450 gramas, 28 cm e 25 semanas de gestação. Foi com esse tamanho que Luize Vitória de Lima Ferreira veio ao mundo no dia 2 de julho de 2020. Em meio a um turbilhão de incertezas em função da Covid-19 que assolava o mundo, Luize que não sabe o que se passa por aqui, precisou ser forte e lutar para sobreviver. Prematura extrema, batalhou dia a dia. Hoje com 3,235 kg, ela faz jus ao nome que carrega, Vitória, pois está aprendendo a mamar e logo terá alta hospitalar.
Joseane Melo de Lima, 30 anos, de São Borja, conta que a gravidez estava indo bem, mas em função de uma Erisipela, sua pressão começou a subir e foi necessário buscar atendimento médico. Com a pressão muito alta, Luize entrou em sofrimento fetal e Joseane foi colocada na lista da Central de Leitos do estado, para ser encaminhada a um Hospital com CTI Neonatal. Foi então, que ela veio para o Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) em Passo Fundo e no dia 02 de julho, Luize nasceu. “Fiquei com medo, pois já perdi outros três filhos. Luize era muito pequena e poderia não resistir. Graças a Deus, com o passar dos dias, ela foi melhorando e evoluindo”, relata a mãe, que enfrentou a distância e a Covid-19, enquanto Luize também lutava na UTI Neonatal. “Fiquei quatro dias internada depois do parto e a acompanhava todos os dias, mas depois, como não tinha como ficar em Passo Fundo, precisei voltar para São Borja e vinha vê-la uma vez na semana, ou quando conseguia transporte. Depois, quando ela tinha um mês, fui diagnosticada com Covid-19 e precisei ficar um mês e meio sem visitar ela, para a segurança dela também”, conta a mãe, que acompanhou por telefone, o dia a dia da filha. “Todos os dias eu ligava e a doutora me passava como ela estava, todos os detalhes e isso foi fundamental para eu aguentar a distância. Quando tive Covid-19 ela teve várias intercorrências e eu não podia estar com ela. Graças a Deus sabia que ela estava nas mãos de uma equipe maravilhosa que fez tudo por ela”.
Agora Luize está aprendendo a mamar no peito e a mãe conseguiu um lugar para ficar em Passo Fundo, e viver esse momento com a filha. “Não tinha como vir uma vez na semana, ela nunca ia conseguir pegar o peito. Graças a Deus consegui um lugar para ficar e poder acompanhar ela”, relata Joseane, que tem outro filho, Guilherme de 14 anos, que também foi prematuro. “Por mais que conhecesse esse mundo, porque tive o Guilherme que também ficou na CTI, sempre tem o medo, a angústia. É um dia de cada vez, pequenas vitórias, tem dias que ela ganhava peso, outro que não passava bem. Por isso, digo que todas as mães que têm seus filhos na CTI precisam ser muito fortes e ter fé”.
Luize é um dos 385 bebês prematuros atendidos na CTI Neonatal do Hospital São Vicente de Paulo, até outubro de 2020. A instituição é referência na área materno infantil e recebe bebês de todas as regiões do estado. Com uma estrutura de alta complexidade, tecnologias que facilitam o cuidado e aumentam as taxas de sobrevida dos bebês, além de uma equipe de médicos, enfermeiros, fonoaudiólogos, psicólogos, técnicos de Enfermagem, fisioterapeutas e nutricionistas que trabalham de forma multidisciplinar, discutindo os casos e encontrando as melhores formas de cuidado e tratamento, a CTI Neonatal apresenta resultados muito positivos em relação ao número de internações, já que a taxa de alta hospitalar chega a 94%. O espaço conta com 20 leitos na CTI Neonatal, e outros oito leitos na unidade UCINCO, onde são realizados cuidados intermediários e o bebê está quase recebendo alta hospitalar. “Recebemos vários casos de prematuros extremos, com 24, 25 semanas de gestão e temos obtidos bons resultados. Se compararmos com uma gestação de 40 semanas percebemos que é bastante diferença, esses bebês se desenvolvem dentro da incubadora e ficam mais suscetíveis ao manejo, as infecções, por isso o cuidado é minucioso”, destaca a enfermeira do CTI Neonatal Alessandra Silva.
A pediatra, neonatologista e coordenadora do CTI Neonatal do HSVP, Jaqueline Cabeda, complementa, pontuando que o bebê se desenvolve dia a dia, na incubadora. “Costumo dizer que recebemos um bebê com o cérebro lisinho e que vai desenvolvendo semana a semana, sendo nós responsáveis por isso. A dor, barulho, estresse, ventilação, tudo isso vai interferir no seu desenvolvimento, por isso tentamos ser menos agressivos e invasivos possíveis, para ter menos impacto na vida desse bebê”, pontua a especialista, exemplificando que há um cuidado com o silêncio na UTI, que todos os procedimentos são feitos com analgesia e são agregados para manusear o bebê menos vezes, tudo pensando na qualidade de vida das crianças, após a alta.
Sobre a taxa de alta hospitalar, principalmente de prematuros extremos, Jaqueline enaltece o trabalho multiprofissional, aliado a qualificação e evolução constante de protocolos. “Estamos sempre atualizando e fazendo melhorias nos protocolos, buscando qualificar os profissionais e fazendo um cuidado humanizado. Ainda, temos aliado a isso, a evolução da neonatologia também em tecnologias, como incubadoras umidificadas que preservam a pele dos bebês e evitam infecções, melhores respiradores entre outros”, destaca a médica. “As altas, os resultados positivos motivam e estimulam a equipe a sempre evoluir e buscar fazer o melhor para os pacientes”.
Cuidado com a família
Na CTI neonatal, além do cuidado com os bebês a equipe preocupa-se com a família. Jaqueline e Alessandra explicam que, de uma hora para outra, os pais entram no mundo da prematuridade, sendo bombardeados de informações e precisando assim, também de atenção, para enfrentarem o momento. “Sempre tentamos humanizar o cuidado, trazendo os pais para dentro da CTI, acompanhando a evolução da criança, nos colocando no lugar dos pais e entendendo que, muitas vezes a gestação, tão aguardada e esperada sai dos planos previstos, o sonho daqueles pais está sob nosso cuidado”, evidencia Jaqueline. Alessandra também destaca que os pais são acompanhados pela psicóloga e que a equipe sempre busca passar as informações e orientações para tranquilizá-los e poderem dar suporte ao bebê em sua batalha pela vida. “Nós nos preocupamos com as mães, se estão dormindo se alimentando, pois precisam estar bem para produzir o leite, pensamos nos pais que muitas vezes ficam no trabalho e podem ver os filhos só a noite e também quando a família é de outra cidade procuramos saber onde estão hospedados e disponibilizamos as refeições para o acompanhante do bebê”.
Joseane reconhece esse empenho e trabalho da equipe. Ela, que precisou ficar longe da filha, agradece o carinho e esforço da equipe. “Não tenho palavras para agradecer a esses profissionais. Eles davam colo, carinho, faziam canguru, quando eu ligava, eles falavam tudo com detalhes, isso é cuidado. Eu não podia estar aqui, mas elas cuidavam como se fosse delas, ficava mais tranquila porque sabia que ela estava em boas mãos”.
Mudanças na rotina durante a pandemia
A pandemia da Covid-19 não impactou no número de atendimentos na CTI Neonatal, porém, como em todas as áreas, trouxe desafios para os profissionais. Jaqueline e Alessandra enfatizam que os cuidados de higiene e lavagem das mãos, já essenciais na área, foram intensificados, além de uso de EPI’s e de treinamentos realizados com as equipes. Os pais também foram orientados, as visitas diminuídas e a não visita ao bebê em caso de qualquer sintoma foi preconizada.
Prematuridade
Os bebês prematuros podem ser classificados de acordo com a idade gestacional ao nascer, sendo o prematuro limítrofe aquele nascido entre 37 e 38 semanas, moderado nascido entre 31 e 36 semanas e prematuro extremo aquele nascido entre 24 e 30 semanas de idade gestacional. Quanto ao peso de nascimento, denomina-se os bebês com menos de 2kg como baixo peso, muito baixo peso os com menos de 1,5kg e extremo baixo peso aqueles com peso menor que 1kg. No Brasil, aproximadamente 10% dos bebês nascem antes do tempo, segundo dados do Ministério da Saúde.
O mês de Novembro faz um alerta para a prematuridade, já que, 1 em cada 10 bebês nasce prematuro. A cor usada para abordar o tema é o Roxo e o dia 17 de novembro, é mundialmente lembrado como Dia da Prematuridade. Em 2020, o slogan “Juntos pelos prematuros, cuidando do futuro, definido pela rede mundial de ONGs que lutam pela causa da prematuridade, alerta sobre a importância do cuidado que refletem na vida dessas crianças. Ainda, o Novembro Roxo visa, conscientizar a comunidade sobre o parto prematuro e suas consequências e garantir o melhor cuidado para os bebês e suas famílias.