Com o objetivo de oferecer condições físicas e dar suporte ao ensino, à pesquisa e à extensão realizadas na Universidade de Passo Fundo (UPF), a Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária executa diversos trabalhos que contribuem com o desenvolvimento da região Norte do Rio Grande do Sul. Um exemplo é a parceria com a empresa CSM Cereais Eireli, de Ibiraiaras, que está fazendo a produção de plântulas de batatas junto ao Laboratório de Biotecnologia Vegetal, as quais serão comercializadas para todo o Brasil.
Plântula é um termo popular utilizado para denominar a muda produzida em laboratório. No caso da batata, a plântula (muda) é proveniente do processo de micropropagação in vitro. Esse processo inicia com a retirada do meristema (broto) de uma planta adulta de batata e com a colocação do mesmo em um tubo de ensaio com meio nutritivo. Após algum tempo, surge uma plântula desse meristema, que será livre de viroses porque o meristema é livre de vírus. A plântula é multiplicada várias vezes in vitro para a produção de um maior número de mudas.
Mas quais são as fases da produção das plântulas?
No Laboratório de Biotecnologia, que é credenciado ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), é produzida a batata-semente básica G0 (tubérculos e mudas) das cultivares Baronesa, Ágata, Macaca, Cupido e Atlantic. Essa ação ocorre por meio do processo de micropropagação, que proporciona vantagens, como fidelidade genética, maior uniformidade e livre de viroses.
A prática, além de contar com técnicos especializados habilitados pelo MAPA da UPF e a parceria da empresa CSM Cereais Eireli, envolve os acadêmicos do curso de Agronomia da UPF, que participam de diversas atividades no Laboratório e na casa de vegetação, acompanhando o processo de produção da batata-semente.
A metodologia de produção de tubérculos de batata-semente por meio da micropropagação realizada pela equipe envolve as seguintes etapas:
-Cultivo das plantas doadoras de explantes em estufa: um bom estado nutricional e fitossanitário da planta doadora de explante é de fundamental importância para o sucesso do cultivo in vitro. Assim, plantas de cultivares que sejam de interesse dos produtores são cultivadas em estufa, onde recebem irrigação, adubação e tratamento fitossanitário.
-Coleta e assepsia do material vegetal: hastes obtidas a partir das plantas de batata cultivadas na estufa são coletadas e levadas para o laboratório, onde passam pelo processo de assepsia, em que segmentos de hastes são mergulhados em solução de álcool 70% e hipoclorito de sódio 50%.
-Isolamento dos ápices caulinares (meristemas) dos segmentos de hastes já submetidos à assepsia: em câmara de fluxo laminar, com auxílio de lupa estereomicroscópica, pinças e bisturi, os ápices caulinares são isolados dos segmentos de hastes e colocados em tubos de ensaio contendo meio de cultura. Os tubos de ensaio são mantidos no escuro por 3 a 4 dias, em câmara de crescimento e, posteriormente, são transferidos para a luz, permanecendo em câmara de crescimento com fotoperíodo e temperatura controlados.
-Subcultivo das plântulas originadas dos ápices caulinares: decorridos 40 a 60 dias do isolamento dos ápices, as plântulas obtidas são subcultivadas com o objetivo de obter um grande número de mudas da cultivar de interesse. O subcultivo consiste em retirar a plântula do tubo de ensaio ou frasco de cultivo e seccioná-la em fragmentos contendo ao menos uma folha. Cada fragmento obtido é colocado em frascos com meio de cultura fresco e mantido em câmara de crescimento para que novas plântulas se desenvolvam. Quando as mesmas estiverem com o tamanho aproximado de 8cm, um novo subcultivo pode ser realizado. O intervalo entre subcultivos varia de 25 a 30 dias, dependendo da cultivar, e o número de subcultivos realizados em plantas originadas de um ápice caulinar não deve ser superior a cinco para que não haja risco do aparecimento de plantas com deformações.
-Indexação das plântulas micropropagadas: como a categoria de muda básica de batata exige isenção total dos vírus PLRV, PVY, PVX e PVS, antes de dar sequência ao processo de multiplicação (subcultivo), amostras de plântulas de cada ápice caulinar isolado são remetidas a uma laboratório credenciado, onde são submetidas ao teste sorológico de Elisa. Somente os ápices cujas amostras apresentarem resultado negativo para a presença das quatro viroses testadas avançarão no processo de micropropagação.
-Aclimatização e cultivo das plântulas micropropagadas: consiste na transferência das plântulas da condição in vitro para a condição ex vitro e pode ser a etapa mais crítica do processo de micropropagação. Nos primeiros 10 dias dessa etapa, é preciso tomar alguns cuidados, como: a manutenção de alta umidade relativa do ar, por meio de irrigações frequentes, e a utilização de sombrite para evitar a incidência direta de luz solar sobre as plântulas, o que poderia causar a desidratação e a morte das mesmas.
No caso específico da produção de batata-semente isenta de viroses, as plântulas micropropagadas devem ser aclimatizadas e cultivadas em ambiente protegido da entrada de insetos, principalmente pulgões, para evitar que ocorra a reincidência de viroses. Assim, no sistema de produção de batata-semente da UPF, as plântulas micropropagadas são transferidas para recipientes contendo substrato esterilizado, os quais são mantidos em estufa semi-climatizada, que possui tela de proteção antiafídeos. Decorrido o tempo correspondente ao ciclo de cada cultivar, durante o qual são realizados controles fitossanitários preventivos, realiza-se a colheita dos tubérculos.
Fomento da cadeia produtiva de batata
Segundo o proprietário da empresa CSM Cereais Eireli, Cristiano Martini, todo esse intenso trabalho visa a produção de mudas de batata básica in vitro livres de viroses para repassar aos produtores de batata-semente, para que eles obtenham tubérculos livres de viroses. “A produção de mudas de batata em laboratório fomenta toda a cadeia de produção de batata, contribuindo para altos rendimentos”, comenta.
Uma batata-semente de alta qualidade representa ganho para o produtor, visto que a semente é responsável por grande parte do custo de produção. “Ao fomentar a cadeia produtiva da batata, através do fornecimento de mudas e tubérculos de batata-semente de qualidade, contribui-se para o desenvolvimento econômico da região. Isto porque a batata pode ser vendida tanto para o mercado consumidor na forma in natura, como pode ser processada na forma de chips, palito ou pré-frita congelada, possibilitando o desenvolvimento de indústrias locais”, relata Cristiano, complementando que a mão-de-obra utilizada na produção de batata é grande, o que gera fonte de emprego.
Laboratório é destaque
O Laboratório de Biotecnologia Vegetal da UPF se destaca no estado por ser um dos poucos fornecedores de mudas básicas de batatas livres de viroses e também por fornecer toda a documentação necessária para que os produtores inscrevam seus campos de produção de sementes. Para a responsável pelo espaço, a professora Dra. Jaqueline Huzar Novakowiski, a produção de batata-semente na UPF é uma opção para os produtores da região adquirirem mudas de qualidade, reduzindo os custos com transporte de material de outros estados. “As parcerias dos laboratórios da UPF com empresas privadas são importantes como forma de auxiliar na produção de comercialização”, pontua.