Cultivo de morango é opção de renda

Pesquisador da UPF apresenta algumas características e explica como é possível ter mais rendimento na produção

Por
· 4 min de leitura
Fotos: José ChiomentoFotos: José Chiomento
Fotos: José Chiomento
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

O que é charmoso, nutritivo e ainda pode gerar emprego e renda? A resposta é: o morango. Consumidos in natura e de forma industrializada, como nas geleias, bebidas e até cosméticos, os morangos são frutos muito apreciados. Com valores nutricionais e propriedades bioativas benéficas, eles são anti-inflamatórios, atuam na cardioproteção e neuroproteção e na melhoria da visão. Mas, para além disso, os morangos podem ser uma fonte de renda e de geração de emprego, a partir de uma produção adequada. Pesquisador da UPF e especialista na área, o professor José Luís Trevizan Chiomento, apresenta algumas características e explica como é possível ter mais rendimento na produção.

Os morangos que encontramos em mercados são produzidos pela planta conhecida como morangueiro, que gera esses frutos apreciados pelo seu aroma, cor e sabor característicos. O professor explica que os valores nutricionais e as propriedades benéficas de compostos bioativos do morango fazem dele um fruto bastante consumido.

Segundo Chiomento, essas substâncias bioativas reduzem o estresse oxidativo e neutralizam a superprodução de espécies reativas de oxigênio, que estão relacionadas à ocorrência de várias doenças. “A ingestão de morangos ricos em fitoquímicos promove cardioproteção, neuroproteção, melhoria da visão, efeitos anti-inflamatórios, proteção contra o câncer e aumenta as propriedades antidiabéticas e antiobesidade. Esses efeitos saudáveis têm sido relacionados à atividade antioxidante de compostos fenólicos, principalmente elagitaninos e antocianinas”, pontua.


Pesquisar para compreender e melhorar os processos

O trabalho desenvolvido pelo professor José, juntamente com o bolsista de iniciação científica (Pibic/UPF), Thomas dos Santos Trentin e a estagiária, Alana Grando Dornelles, aponta que a qualidade fitoquímica de morangos ainda é negligenciada, principalmente pelos produtores. Ao mesmo tempo, eles observam que a demanda dos consumidores por alimentos de qualidade está aumentando e se tornará a força motriz no futuro.

A equipe destaca que, levando em consideração as modificações nos hábitos alimentarem das pessoas, que optam, cada vez mais, pela aquisição de alimentos com atividades promotoras à saúde, os moranguicultores devem ficar atentos às novas demandas. “Além de optar pelas cultivares mais produtivas, é importante eleger materiais que produzam frutos com maior qualidade fitoquímica para atender um mercado consumidor exigente. Por isso, nossas pesquisas também visam quantificar a atividade antioxidante e os teores totais de antocianinas, flavonoides e polifenóis em morangos, pois esses compostos bioativos apresentam ação anti-inflamatória, atividades anti-hipertensivas e anticancerígenas”, ressalta Chiomento.

A pesquisa também atua buscando alternativas que contemplem a sustentabilidade ambiental e a agricultura de base agroecológica, com menores impactos aos agroecossistemas de cultivo. Chiomento destaca que, nos últimos sete anos, o grupo trabalha com a inserção de biotecnologias no cultivo do morangueiro, a exemplo dos fungos micorrízicos arbusculares (FMA) e, mais recentemente, do biocarvão. “Essas ferramentas permitiram reduzir o uso de fertilizantes fosfatados durante o ciclo produtivo do morangueiro sem comprometer a produção de frutos; melhorar o desenvolvimento do sistema radicial das plantas e potencializar a qualidade fitoquímica de morangos”, menciona.


Possibilidades de mudanças para atender a demanda

José Chiomento pondera que a pouca produtividade ocorre, principalmente, pelo sistema de cultivo adotado pelos moranguicultores. Ele justifica pontuando que o cultivo do morangueiro tradicionalmente ocorre no solo, a céu aberto e que esse sistema gera inconvenientes, a exemplo da maior suscetibilidade das plantas ao ataque de pragas e doenças, à disponibilidade inadequada de água e nutrientes que as plantas necessitam e também por demandar maior mão-de-obra, que na maioria das vezes não é suprida. “Também sabemos que os produtores trabalham repetidamente com as mesmas cultivares de morangueiro. Esses materiais podem apresentar menor potencial produtivo e qualitativo em relação às novas cultivares, as quais ainda são subutilizadas por falta de informações do potencial hortícola dessas cultivares na nossa região”, salienta o pesquisador.

Para auxiliar nessa mudança, a pesquisa é necessária e parte do processo. Por isso, além de estudar o estabelecimento de manejos adequados no cultivo protegido (em estufas), o grupo incentiva a migração do cultivo tradicional no solo para o cultivo em substrato.

O docente lembra que, por meio de uma parceria com a empresa Bioagro Comercial Agropecuária Ltda., é feito um trabalhando com mudas de várias cultivares de morangueiro importadas da Patagônia Chilena. Ele conta que as respostas obtidas possibilitam disponibilizar um portfólio de cultivares aos produtores, que poderá ser usado para estabelecer lavouras comerciais de morangueiro.

O trabalho, que já identificou as cultivares mais produtivas na UPF, ainda não foi disponibilizado aos produtores formalmente. “Pretendemos reunir mais informações sobre diferentes substratos e sua interação com distintos recipientes e cultivares para elaborarmos um portfólio mais informativo e robusto. Contudo, repassamos os resultados de nossas pesquisas para profissionais que atuam na Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural (Emater) Regional de Passo Fundo, os quais disseminam as informações aos produtores que buscam pela empresa”, frisa.


Pesquisa ainda em andamento

A pesquisa segue em desenvolvimento pelo professor e sua equipe. Além do que já foi apontado, eles buscam, como próximos passos, compreender como é a dinâmica entre planta-substrato-recipiente para poder estabelecer manejos para melhorar a cadeia produtiva do morangueiro em nossa região; além de investigar o desempenho de cultivares de morangueiro no cultivo em substrato para fornecer aos produtores um portfólio de cultivares com potencial de inserção nesse sistema de cultivo.

O grupo ainda pretende avaliar a associação entre épocas e intensidades de podas de cultivares que são mantidas por mais de um ciclo produtivo; estudar diferentes densidades de plantio de cultivares de morangueiro visando otimizar o ambiente de cultivo, sem prejudicar a produção e a qualidade de frutos e inserir a biotecnologia micorrízica em mudas de raiz nua que serão cultivadas em substratos, visando o estabelecimento de manejos para potencializar a ação desses microrganismos. “Vamos também testar diferentes proporções de biocarvão, associado ou não às micorrizas, em relação ao crescimento e desenvolvimento de cultivares, bem como verificar a eficácia da biotecnologia micorrízica como biofungicida durante o cultivo do morangueiro em substrato e estufa para reduzir o uso de agrotóxicos nesse sistema de cultivo”, conceitua, ressaltando que o objetivo é também atender outras demandas de produtores regionais e de outras localidades para expandir e qualificar o cultivo do morangueiro no sul do Brasil.


Gostou? Compartilhe