É sentada em tijolos e pneus, cercada por montes de terra e crianças correndo de um lado ao outro, que a estudante de Psicologia da IMED, Alana Urio, inicia mais um processo de escuta dos seus pacientes. Longe da privacidade de um consultório, todo o conhecimento que ela adquiriu ao longo dos últimos anos é aplicado para avaliar a relação entre os moradores da Ocupação Morada do Sol e o modo como habitam a área em casas precárias que, aos poucos, vão sendo reformadas pelo projeto “Arquitetura para os que mais precisam”.
Essas intervenções arquitetônicas, segundo explicou, também desencadeiam uma série de alterações nos aspectos comportamentais, cognitivos e mentais dos moradores assentados. “A Psicologia, assim como outras áreas, não chega às pessoas mais vulneráveis. Mesmo tendo acesso pelo sistema público de saúde, ela não é flexível e poucos profissionais atentam para esses espaços que muito precisam, mas poucos têm acesso”, observou.
Centrada em três eixos de intervenção, a acadêmica acompanha as famílias durante todo o processo de reconstrução do lar para avaliar o quanto as melhorias na estrutura física da casa impacta no psicológico de quem nela reside. “O atendimento é um pouquinho difícil porque não há um espaço adequado. É muito estímulo para cuidar ao mesmo tempo e tudo é muito importante”, afirmou. Iniciado no último mês sob um sol forte, o primeiro acolhimento está focalizado em uma mulher e nos seus quatro filhos, conforme contou Alana. “Muito se pensou sobre esse assunto durante a pandemia, sobretudo quando estávamos em um isolamento mais intensivo porque, enquanto algumas pessoas têm casa com piscinas e salas de jogos, as famílias das ocupações vivem em muitas pessoas para poucos metros quadrados sem nenhum tipo de entretenimento”, observou. “São contextos totalmente diferentes e a pandemia só reforçou o abismo que há entre as pessoas. Por isso, a Psicologia dá o poder de visibilidade e temos como trabalhar a habilidade e a autoestima para contribuir com uma vida melhor e com mais conforto”, ressaltou.
Além dos aspectos mentais, a intervenção psicológica trabalhada de forma simultânea à construção das paredes e otimização dos pequenos espaços possui uma dimensão social, como observou a estudante. “O ambiente físico é um grande estímulo que nós temos, seja ele uma sala de trabalho ou a própria casa. Ele representa muito o que somos e o que desejamos. Então, em um ambiente onde chove e vivem 4 ou 5 pessoas, como essa família vai se representar?”, questionou Alana. “As crianças demonstram uma personalidade no seu quarto e nas cores que utilizam para pintar. Nas ocupações, elas não têm essa privacidade e isso atinge muito as questões psicológicas e é algo a ser trabalho”, mencionou.