A hospitalização de gestantes contaminadas pelo coronavírus, em Passo Fundo, está sendo responsável por induzir o nascimento de bebês prematuros nas maternidades locais. Em um ano de crise sanitária, 14,2% das grávidas que deram entrada com quadro positivo para a doença precisaram de intubação e 16,6% delas foram internadas nas unidades de terapia intensiva (UTI) com agravo de saúde, segundo revela a base de dados do Observatório Obstétrico Brasileiro Covid-19 consultada pelo jornal O Nacional na quinta-feira (1º).
Mesmo que a comunidade científica ainda esteja realizando novas descobertas sobre o comportamento do SARS-Cov-2 no organismo dos pequenos, a pediatra do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), Cristiane Agostini Cassanelo, explica que a antecipação do parto se dá em meio a um cenário de aumento significativo de gestantes com quadros mais graves de Covid-19. “Elas entram em insuficiência respiratória e precisam ir para a UTI”, conta.
Na maioria dessas intervenções nos nascimentos antes do fim do período gestacional, onde de 30 a 40 pacientes pediátricos internados no município são filhos destas gestantes contaminadas, não ocorre a transmissão vertical, explica a médica. “Eles [bebês] se contaminam depois, no contato familiar ou domiciliar com essas mães que estão doentes”, afirma Cristine. “Tivemos pouquíssimos casos positivos em bebês, mesmo quando a mãe desenvolveu um quadro grave. Eles acabam tendo doenças pela prematuridade, complicações secundárias”, atestou a pediatra.
O predomínio na circulação da variante P.1 na cidade, como identifica o boletim genômico elaborado pela Secretaria Estadual de Saúde (SES), aumenta a transmissibilidade do vírus e responde por uma morte materna por coronavírus nos 22 casos mais agravados da doença em gestantes passo-fundenses, de acordo com o painel do Observatório Obstétrico, que compila as notificações de casos da doença e outras síndromes respiratórias. “A amamentação não é contraindicada, mas orientamos uma série de cuidados para tentar evitar o contágio nos bebês porque ainda não sabemos se pode existir uma sequela a longo prazo por coronavírus. Então, ainda não temos muitos dados”, mencionou Cristine.
Primeiro óbito infantil
Por apresentarem uma resposta imune diferente, a taxa de infecção da Covid-19 em crianças é menor que a registrada em adultos. Ainda assim, asseverou a pediatra, dois recém-nascidos testaram positivo para a enfermidade e, na segunda-feira (28), a secretaria Municipal de Saúde confirmou o primeiro óbito infantil associado à contaminação viral.
A morte da bebê, com um ano de idade e doenças pré-existentes, ocorreu no dia 26 de junho. “Menos de 1% dos casos descritos tem acontecido em crianças. Os quadros mais graves estão relacionados à Síndrome inflamatória multissistêmica pediátrica”, pontuou a médica. "Na maioria das vezes, ela ocorre em crianças com comorbidade. Em crianças sem doenças prévias, é bastante rara a ocorrência dessa síndrome”, esclareceu Cristine. “Elas voltam a desenvolver um quadro que se confunde com outras síndromes. Febre persistente, alteração cardíaca e renal, e até síndrome de choque podem acontecer”, frisou.
Com a retomada das aulas presenciais e o avanço nos testes de vacinas para as crianças, cujos resultados promissores foram publicados pela Lancet em um ensaio conduzido com o imunizante Coronavac, a pediatra focaliza a necessidade de manter os pequenos em casa quando houver sintomas respiratórios. “O melhor que a gente tem a fazer agora é vacinar e torcer para que os testes saiam”, destaca.