Passo Fundo vive o momento mais crítico da pandemia. Essa situação é vista nos números, mas também em situações extremas, como a de um paciente que ficou 12h em observação em um cais aguardando um leito de UTI. O caso desse paciente, não identificado, teria sido uma exceção e a situação mais extrema, de acordo com a Secretária de Saúde, Cristine Pilati. Ela avalia que a cidade tem conseguido absorver a demanda. No entanto, pacientes têm ficado com ventilação mecânica nas emergências aguardando leitos de UTI.
A cidade bateu todos os recordes de hospitalizações nesta quarta-feira (10). O número de pacientes hospitalizados chegou a 248. Em UTIs, eram 79 pacientes e 155 em leitos clínicos. A ocupação de leitos de UTI privados em Passo Fundo chegou a 177,4% e a dos leitos SUS a 78,2% na quinta-feira (11), de acordo com a Secretaria Estadual da Saúde. A maioria dos pacientes em UTIs na cidade é de Covid-19, 51,5% dos leitos. Nos leitos Covid-19 fora de UTI Adulto, a ocupação recuou para 116,2%.
No final de fevereiro foram abertos 20 novos leitos de UTI no Hospital São Vicente de Paulo (HSVP) para atender a demanda do coronavírus. Com a ampliação da estrutura, Passo Fundo passou a contar com 71 leitos de UTI. No entanto, eles foram rapidamente ocupados.
Em todo o Rio Grande do Sul, 174 pacientes estão na fila aguardando um leito de UTI, conforme a lista de transferência da Central Estadual de Regulação Hospitalar da SES de ontem.
Demanda
A demanda por leitos Covid-19 em Passo Fundo explodiu no último mês. Em 11 de fevereiro, os números começavam a crescer lentamente. A cidade tinha 714 casos ativos, e nos hospitais, 98 pacientes estavam hospitalizados. Ontem, esse índice mais que dobrou.
Questionada se os dez novos leitos de UTI anunciados nesta semana serão suficientes para a demanda da pandemia, a secretária Cristine afirmou que “a gente não tem ideia de como [a pandemia] vai se comportar, mas já ajudaria bastante a nossa região”.
Outra situação preocupante é o alto índice de utilização de respiradores nas UTIs de Passo Fundo. Ontem (11), chegou a 84% da capacidade.
“Essa semana a gente buscou mais respiradores no estado, então, temos se precisar. Também fizemos um pedido ao governo federal para conseguirmos mais”, relatou a secretária, ressaltando o esforço coletivo.
Óbitos
Uma análise do HSVP mostrou que a mortalidade dos pacientes de Passo Fundo que necessitam de UTI é de 39% e da região é de 54%, de acordo com Cristine. “É uma mortalidade elevada, mas para o padrão Covid ela fica mais baixa do que a do estado”, ressalta a secretária. Ainda assim, com o coronavírus, a "conta” demora a chegar.
O crescimento de casos reflete no aumento de hospitalizações e depois dos óbitos. “Se você abrir mais leitos, com certeza vão chegar mais pessoas graves e vão falecer”, avalia Cristine.
O número de óbitos segue em crescimento na região Covid de Passo Fundo. Entre 26 de fevereiro a 4 de março, o aumento foi de 63,9% em comparação com a semana anterior. Na primeira semana foram 36 mortes, já na última foram 59.
Mudança de perfil dos pacientes
A gravidade da situação é mais evidente para quem trabalha diretamente com os pacientes Covid-19 nos hospitais. “Hoje nós estamos com um perfil diferente de pacientes acometidos pela doença, atingindo uma faixa etária de 20 a 40 anos. Estamos vendo que esses pacientes estão estáveis e se desestabilizam de uma hora para outra, atingindo rapidamente o estágio grave da doença. Isso é preocupante, estamos com 100% de ocupação dos leitos hospitalares”, conta a enfermeira Daiane Giordani. Essa situação traz incertezas para os profissionais. “Não tem como não se envolver com isso, com o paciente, com o cuidado que você tem que ter. Às vezes você chega ele está de um jeito, daqui a pouco de outro, então é uma constante mudança”, relata a técnica de enfermagem, Neiva Costa.
O pedido das profissionais do HSVP é por consciência da população. “Vai ter tempo para fazer festa, para se reunir. Pensem um pouquinho no pai daquela criancinha que ela nunca mais vai poder ver, eu acho que o fundamental é consciência, pensar no próximo com amor. E pensar em nós também, eu acho que a gente merece”, diz Neiva. Já Daiane lembra que a população também tem um papel para auxiliar no combate à pandemia. “Para a enfermagem, principalmente, que passa 24h acompanhando um paciente, são momentos de muita dedicação, dias de cansaço, de exaustão profissional. Eu deixo aqui um apelo para a população, é uma questão de responsabilidade social, onde todo mundo precisa fazer a sua parte. É preocupante a velocidade de transmissão do vírus, então precisamos sim fazer o isolamento social, saiam de casa apenas se precisarem mesmo, usem máscara, lavem as mãos, passem álcool em gel, que só desta forma a gente vai conseguir combater esse vírus. No hospital a gente trata os pacientes acometidos, mas a gente precisa de responsabilidade social para conseguirmos vencer esta guerra” desabafou a profissional.