Baixo estoque de sedativos para intubação se torna preocupação nas UTIs

Crescimento na demanda fez com que os preços dos medicamentos aumentassem até 800%

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Ocupação na UTI Covid do HC de Passo Fundo chegou a 151% na segunda (15). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil Ocupação na UTI Covid do HC de Passo Fundo chegou a 151% na segunda (15). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Ocupação na UTI Covid do HC de Passo Fundo chegou a 151% na segunda (15). Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
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Com o crescimento exponencial de contágios e internações de pacientes graves com coronavírus, o baixo estoque de medicamentos sedativos utilizados para a intubação nas unidades de terapia intensiva se tornou mais uma preocupação aos gestores e profissionais da saúde em Passo Fundo. As indústrias farmacêuticas e distribuidoras estão atravessando dificuldades para o abastecimento tamanha pressão hospitalar nacional pelos fármacos.  

Além da escassez de sedativos, como o midazolam, de analgésicos, como o fentanil, e de relaxantes musculares de ação central, responsáveis pelo bloqueio neuromuscular, a disputa pelos lotes de medicação acarretou um sobrepreço de até 800% no valor das unidades pagas pelas entidades hospitalares. O midazolam, por exemplo, antes comercializado a cerca de R$ 2,80 reais a ampola, agora está sendo disponibilizado a uma cotação que varia de R$ 25 a R$ 28 reais, segundo mencionou a coordenadora farmacêutica do Hospital de Clínicas de Passo Fundo (HC), Mariane Roman. “É um valor absurdo. Estamos trabalhando com as equipes médicas para fazer rodízio entre os fármacos e uma avaliação periódica dos pacientes para avaliar o que pode reduzir de infusão ou ser trocado para prolongar os estoques”, contou.  

Embora o Governo do Estado tenha começado, nesta terça-feira (15), a distribuição de caixas contendo propofol, atracúrio e epinefrina, também administrados antes de intubar os pacientes com quadro agravado de coronavírus, Mariane presume que o HC não deva receber nem 20% do solicitado tendo em vista a necessidade de divisão dos medicamentos entre os hospitais gaúchos. “A gente espera que reduza o consumo baseado na redução de pacientes graves. Tirando isso, não temos perspectivas”, observou. “Nunca tivemos uma situação de tantos pacientes graves ao mesmo tempo no hospital e todos eles usam essa medicação”, afirmou a farmacêutica.  

Ainda que haja uma grande variação no tempo de cobertura do estoque dos fármacos, como explicou Mariane, a multiplicação das internações em leitos de UTI Covid, no município, condicionou um acréscimo no consumo dos remédios. “Semanalmente, faço o controle das medicações. Temos quantitativo para uma semana; 15 dias, alguns para um dia de consumo e outros para dois”, ponderou. 

SindiSaúde fala em colapso 

A manutenção dos estoques com os medicamentos do kit intubação pautou, inclusive, uma reunião, na tarde de segunda-feira (15), entre os gestores hospitalares com o governador, Eduardo Leite (PSDB), e representantes farmacêuticos, que não acenaram para uma perspectiva positiva diante do agravamento da pandemia, conforme assinalou Mariane.  

Horas depois, o Sindicato da Saúde de Passo Fundo (SindiSaúde), emitiu uma nota à comunidade local alertando para um colapso na rede de saúde regional. “A preocupação com a falta de oxigênio e de leitos de UTI soma-se à escassez de anestésico”, destacou o comunicado. A entidade de classe lembrou ainda que “nenhum equipamento se basta sem profissionais” em alusão ao adoecimento e sobrecarga nas escalas de trabalho de médicos e enfermeiros que atuam na recuperação dos pacientes contaminados. “Muitos estão afastados por contraírem o vírus e por enfermidades como estresse e depressão. O sistema está sobrecarregado. A situação é muito mais grave do que a população pode imaginar”, finaliza a nota com um apelo. 


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