Entre os municípios gaúchos com uma população superior a 100 mil habitantes, Passo Fundo é o 6° com o melhor desenvolvimento sustentável. Nos últimos três anos, a cidade já alcançou um dos 17 ODS propostos pela Organização das Nações Unidas (ONU) para fortalecer os programas de governo orientados a melhorar a qualidade de vida da população.
Classificada com uma pontuação de 54,3 em uma escala de 100, Passo Fundo já cumpriu a meta de energia limpa e renovável ao garantir acesso aos recursos energéticos confiáveis para 99,78% dos moradores, segundo os indicadores do Instituto Cidades Sustentáveis (IDSC-BR) divulgados no final de março. Sem considerar os efeitos da pandemia, a análise dos principais dados disponíveis sobre as localidades a colocou na 395ª posição no ranking nacional elaborado com as 770 municipalidades brasileiras.
Mesmo que esteja bem posicionada entre os municípios gaúchos com grande porte populacional, situando-se atrás apenas de São Leopoldo, Gravataí, Sapucaia do Sul, Novo Hamburgo e Canoas, a cidade ainda tem grandes desafios a longo prazo em eixos centrais, como saúde, educação, igualdade de gênero, redução das desigualdades e proteção da vida terrestre. "Passo Fundo teve um progresso muito grande nos últimos anos muito em torno das comunidades sustentáveis porque olha mais para as áreas verdes e a mobilidade”, avaliou a pesquisadora e professora da Universidade de Passo Fundo (UPF), Luciana Londero Brandli.
O que já foi alcançado
Estabelecidos como uma ferramenta para a gestão pública, os painéis ODS apontam para o cumprimento de algumas metas específicas que contribuem para o selo de cidade sustentável. Ainda que não tenha atingido o objetivo em saúde, o município apresenta baixos índices de mortalidade infantil, materna e na infância, conforme a representação visual dos indicadores.
A mesma sinalização ocorre quando há o detalhamento da área formativa. Criado para assegurar uma alfabetização inclusiva, equitativa e de qualidade, além de promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para os cidadãos, a meta de educação já apresenta resultados municipais, considerados satisfatórios pela ONU, no acesso à internet nas escolas e na formação de professores.
O mesmo acontece na área econômica. Isso porque, como ilustra o sistema de classificação por cores, o desempenho da cidade é favorável no PIB per capita, que soma todos os bens e serviços finais produzidos na cidade, e no total de receitas arrecadadas. “Quando falamos em conseguir cumprir essas metas, toda a sociedade tem que se envolver. Independente do agente, tem que estar trabalhando em prol dos ODS”, afirmou a docente, que integra um grupo de investigação sobre mudanças climáticas da University College of London.
O que ainda falta
Na atual avaliação dos objetivos, Passo Fundo ainda possui obstáculos na redução dos feminicídios e na participação das mulheres na política local. Este item, segundo a ONU, qualificaria a cidade como promotora da igualdade de gênero. Embora tenha cumprido com ações para o clima, a perda de água e a ausência de expansão nas áreas de conservação ambiental são alguns dos principais reveses no cumprimento da agenda a nível local.
O desmatamento, assim como profundas desigualdades territoriais e dificuldades para atingir a paz, a justiça e instituições eficazes, continuam sendo um grave problema em todos os Estados brasileiros, indicou o monitoramento. “Será essencial que os municípios com cobertura vegetal nativa implementem estratégias para o uso sustentável das terras e a gestão das florestas”, alertou o Instituto Cidades Sustentáveis. "Eu vejo que temos uma cidade que está indo bem. Não pode se perder essa linha de atuação porque são metas ambiciosas que devem ser pensadas a longo prazo”, destacou a pesquisadora da UPF ao assinalar uma dificuldade na mudança de hábitos dos passo-fundenses, apesar das políticas públicas.
O que é a Agenda 2030
Criada em 2015 pela ONU, a Agenda 2030 é um plano de ação global que reúne 17 objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) e 169 metas voltadas à erradicação da pobreza e promoção da equidade entre a população sem colocar em risco a sustentabilidade do planeta e das futuras gerações.
Os planos, divididos nos eixos ambiental, social e econômico, estão sendo colocados em prática por governos, sociedade civil e iniciativa privada de todos os países que integram as Nações Unidas.