Passo Fundo está com a curva de novos casos novamente em crescimento. Após um período de queda e certa estabilidade, em doze dias o número de casos ativos passou de 380 para 605 na segunda-feira (17), aumento de 59,2%. Em conjunto com outros dados, esse aumento fez com que a região recebesse o alerta do governo estadual de agravamento da pandemia.
“Durante algumas semanas tivemos medidas mais rígidas com relação ao funcionamento do comércio e das atividades na cidade. Isto levou a uma diminuição da circulação das pessoas e como consequência uma diminuição nos casos”, avalia o professor da IMED Jeovany Martínez Mesa, doutor em Epidemiologia, médico na Prefeitura de Passo Fundo e do Hospital de Clínicas (HC).
As causas desse novo aumento repetem outros momentos da pandemia: falta de respeito às medidas de prevenção, novas linhagens do vírus e datas comemorativas, como Dia das Mães. Além disso, esses fatores estão interligados. “As pandemias sempre possuem um caráter dinâmico e esse dinamismo está atrelado ao ciclo do vírus e a sua taxa mutacional que gera variabilidade (linhagens virais) que podem conferir ao vírus maior potencial infectante ou até conferir mais letalidade”, explica o professor da UPF José Eduardo Vargas, doutor em Biologia Celular e Molecular, com pós-doutorado no Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental em Barcelona. Isto é, conforme o vírus se espalha, maiores as possibilidades de mutações. “Em geral a população não respeita as medidas de prevenção, como distanciamento social, uso correto de máscaras e higiene das mãos”, analisa.
Os números das próximas semanas vão depender justamente do comportamento da população, conforme o professor. A perspectiva é de uma nova curva, com crescimento, estabilização e queda. “Nas próximas semanas pode acontecer que o número de casos se mantenha e posteriormente possam diminuir. Isso vai depender novamente do comportamento das pessoas. As pandemias sempre mostram quanto uma sociedade é evoluída na sua consciência cidadã”.
A falta de controle da pandemia no país e região é apontada pelo professor Jeovany. “O que tem acontecido são realmente oscilações com uns períodos de mais e outros períodos de menos casos, mas sempre com altíssimo patamar, ou seja, sem controle real. Sem dúvida estamos sob o risco de aumentar os casos”, analisa. Alguns fatores, como a superlotação dos hospitais, esgotamento das equipes e desabastecimento de insumos são citados para analisar os próximos dias. “Infelizmente estão vindo dias difíceis pela frente”, afirma o médico.
Cuidados Individuais
Em resposta ao aumento de casos e hospitalizações, a Prefeitura tem destacado a fiscalização e a conscientização para os cuidados individuais. “Alguns municípios já decretaram medidas restritivas. Mais uma vez, o apelo é para os cuidados individuais. Seguimos fiscalizando e orientando a população. Todos precisam fazer a sua parte”, disse o prefeito Pedro Almeida.
No entanto, os cuidados individuais não são considerados suficientes no momento pelo professor José Eduardo. “Existe uma porcentagem da população que não respeita estes cuidados mínimos, além disso apostar nos cuidados dos cidadãos é uma maneira de não se responsabilizar em forma direta pela consequências da pandemia. Na situação atual são necessárias adotar medidas eficientes, baseadas em argumentos científicos, que talvez não sejam do agrado de todos, mas salvem vidas”, argumentou o biólogo.
Sobre a liberação de mais atividades, o professor José Vargas explica que, do ponto de vista biológico, a análise é simples. “Quanto mais pessoas juntas, mais exposição, mais contágios e mais pessoas internadas”. No entanto, ele reconhece a complexidade no nível econômico. “Este manejo deve ser inteligente, ou seja, precisamos que tudo esteja aberto?'', questiona. A postura do Brasil é considerada contrária à de outros países, já que muitos promoveram lockdowns para diminuir os casos e, posteriormente, as restrições. “As pandemias precisam ser respeitadas, e o valor à vida valorizado, porque não estamos lidando com um agente que se importe com a nossa economia”, ressalta o professor.
Por outro lado, o professor Jeovany acredita que o problema não está na liberação das atividades. ‘O problema está na atitude das pessoas frente a tais liberações. O fato de uma loja, um comércio estar aberto não significa necessariamente que as famílias possam ir lá passear, ou ver as novidades, sem máscaras, contribuindo para aglomerações”, analisa.