Paciente com sangue raro descobre que único doador compatível no país é o irmão gêmeo

Homem foi diagnosticado com Doença Falciforme e precisou de uma transfusão sanguínea

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Foto: Assessoria de Comunicação HSVPFoto: Assessoria de Comunicação HSVP
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E se você precisasse de uma transfusão de sangue e tivesse apenas um doador no país compatível com seu tipo sanguíneo? Essa é a realidade do Leandro Oliveira dos Santos, de Lajeado do Bugre, que descobriu há pouco mais de dois anos que seu sangue é raro. A sorte de Leandro é que seu único doador é o irmão gêmeo, Leonardo. Que através do gesto da doação e sangue pode auxiliar o irmão e permitir que ele tenha uma vida com mais saúde. “Não tenho explicação e palavras para agradecer meu irmão. Nossa, só ele ter o sangue compatível e poder doar para mim é algo sem palavras. Uma ligação única”, comenta Leandro. “Fico muito feliz em saber que posso ajudar ele. Fizemos os exames, descobri que podia doar e sempre que precisar vou estar disponível para doar sangue para ele”, enfatiza o irmão Leonardo.  

Leandro foi diagnosticado com Doença Falciforme e conta que há quase três anos se sentiu mal e precisou de uma transfusão sanguínea, foi quando teve uma reação ao procedimento e precisou ser encaminhado para o Serviço de Hemoterapia do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) de Passo Fundo, para investigar o porquê da reação. “Há dois anos quando Leandro internou no HSVP, apresentou suspeita de alo-anticorpo, sem identificação de bolsa de sangue compatível. Devido aos resultados dos testes e suspeita de sangue raro, amostras de sangue foram encaminhadas primeiramente para o HEMOSC, após para o HEMORIO e devido à alta complexidade do caso, por fim, foi e o diagnóstico do caso foi feito pela UNICAMP. Identificou-se um anticorpo anti-Cromo 2, sendo o primeiro caso descrito no Brasil. Na mesma ocasião foi realizado estudo familiar sendo identificado o seu único doador no Brasil, seu irmão gêmeo bivitelino”, explica a Hemoterapeuta e Hematologista responsável pelo Serviço de Hemoterapia do HSVP, Cristiane Rodrigues do Araújo. 

Normalmente, o sangue raro é identificado durante solicitações de transfusões sanguíneas onde os testes pré-transfusionais são alterados com presença de alo-anticorpos e não tem sangue compatível. Ainda, conforme Cristiane pode ser mediante estudo familiar de casos de indivíduos já com diagnóstico de sangue raro ou durante doações de sangue, onde é realizado o estudo da fenotipagem eritrocitário (antígeno eritrocitário) do indivíduo. “O antígeno da alta frequência é percebido quando mais do que 99% da população é positiva para um determinado antígeno. O conceito de sangue raro é subdivido em duas formas: indivíduos que apresentam ausência de antígenos de alta frequência – caso um paciente apresente esse fenótipo e já esteja aloimunizado, está sujeito ao risco de não encontrar doador de sangue compatível. Pode ser encontrado doador na razão de 1 para 1000 doadores ou menos. Ainda, indivíduos que apresentam combinação de múltiplos antígenos comuns negativos para os principais antígenos dos Sistemas de Grupos sanguíneos”, esclarece a especialista, pontuando que a definição de sangue raro pode ser distinta entre populações. 

No Brasil, a prevalência de antígenos e fenótipos de grupos sanguíneos varia significativamente. Nossa população multiétnica deriva de europeus, africanos e indígenas. Cada região do país tem predominância de uma dessas populações e, portanto, tipos específicos de grupos sanguíneos podem surgir em algumas regiões. “No Serviço de Hemoterapia do HSVP, desde sua inauguração em 2011 até os dias de hoje, identificamos mediante programa de fenotipagem eritrocitária de doadores e pacientes, vários casos de sangue raros. Durante este período já foram descobertos mais de 17 pacientes e 33 doadores de sangue com fenótipos raros. Atualmente, disponibilizamos de atendimento ambulatorial médico específico para entrega de cartilha informativa e carteira de sangue raro para os nossos pacientes, familiares e doadores com sangue raro identificados na instituição”. 

Campanha informa sobre Sangue Raro

Em 2020, o Serviço de Hemoterapia lançou a campanha permanente “Quando não existe doador, todo sangue é raro”, que visa alertar sobre os diferentes tipos de sangue e também da importância da doação, já que quando não há doadores, todo sangue pode vir a faltar. Cristiane enaltece a relevância de divulgar sobre o sangue raro na comunidade passo-fundense e região, para que as pessoas saibam da existência desse tipo de sangue e que “esse doador com sangue raro pode ser, no futuro, o paciente com sangue raro”. 

Como aborda a campanha, todo doador é fundamental, pois sempre há quem precisa de sangue. Por isso, Leandro reforça a importância deste gesto. “Quem pode tem que doar. O sangue pode não ser compatível com meu, mas sempre tem alguém esperando por um doador. Doar sangue é doar vida”, relata o paciente. 

O que é Doença Falciforme?

Cristiane descreve que a doença falciforme é um hemoglobinopatia que teve origem na África. Com a grande miscigenação que ocorre no Brasil, hoje a doença vem sendo observada também em indivíduos pardos e brancos. Isso faz com que a doença falciforme seja a enfermidade hereditária mais comum do Brasil. “É uma doença sanguínea hereditária que acontece por conta de uma mutação dos glóbulos vermelhos do sangue. No período de crise, as hemácias modificam o seu formato, as células da membrana são alteradas e sua forma torna-se parecida com uma foice – daí o nome falciforme. Estes glóbulos rompem-se mais facilmente e causam a anemia”, destaca a Hemoterapeuta, salientando que é uma doença com quadro clínico variável, na forma grave infelizmente, não tem cura e que pode trazer implicações sérias e até mesmo levar a morte caso não tenha assistência adequada. 

O tratamento da Doença Falciforme consiste no manuseio das crises e é baseado no local de desconforto e deve ser guiado por escalas analógicas de dor. Analgésicos orais podem ser suficientes para crises menores, enquanto opióides endovenosos podem ser empregados no controle da dor intensa. O suporte transfusional também é importante nesta patologia, por isso a importância do irmão de Leandro. “Os pacientes são encaminhados pelo médico assistente ao Serviço de Hemoterapia HSVP onde passam por uma avaliação com o Hematologista/Hemoterapeuta, ao qual avalia a conduta a ser tomada, se será troca ou transfusão, baseado nos resultados dos exames laboratoriais como hemoglobina e hematócrito. Para ambos os procedimentos de troca (exsanguineo transfusão parcial) ou transfusão são utilizados concentrados de hemácias com fenotipagem estendida, evitando-se assim uma aloimunização”. 

O teste do pezinho, realizado antes do bebê receber alta da maternidade, proporciona a detecção precoce de hemoglobinopatias, como a Doença Falciforme. 

 


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