Quando o primeiro caso positivo de dengue foi notificado, no final de março, e evoluiu para um surto no bairro Lucas Araújo, os agentes da Vigilância Ambiental em Saúde de Passo Fundo se apressaram para pulverizar os domicílios infectados e suspeitos. A preocupação tinha um motivo bem específico: o número de casos da doença aumentou 181,8% em um ano no município, segundo o boletim da Secretaria Estadual de Saúde, e já atinge 96,7% das localidades abrangidas pela 6ª Coordenadoria Regional de Saúde (6ª CRS), onde 60 dos 62 municípios foram incluídos na lista de monitoramento de infestação pelo Aedes aegypti.
Na série histórica observada, em 2020, apenas 11 casos de dengue contraídas por moradores passo-fundenses foram notificadas à divisão estadual enquanto que, neste ano, 31 exames positivos foram reportados à SES. Durante uma revisão de prontuário, na semana passada, testes laboratoriais pós-óbito atestaram a primeira morte pela doença de uma moradora local, conforme explicou a chefe do Núcleo de Vigilância Ambiental em Saúde, Ivânia Silvestrin. A paciente, com comorbidade, pertencia à faixa etária dos 40 a 50 anos, disse Ivânia ao jornal O Nacional na segunda-feira (21). “No momento, temos um paciente aguardando o resultado de exame para dengue e uma notificação nova”, contou.
Dos 56 casos identificados pela Vigilância em Saúde, três foram importados de outras localidades igualmente infestadas pelo mosquito. “Nós somos município infestado, então temos o vetor circulante desde 2013. O que podemos concluir é que, provavelmente, algum morador de Passo Fundo se deslocou por algum município da região com casos positivos e voltou com dengue para cá ou, também, alguém de alguma cidade vizinha veio para cá com dengue, a fêmea [do mosquito] o picou e começou a disseminar o vírus”, observou a agente de saúde mencionando que o surto de dengue no bairro Lucas Araújo já foi controlado.
Com uma transmissão bastante rápida pelo Aedes aegypti, a febre de chikungunya foi confirmada em 9 das 26 suspeitas encaminhadas à secretaria de Saúde. Como indica o informativo epidemiológico das arboviroses, divulgado na sexta-feira (18), oito são infecções autóctones.
Preocupação estadual
A preocupação com essa crescente presença da dengue, chikungunya, zika vírus e febre amarela no Rio Grande do Sul reuniu integrantes do Centro de Operações de Emergência (COE – Arboviroses) há três dias. Neste ano, até agora, o Estado tem 85% dos municípios infestados pelo Aedes aegypti e dez óbitos por dengue, além da baixa e média cobertura vacinal para a febre amarela.
Os dados, coletados até 12 de junho, apontam para a ocorrência de mortes por dengue, além de Passo Fundo, em Erechim, com três óbitos; Santa Cruz do Sul, que registrou cinco moradores mortos pelo vírus, e Bom Retiro do Sul. A secretária estadual de Saúde, Arita Bergmann, propôs, no início da reunião com o COE, que seja elaborado “um plano de contingência robusto, efetivo e prático, a partir dos dados que já temos” para que os agentes de saúde consigam “partir para as ações”.