Quando a produção do trigo beneficia a universidade e a comunidade

Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária da UPF é destaque no plantio e na colheita do trigo por meio do trabalho realizado e de parcerias com empresas do setor

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Cepagro atua no plantio e na colheita do trigo (Foto: Divulgação)Cepagro atua no plantio e na colheita do trigo (Foto: Divulgação)
Cepagro atua no plantio e na colheita do trigo (Foto: Divulgação)
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A região Sul do Brasil e o Rio Grande do Sul podem ser considerados bastante ativos no que se refere à produção do trigo. Segundo boletins da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o Sul contribui com 95% da área de trigo do país, de 2 milhões de hectares (ha) em 2019, com uma produtividade média de 2,9 mil kg/ha de grão. Já o estado, com 899 mil hectares, é o segundo colocado no Brasil, atrás apenas do Paraná, com 980 mil hectares.

Atenta a relevância do setor para o desenvolvimento econômico, a Universidade de Passo Fundo (UPF) também atua no segmento do trigo por meio do trabalho realizado no Centro de Extensão e Pesquisa Agropecuária (Cepagro), vinculado à Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária (FAMV). De acordo com a professora pesquisadora Dra. Nadia Canali Lângaro, a pesquisa nas áreas de ciências agrárias iniciou na Unidade Acadêmica há mais de 40 anos, com reconhecimento nacional e em revistas internacionais.

“Nos últimos anos, para aumento do investimento em pesquisa na FAMV, foram intensificadas parcerias entre a Fundação Universidade de Passo Fundo (FUPF) e empresas do agronegócio. São empresas de serviços, obtentoras de novas cultivares, de máquinas/equipamentos agrícolas, e desenvolvedoras/fornecedoras de insumos, dentre elas a Diplan Soluções Agrícolas, Razera Agrícola, Basf, Syngenta e Ambev”, destaca a docente.

E é com base nessa atuação conjunta que, desde 2019, operações do plantio à colheita no Cepagro e no Campo Experimental da FAMV contam com o suporte de tratores, colheitadeira e pulverizador autopropelido de última geração, além de insumos para a pesquisa, como produtos químicos e biológicos, fertilizantes e sementes. “Preconiza-se a formação de um ambiente de cooperação entre os parceiros, sustentável, com infraestrutura para inovação e reflexos no desenvolvimento de recursos humanos e benefícios para todos”, comenta Nádia.


Atividades auxiliam a formação dos acadêmicos

Na região, a época preferencial de plantio de trigo para produção de grãos inicia em 1º de junho e se estende até 20 de julho. Por sua vez, a colheita ocorre entre os meses de setembro e novembro. Conforme Nádia, o trigo colhido na área de campo da UPF é comercializado para indústria em empresas da região. “Assim como o grão das demais culturas de inverno e de verão excedentes da pesquisa. É uma forma de sustentar economicamente as atividades de campo”, complementa.

Produzindo pesquisas há mais de quatro décadas, a FAMV, bem como o Cepagro, envolvem os acadêmicos nas atividades realizadas. “Neste segundo semestre, estamos retornando às aulas práticas, que haviam sido suspensas no período de distanciamento social por causa da Covid-19, nos laboratórios e em campo, e já podemos perceber a adesão quase total dos alunos. Áreas de conhecimento, como as dos cursos de Agronomia, de Medicina Veterinária, de Ciências Biológicas, de Engenharia de Alimentos, e afins, exigem uma vivência prática para seu entendimento pleno”, enfatiza Nádia.

As diversas possibilidades de pesquisa para os estudantes acabam, de certa forma, contribuindo com as suas formações. “Além de atividades práticas, os estudantes de graduação e de pós-graduação (mestrado e doutorado) podem optar por realizar estudos em diferentes áreas, de fertilidade, fitopatologia, matologia, fisiologia, entomologia, fruticultura, olericultura e de produção de sementes, sempre com a supervisão de professores orientadores, na sua maioria doutores, o que amplia sua visão para a vida profissional futura”, conta a professora pesquisadora.


Importância e situação da cultura do trigo

Mesmo com destaque na produção do trigo, com relação à safra de 2018, houve uma retração em 2019, o que causou impactos à economia do estado. Nádia relata que problemas estruturais e a escassez de recursos para o produtor e condições ambientais limitantes – pois é uma indústria a céu aberto -, fizeram com que a produção brasileira de trigo do ano passado, de 6.814 mil toneladas, não tenha sido suficiente para a demanda de consumo interno. “Assim, o país continua importando o grão de outros países, como a Argentina e o Canadá, com perda de divisas”, disse.

Segundo a Conab, em 2020, as regiões tritícolas do RS, concentradas no nordeste, noroeste e sudoeste do estado, tiveram boas condições hídricas para seu desenvolvimento, mesmo com certo atraso no plantio. “Na maior parte das regiões, houve restrição baixa a média, causada por geadas ou temperaturas baixas, principalmente no mês de agosto, quando o trigo estava próximo da floração”, pontua Nádia.

Ainda no estado, o cultivo de culturas graníferas temporárias no inverno, como o trigo, aveia e cevada, está muito aquém do destinado a culturas de verão, fazendo com que muitas áreas acabem ociosas e sejam perdidas oportunidades de agregar mais renda para o produtor. “Urge então que o produtor encare as culturas como partes de um sistema maior, de rotação e sucessão de espécies de plantas, para o aumento de produtividade com sustentabilidade ambiental e econômica das propriedades. A recuperação recente do valor de comodities, como a soja e o trigo, são oportunidades de mercado que o produtor não pode desperdiçar”, afirma Nádia.

Conforme a professora, neste contexto, os professores pesquisadores da FAMV focam ainda mais em pesquisas na busca de soluções para agricultura, com reflexos evidentes no desenvolvimento da comunidade regional e grande potencial catalisador para a formação de recursos humanos de excelência para o setor agrícola.

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