Os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, divulgados neste mês pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), mostram que em Passo Fundo, quando considerada toda a rede pública de ensino, as metas projetadas para os níveis iniciais e finais do ensino fundamental não foram alcançadas. Apenas o ensino médio obteve os índices esperados para o ano.
Criado com o objetivo de avaliar a qualidade do ensino nas escolas públicas, o Ideb é medido a cada dois anos, com base em dados de fluxo escolar e o desempenho dos estudantes no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), que avalia a proficiência dos alunos em língua portuguesa e matemática. As metas vão de 0 a 10 e são traçadas de forma individual, de acordo com a realidade de cada escola, cidade e Estado. Em Passo Fundo, o último cálculo – realizado em 2019 e divulgado neste ano –, demonstra que, apesar do crescimento em parte das médias que agrupam toda a rede pública do município (escolas estaduais, municipais e federais), o valor não foi suficiente para atingir as metas traçadas para todas as etapas da educação básica.
Nos anos iniciais do ensino fundamental, por exemplo, o índice do município passou de 5,6 em 2017 para 5,7 em 2019, enquanto a meta era de 5,9. Nos anos finais, a meta não sofreu alteração e manteve-se no patamar de 4,3, abaixo da meta projetada de 5,4. Os números ficam abaixo, também, da média calculada na rede pública de todo o Rio Grande do Sul, com 5,8 pontos nos anos iniciais do ensino fundamental e 4,5 nos anos finais. Já o ensino médio de Passo Fundo, que no ano de 2017 havia atingido um índice de 3,6, neste ano cresceu para 4,0, superando a meta de 3,8.
Rede municipal
O valor é um pouco diferente quando consideradas apenas as escolas municipais de Passo Fundo. Neste cenário, os anos iniciais obtiveram uma pontuação de 5,8, que corresponde à meta traçada para a rede municipal e supera a meta nacional. É o sétimo Ideb consecutivo em que essa etapa de ensino atinge a meta projetada para o ano. A coordenadora do Núcleo de Ensino Fundamental da Secretaria Municipal de Educação, Angelita Vanessa Scottá, acredita que o resultado possa ser atribuído a ações de formação e qualificação do ensino executadas pelo Município. “Estamos trabalhando muito em rede. Entre as ações, está a formação dos professores, com o projeto Tecendo Processos, que acontece desde 2017 e é voltado à alfabetização”, explica.
De acordo com ela, o projeto foi construído levando em consideração quais eram “as fraquezas” da rede municipal nas etapas iniciais de ensino – até mesmo com base nos resultados de edições anteriores do Ideb –, a fim de qualificar os professores para desenvolver atividades mais lúdicas e dinâmicas, que estimulassem o raciocínio dos estudantes. O resultado, segundo ela, pode ser observado no crescimento consecutivo dos índices. “As escolas também têm se empenhado muito e trazido as experiências que dão certo para que a caminhada seja mais próxima”, complementa.
Por outro, as séries finais do ensino fundamental na rede municipal obtiveram apenas 4,5 pontos, contra uma meta projetada em 5,4. Para Angelita, o resultado pode não ser compatível com o objetivo, mas é um avanço em comparação com o índice de 4,3 registrado em 2017. Ela considera que parte da dificuldade está no fato de que, nos anos finais, os alunos não contam com o mesmo apoio familiar que recebiam quando eram menores e, por isso, podem não ter o mesmo engajamento. “Acho que ainda é uma caminhada e, com certeza, com essas crianças dos anos iniciais que estão vindo de uma caminhada diferente, os resultados serão melhores. Neste ano, também estamos trabalhando de uma forma mais integrada e interdisciplinar, que explora habilidades, e acredito que isso será fundamental para avançarmos ainda mais”, pondera.
Rede estadual
No cálculo que considera somente escolas estaduais do município, o resultado é similar ao registrado na média de toda a rede pública: apenas o ensino médio foi capaz de alcançar a meta esperada. Nesta etapa de ensino, o Ideb cresceu de 3,6 em 2017 para 4,0 em 2019, superando a meta de 3,8. Nos anos iniciais do ensino fundamental, a meta ficou em 5,7. O índice é maior que o de 2017 (5,6), mas inferior à meta de 5,9 pontos. O resultado ainda mais preocupante nos anos finais, que chegaram a demonstrar uma queda na pontuação, passando de 4,2 em 2017 para 4,1 em 2019. Nesta etapa, a meta prospectada era de 5,4.
Segundo a coordenadora da 7ª Coordenadoria Regional de Educação (7ª CRE), Carine Weber, embora o último Ideb tenha demonstrado um crescimento substancial no desempenho da rede estadual da região em todos os níveis avaliados, a pasta ainda percebe um grande desafio em relação aos alunos dos anos finais do ensino fundamental. “Nós temos bons números no que se refere à proficiência em português e matemática, que são as áreas avaliadas pelo Saeb, mas a nota do Ideb não é calculada apenas pela proficiência. Existe uma formula que considera os fluxos escolares (a questão da reprovação e da evasão escolar) e, nesse ponto, temos dificuldade”, comenta.
Ainda de acordo com ela, enquanto nos anos iniciais os índices de reprovação e de abandono são menores, nos anos finais esses números aumentam. “Isso faz com que as nossas notas do Ideb fiquem um pouco aquém das metas esperadas nesses níveis de ensino. A nossa intenção agora, a partir do ranking publicado, é fazer um estudo bastante comprometido junto às escolas para que a gente pense tanto na qualificação das áreas específicas, quanto na questão dos fluxos. Precisamos entender por que nossos alunos estão abandonando as escolas, por que ainda estão acontecendo as reprovações e em que medida a gente pode trabalhar para que os alunos não só se matriculem, mas permaneçam, e permaneçam com qualidade, nas escolas”, avalia.