O anúncio da Prefeitura de Passo Fundo de que prorrogaria até 7 de junho o decreto que restringe o horário de funcionamento de atividades não-essenciais, proibindo a abertura dos estabelecimentos das 21h às 6h, veio acompanhado de críticas por parte do Sindicato de Hotéis, Bares, Restaurantes e Similares (SHBRS) de Passo Fundo. De acordo com a entidade, a categoria não é contra a restrição de horários, no entanto, acredita que o Município deveria estabelecer limites diferentes para a entrada e a saída de clientes, a fim de evitar a formação de filas e a consequente aglomeração próximo ao horário de fechamento. “Nosso pedido é para que o limite de entrada seja às 21h e que haja uma hora a mais de funcionamento interno, permitindo a permanência de clientes até as 22h”, explica o presidente da entidade, Leo Duro.
Para justificar a solicitação, o sindicato usa como exemplo um estudo realizado na Inglaterra, que embasou a decisão do país em permitir a entrada do público em estabelecimentos até as 22h, com autorização para saída e encerramento das atividades às 23h. De acordo com o Departamento de Saúde e Assistência Social do governo inglês, quando há limite de uma hora para que o público possa deixar gradualmente o local, o risco de diversas pessoas decidirem sair do espaço ao mesmo tempo é menor. “Nós não estamos pedindo a flexibilização das regras, estamos pedindo regras mais sensatas, justamente para que não haja aglomeração no momento de saída. Basta um raciocínio simples: em um restaurante noturno, que começa a funcionar às 19h, o cliente tem só duas horas para ficar no local. Se a saída for às 21h, todo mundo fica até a hora limite. É necessário ter um espaçamento de horários para que o proprietário possa pedir para o cliente se retirar, criar aquele clima de encerramento, e assim evitar que todos se dirijam ao caixa para pagar e sair ao mesmo tempo”, salienta.
Pedido deve ser protocolado
Ainda segundo o presidente do SHBRS, a sugestão de mudança no decreto foi apresentada na última semana, durante uma reunião com o Executivo, que se comprometeu em avaliar a regra. No entanto, a prorrogação do decreto sem alterações, anunciada na última segunda-feira (31), mostrou que o pedido não havia sido acatado. “A prefeitura não apresentou um motivo razoável para não aceitar a nossa sugestão, que tem um embasamento técnico-científico. Não sabemos o porquê, mas acho que falta interesse do Município em buscar soluções mais técnicas e concretas”, critica.
Em resposta à reportagem d’O Nacional, a assessoria da Prefeitura Municipal afirmou que o pedido do sindicato não havia sido encaminhado oficialmente e que, apenas quando o fosse, o Município poderia se manifestar. A entidade que representa a categoria dos bares e restaurantes disse que protocolará um pedido de alteração da regra, junto à Câmara de Vereadores, ainda nesta semana. “A nossa intenção não é simplesmente trabalhar, mas trabalhar com segurança, adequando as regras à realidade”, argumenta Leo Duro, acrescentando ainda que o Município deveria aumentar a fiscalização para que quem cumpre as regras não seja responsabilizado pela falta de colaboração daqueles que trabalham ilegalmente, desrespeitando o decreto.
Empresários relatam dificuldades para organizar horário de saída
Dono de uma pizzaria em funcionamento em Passo Fundo há mais de 20 anos, Paulo Roberto Moro faz coro às alegações do sindicato. Ele relata que, para um restaurante noturno, é praticamente impossível fazer com que os clientes cheguem para jantar antes das 19h, o que torna o horário permitido de funcionamento curto demais para as empresas trabalharem. “O que acontece é que a maioria chega por volta das 20h e nesse horário dá aglomeração. Quem não consegue mesa, porque diminuímos nosso salão, quer ficar esperando e aí, com esse frio, precisa aguardar na sala de espera. Isso não é o ideal. Se estendessem o horário até as 22h, nós poderíamos fazer dois horários para reserva de mesa e ainda deixar um espaço de tempo para higienizar o salão entre esses horários. Fica mais seguro. Até às 21h, não é possível”.
A percepção é semelhante à do empresário Sandro Brillantino, que administra um restaurante de culinária japonesa. Por lá, a decisão foi de não retomar o atendimento presencial e manter apenas o formato de tele-entrega. O motivo, segundo ele, é o horário restritivo. “É muito pouco tempo para o cliente passar conosco. Tínhamos medo, também, de causar aglomeração no caixa no horário de saída. Se houvesse uma hora de limite para sair, daria um respiro e evitaria a formação de fila no momento do pagamento”, opina. Ele também observa que, por não haver um horário específico de limite para admissão de clientes dentro do espaço, os proprietários se veem uma situação desconfortável. “Ficou um pouco sem sentido, na minha opinião, poder abrir até as 21h mas não limitar o horário de entrada. É difícil falar para um cliente que ele não pode entrar porque está em cima da hora, sem ter um respaldo mais específico do decreto”.
O cenário observado no estabelecimento de Brillantino, que preferiu fechar o salão e manter somente o serviço de tele-entrega, tem se tornado recorrente em toda a cidade, segundo o presidente do SHBRS. Ele nota uma tendência de fechamento de espaços físicos para atendimento ao público, algo que impacta diretamente na geração de empregos, reduzindo ainda mais as vagas de emprego para garçons, por exemplo. “O empresário não consegue se planejar a longo prazo e, sem conseguir se adequar, acaba por fechar as portas”, avalia.