OPINIÃO

Descendo a rua da ladeira

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Assisti ao filme de 2018 sobre Wilson Simonal, o grande show-man dos anos 60 no Brasil. A cena marcante é a última em que canta em um teatro vazio (sua ilusão entra em campo, num estádio vazio...uma torcida de sonhos aplaude-o talvez...) copiada do filme de Claude Lelouch, Retratos da Vida, filme que mostra um maestro militar alemão que, num pós-guerra vai fazer uma exibição em New York; comentam que todos os ingressos estavam vendidos e ao abrir as cortinas o teatro estava vazio à exceção de empresários judeus que fizeram chover fotos sobre o palco, fotos que mostravam o maestro com o uniforme suástico alemão.

Há pouco tempo os negros que faziam sucesso no país eram ligados à arte ou esporte (Pelé, Simonal, Jair Rodrigues, Grande Otelo, maestro Erlon Chaves); há pouco Simonal era uma excrecência na nossa sociedade, sociedade brasileira que foi a última a abolir a escravidão e ao estabelecer a liberdade jogou uma multidão à marginalia e aí ao subemprego e favelizações.

Simonal era bonito, tinha classe, empatia, sucesso absoluto, figura carimbada no grande programa de Flavio Cavalcanti da TV Tupi; além dele brilhava Erlon Chaves, maestro e namorado da estonteante Vera Fisher. Negros demais, sucessos demais para a sociedade.

Simonal, artista, entregou o comando de suas finanças a pessoas que subtraíram grana do cantor e querendo dar uma coça no meliante encomendou “tratamento” a pessoas que eram ligados ao DOPS. Pronto – Simonal alcaguete, Simonal vacilão e aí sua vida acabou. Não foram encontrados documentos que associassem Simonal ao DPOS, mas sua vida estava arruinada. O uísque foi seu último refúgio e internado recebeu a visita de Geraldo Vandré, quem diria.

Sá Marina encerra o filme sobre ele, de Leonardo Domingues. É música de Antonio Adolfo-Tiberio Gaspar, eles na crista da onda, autores de Teletema (Regininha) para a novela Véu de Noiva. Tibério havia perdido sua noiva em um acidente de trânsito numa curva qualquer e enlutado compôs...rumo, estradas, curvas, só despedidas...a gente entende e curte, sem julgar.


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