destes jovens estudantes da casa dos pais, para o coordenador do curso de Agronomia da UPF, Vilson Klein, pode ser justificada pela evolução nos processos do campo e a introdução de tecnologias avançadas para o manejo de cultivos. “Essa transformação foi da água para o vinho. O que eu ensinava há 30 anos, agora não faz mais sentido. Não se falava de plantio direto, transgenia, proteção de planta. É de uma evolução impressionante”, afirmou.
“O que eu ensinava há 30 anos, agora não faz mais sentido. É uma evolução impressionante”
Essa aceleração do campo, mencionada por Klein, tem reflexo direto no próprio currículo do curso, reconhecido nos dois últimos anos como o melhor no ensino de Agronomia entre as universidades privadas gaúchas pelo Ranking Universitário da Folha, que deve ser reformulado para estar em vigor em março de 2020, quando o curso completa 60 anos. “Não podemos entrar em modismos. A abundância de informação que existe me preocupa muito porque, teoricamente, não é necessário fazer Agronomia porque tem tudo na internet. Mas, não é bem assim. Trabalhamos muito a parte crítica deles”, advertiu o coordenador. “Não ter capacidade crítica pode causar consequências. É preciso saber filtrar o que é eficaz ou não. O curso é reconhecido na área de pesquisa em grãos, que é o que move este país”, ressaltou Klein. “Também há a difusão do que é gerado. Esse suporte para toda a comunidade local é fundamental para o desenvolvimento do agro”, frisou.