“A soma do comportamento das pessoas e o quadro epidemiológico atual estão nos levando ao precipício” alerta o médico, ex-secretário de Saúde municipal e coordenador do curso de Medicina da IMED, Luiz Artur Rosa Filho em uma postagem no Facebook. A previsão, com base nos dados atuais, é que Passo Fundo chegue a mil casos ativos. Levando em conta a letalidade média aparente no Brasil de 2,5%, o professor prevê que a cada mil casos ativos, a cidade terá 25 mortes. “Com mil casos ativos estamos nos referindo a cerca de 50 óbitos por mês. Como a doença dura cerca de 14 dias, em um mês temos duas ‘safras de doentes”, explica o médico, que também é mestre em epidemiologia. O momento atual, segundo ele, é com certeza o mais grave da pandemia na cidade.
Ao avaliar os motivos que colocaram Passo Fundo nessa situação, o especialista é enfático: “Estamos hoje em Passo Fundo vivendo na absoluta normalidade. Precisamos reduzir a circulação de pessoas”.
Soluções
Em seu texto, o professor aponta duas soluções para o problema: vacina em 45 dias ou lockdown. “Eu acho que é bastante polêmico. O lockdown tem uma determinada época da doença para ser feito, o que já passou. Há várias maneiras de executar o lockdown, talvez inicialmente no sábado e domingo, talvez uma semana ou Natal e Ano novo. O fato é que agora estamos subindo o morro de novo e, se não fizermos nada, vamos atingir o topo e não vamos sair de lá”, explicou Luiz Artur em entrevista ao ON.
Passo Fundo fez um isolamento mais rígido no começo da pandemia. “Agora com quase mil casos ativos não vai fazer. Caminhamos realmente para a bandeira preta e aí vai ter que parar tudo. Talvez as autoridades estejam esperando isso”, analisa o especialista.
No entanto, a única solução concreta é a vacina. “O governo federal fala em vacinar no meio do ano”, lembra o professor. Desta maneira, em seis meses Passo Fundo teria 300 óbitos pela covid, caso a previsão de 50 mortes por mês se confirme. “A ideia não é procurar culpados, mas se estamos com essa piora e não fizermos nada, vamos ter 50 óbitos por mês”, destaca Luiz.
O anúncio de vacinação em janeiro em São Paulo é considerado uma grande notícia pelo professor, no entanto, a situação nacional o preocupa. “O ministério apostou todas as fichas na vacina de Oxford, que enfrenta problemas, então a alternativa é a CoronaVac”, explica. A vacina de origem chinesa é vista com preconceito por parte da população. “Quem acha que não funciona não precisa fazer, a imunidade coletiva vai ser atingida. Tem que gastar com as pessoas que queiram, quem não fizer vai se proteger em consequência”, analisa. Ele ainda destaca: “precisamos urgentemente da vacina. Se há alguma crítica é aquelas pessoas que não estão se agilizando para que a gente tenha a vacina”.
Situação hospitalar
“Mesmo que a curva de contágio comece a cair amanhã, os pacientes continuarão aumentando”, analisa Luiz Artur. As internações demoram mais para crescer e mais para diminuir, especialmente dos casos graves. Se Passo Fundo chegar a dois mil casos ativos, a situação se agrava ainda mais. “Com em torno de 5% de casos muito graves, 50 pessoas irão demandar UTI. E certamente usaremos toda a estrutura da região. É um fenômeno que agora não temos mais controle, o único controle é a vacina”, destaca o médico.
Restrições
Devido aos números atuais, o governo estadual aumentou as restrições. O professor afirma que já criticou o governo e os métodos, mas considera as restrições atuais adequadas. “Agora a situação está se agravando, eu não entendo que haja compreensão de todos a respeito do quadro atual”, afirma. A duplicação dos leitos realizada pelo governo também é considerada essencial.
Em relação às regras ainda mais rígidas, o professor Luiz Artur entende que a adoção depende do prazo para a vacina. “Só o governador e a gestão sabem em quanto tempo teremos a vacina. Se vamos vacinar logo não há porque mais fazer grandes restrições”, explica. No entanto, se houver demora, a situação deve piorar. “Se for nessa “pressa” para ter a vacina em julho, é importante que se preparem porque teremos ainda 300 óbitos”, destaca o professor.
Apelo
“A postagem se refere a um cálculo. O óbito do Natal ainda não se contaminou. Então é um apelo às pessoas para que consigam abrir mão dos riscos”, afirma o professor. A vacinação no Reino Unido começou ontem (08) com uma foto e relato históricos, de uma mulher de 90 anos que comemorou a possibilidade de passar as festas de final de ano com a família. “Os britânicos estão fazendo planos para Natal e Ano e nós não poderemos. Voltar a sonhar é importante”, diz o profesor Luiz Artur.