O calendário de retomada das aulas presenciais proposto pelo Governo do Estado, que autoriza o retorno gradual de escolas públicas e particulares em todo o Rio Grande do Sul a partir da próxima semana, não foi aceito pelos prefeitos da região de Passo Fundo. Reunidos através de videoconferência, na manhã dessa quinta-feira (3), os Municípios descartaram de forma unânime a possibilidade de que qualquer nível de ensino volte às atividades de forma presencial ainda no mês de setembro.
Os prefeitos entraram em consenso de que não há segurança, neste momento, para crianças e professores conviverem em sala de aula. Eles observaram, ainda, que a retomada envolve uma série de questões como merenda escolar e transporte dos alunos, que poderiam colocar em risco a saúde da comunidade escolar. A situação sanitária da região deverá ser reavaliada no início de outubro, para verificar a possibilidade ou não de retomada das aulas presenciais em todas as redes de ensino.
Conforme o plano apresentado pelo governador Eduardo Leite, na última terça-feira, o retorno do ensino começaria pela educação infantil, nas escolas municipais e particulares, a partir do dia 8 de setembro. Depois, seria a vez do ensino superior e médio, no dia 21 de setembro, seguido dos anos finais do ensino fundamental, a partir de 28 de outubro, e dos anos iniciais do ensino fundamental, em 12 de novembro. Para a rede estadual, por outro lado, as aulas só poderiam ser retomadas a partir de 13 de outubro.
O calendário – que é facultativo e, por isso, depende da adesão dos municípios – vale apenas para os municípios em bandeira laranja ou amarela há, pelo menos, duas semanas. No caso da região de Passo Fundo, que entrou na bandeira laranja há menos de sete dias, mesmo que os prefeitos tivessem optado por aderir ao retorno, as aulas só poderiam ser retomadas presencialmente no dia 15 de setembro, caso a região permanecesse classificada com a cor laranja por mais uma rodada.
Cronograma é visto como inviável
Para o secretário de Educação de Passo Fundo, Edemilson Brandão, o calendário proposto pelo governo estadual é inviável do ponto de vista logístico. Segundo ele, a data prevista para o retorno da educação infantil, que aconteceria na próxima terça-feira (8), não permite uma margem de tempo suficiente para que as escolas possam organizar o retorno das atividades. “É uma série de fatores que precisariam ser organizados. É preciso planejar, por exemplo, a chamada e escala dos professores – muitos educadores nem poderiam retornar porque são grupo de risco –, a organização do espaço para que haja distanciamento e a logística do transporte. É um processo complexo e demorado, que precisa de mais prazo”, justifica.
O secretário também considera que a cidade não vive uma situação epidemiológica confortável no momento. Conforme o boletim epidemiológico divulgado pelo Município, nessa quinta-feira, o número de casos de Covid-19 confirmados em Passo Fundo ultrapassava a marca de seis mil. Destes, 129 evoluíram para óbito. O município registrava, também, 139 pessoas internadas com o vírus nos hospitais da cidade. “O retorno, neste momento, apenas favorecia a disseminação do vírus. Não há em uma escola condições ideais para o controle de uma situação como essa. As crianças podem não ser as mais vulneráveis ao coronavírus, mas podem transmitir aos seus familiares. Então, mesmo que houvesse o retorno, por que iniciar com a educação infantil? É a natureza da criança, nessa fase, fazer a exploração do espaço, ter contato humano, socializar. Quais são as razões científicas para começar pela educação infantil, sabendo que as crianças são aquelas que não vão conseguir respeitar os protocolos de distanciamento controlado?”, questiona.
Outro ponto apontado por Edemilson como crucial para a decisão da região em não aderir ao calendário proposto por Eduardo Leite diz respeito a fatores gerenciais. De acordo com o secretário, nos últimos meses, o município vem investindo na migração para o ensino híbrido, com a aquisição de ferramentas como plataformas online e a capacitação dos professores. Um investimento que, nas palavras dele, “iria por água abaixo”. “Tudo isso influenciou para que nós tomássemos a nossa decisão. Não é uma decisão política, é uma decisão pela preservação de vidas”, defende o secretário.
Município realiza entrega de kits para a comunidade escolar
Para fortalecer o ensino híbrido, modalidade que mescla o ensino presencial e o online, desde a última semana, as escolas municipais de Passo Fundo começaram a distribuir kits de materiais didáticos aos alunos matriculados na rede. Os materiais, que devem ser usados para auxiliar os estudantes no desenvolvimento das atividades remotas, incluem itens como lápis, caneta, papel, borracha, livros e jogos lúdicos, além de uma orientação aos familiares sobre o uso das ferramentas e o desenvolvimento dos exercícios.
Conforme explica o secretário municipal de Educação, essa é uma alternativa encontrada pelo município como forma de manter o vínculo escolar especialmente com os alunos que não têm condições de acessar o ambiente online, onde as aulas têm sido desenvolvidas. “Desde junho, quando o município recebeu autorização para promover o ensino remoto, nós iniciamos a formação dos professores para o uso de ferramentas tecnológicas, a produção de materiais para a plataforma e o convencimento das famílias para que participassem de forma virtual. Mas, obviamente, nem todos os alunos têm acesso à internet, principalmente aqueles de baixa-renda e não podemos deixar que elas sejam excluídas do processo”, observa.
É por esse motivo que a rede municipal decidiu organizar a criação e entrega dos kits com materiais escolares para os alunos. A ideia é que os kits sejam planejados individualmente, de acordo com a necessidade de cada aluno conforme seu nível de ensino, e sirvam de complemento às atividades impressas. “Quem não tem recursos financeiros para acessar a internet, muitas vezes, também não tem condições de comprar os materiais didáticos. Então, com o kit educacional, ele pode desenvolver não só as atividades que estão sendo propostas, mas também realizar outras em família e obter mais aprendizagem, com um arsenal de ferramentas que no dia-a-dia ele não tem”, pontua o secretário. Os kits são montados pelos educandários, com recursos próprios e materiais que já haviam sido adquiridos para o uso nas dependências da escola, ainda no início do ano letivo, e que, agora, estão sendo disponibilizados para que as famílias levem para casa. As entregas acontecem em regime de plantão, nas terças e quintas-feiras.