Desde que a Operação Acolhida do Governo Federal foi instituída para aliviar a pressão fronteiriça no norte do país, maio foi o quarto mês com maior fluxo de interiorização de venezuelanos a Passo Fundo em três anos de esforços humanitários conjuntos, segundo detalha o gráfico elaborado pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
Entre as 14 novas famílias que desembarcaram no Aeroporto Internacional Salgado Filho, em Porto Alegre, e se deslocaram para o município nos últimos 30 dias, a pintora Rosibel Morales e o marido, Luiz Méndez, fizeram uma primeira parada na Paraíba onde, conta a venezuelana, as escassas oportunidades de emprego forçaram uma nova mudança. “Quando saímos do país, já estava crítico”, lembra Rosibel. Recém-chegados a Passo Fundo, eles se acomodam na casa de um compatriota junto aos três filhos, de 1, 3 e 5 anos, nesta fase inicial de adaptação. "Não temos muitos pertences e estamos apenas esperando uma oportunidade de trabalho”, afirmou a pintora.
As faces da imigração
Embora o perfil dos imigrantes residentes nas grandes cidades gaúchas seja de homens jovens com uma escolaridade acima da média da população, como apontou a relação de dados compilada pelo Departamento de Economia e Estatística (DEE) na sexta-feira (25), 4,03% dos 223 estrangeiros interiorizados no município são mulheres em risco com idades entre 35 a 39 anos. “Eles vêm de uma forma organizada e vão direto nesses contatos, nem todos passam pela assistência social. Geralmente, as mulheres vêm acompanhadas pelos seus parceiros ou já com a família”, observou a secretária-adjunta de Cidadania e Assistência Social, Elenir Chapuis.
Restabelecer a unidade familiar através da reunião social, rompida pelo deslocamento voluntário ou forçado, é a motivação que mais resulta em novos acolhimentos na cidade, de acordo com o mapa da OIM. Com essa expansão das comunidades de haitianos, venezuelanos e uruguaios, que lideram as nacionalidades predominantes em qualquer base de dados analisada, segundo o DEE, Passo Fundo se tornou o 10º município que mais abriga novos moradores estrangeiros no Estado. “Temos um controle daquilo que é inserido no CadÚnico e, mesmo que a maioria tenha um grau de escolaridade, nem sempre é possível exercer pela questão do registro”, ponderou a secretária-adjunta.
Nos indicadores de trabalho formal, o município é o 5º a ofertar aos imigrantes uma regularização laboral, conforme ilustra a nota técnica do órgão governamental. Os inscritos no Cadastro Único, aludidos por Elenir e que estão aptos a receber algum tipo de benefício de assistência social, têm instrução superior à dos demais, com ensino médio e superior completos, e constituem 2% do percentual de imigrantes cadastrados nos programas sociais.
No Estado
O cenário migratório no Rio Grande do Sul apresenta uma constante quando se fala sobre a renda destas famílias onde 46,7% dos imigrantes inscritos no CadÚnico recebiam até R$ 89 por mês, o que os inclui na faixa da extrema pobreza, enquanto no grupo de não imigrantes o percentual é de 37,9%, afirma a pesquisadora responsável pelo levantamento, Daiane Menezes. No Sismigra, que tem outro recorte social, as profissões mais declaradas foram a de estudante e vendedor. Segundo a Rais, os imigrantes recebem, em sua maioria, entre um e um e meio salário mínimo e de um a dois salários mínimos.
O trabalho do DEE/SPGG também assinala as desigualdades registradas entre os estrangeiros. As pessoas de cor preta e mulheres têm as ocupações menos qualificadas, segundo enfatizou a nota que acompanha a divulgação dos dados. Os imigrantes brancos predominam entre as ocupações com remuneração acima de três salários mínimos. "As desigualdades presentes na nossa sociedade também existem em relação aos imigrantes, visto que os dados mostram brancos com salários maiores do que pretos e pardos e homens com remunerações maiores na comparação com as mulheres", analisou Daiane na nota enviada à imprensa.