O frater Agostinho Both, filho de professor, era vocacionado para o ensino. Decidiu, em 1964, prestar vestibular para Pedagogia. Nessa época, entre idas e voltas, de Santo Ângelo a Passo Fundo, sentiu-se atraído por uma irmã religiosa, cujo sentimento, apesar de jamais revelado, parecia recíproco. Trinta anos depois a encontrou casada e ela não lhe pareceu mais tão atraente como outrora fora.
O curso de Pedagogia, iniciado no Consórcio Universitário Católico, foi concluído em 1969. Nessa época começou a se consolidar, na cabeça do jovem frater, o desejo de abandonar os votos dos MSF (pobreza, castidade e obediência). Vai para o Rio de Janeiro, ainda ligado aos MSF, em 1970, para fazer mestrado em Psicologia na PUC-Rio. E na Cidade Maravilhosa, o envolvimento com mulheres nos locais onde morou, ratificaria a decisão que há muito fora tomada e desiludira a sua mãe: abandonar os votos dos MSF.
No final de 1971, com mestrado concluído pela PUC-Rio, retorna a Passo Fundo. A presença no Escolasticado São José, tocado pelos MSF, não era mais vista com bons olhos. Com a ajuda do latim irretocável do padre Luiz Weber encaminha à Igreja a dispensa dos votos, que, como de praxe, foi aceita. Inicia a caminhada do educador.
Encerrada a vida seminarística, 1954 a 1971, Agostinho Both foi convidado pela professora Orfelina Vieira Melo para atuar nos chamados cursos de férias para professores. Uma inciativa da Faculdade de Educação da UPF que marcaria o ensino do Rio Grande do Sul durante 20 anos. E foi nesse primeiro curso que ele conheceu uma aluna especial: Solange Lima. O professor Both, presenteando livros à aluna e com lábia refinada pelos anos de seminário, não encontrou maior dificuldade para conquistar a jovem professora. Em setembro de 1972 casaram-se civilmente e, no religioso, em maio 1973. Solange e Agostinho tiveram duas filhas, Fernanda e Tatiana, que lhes deram quatro netos: Henrique, Lorena, João Vicente e Antonela.
Agostinho Both admite a dificuldade que teve para lidar com as filhas na adolescência. Afinal, seminários não primam por forjar sensibilidades. A cena da filha mais velha, grávida, sentada na escada da casa, dizendo o silencioso adeus, retrata bem o peso que ele sentiu na ocasião. Felizmente, a harmonia familiar foi restabelecida e os laços entre pai e filha, pelo apoio dado pelo avô ao neto, saíram fortalecidos.
Em 1974, Agostinho Both foi eleito vice-diretor do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UPF. Nessa fase, criou o curso de Psicologia. Mas, a sua atuação como coordenador (1977-1982) foi muito questionada pelas alunas do curso, que colocavam dúvidas, inclusive, na sua formação de mestrado pela PUC-Rio. Em 1982 assumiu a vice-reitoria acadêmica, ficando nesse cargo até 1990. No posto, enfrentou a histórica greve dos alunos da UPF de 1988. A saúde, em meio ao estresse elevado, foi de mal a pior e ele acabaria sofrendo um infarto em 29 de dezembro de 1989.
Mais uma vez, a vida de Agostinho Both se cruzaria com Orfelina Vieira Melo. A convite dela, passou a trabalhar com o tema da velhice. A inciativa daria frutos: CREATI, 1991, CREATI nas Vilas, 1994, Curso de Especialização em Gerontologia e, em 2009, Programa de Pós-Graduação em Envelhecimento Humano. Ainda, nesse meio tempo, entre 1995 e 1998, cumpriu o doutorado em Educação pela UFRGS. E, após 37 anos de magistério, deixou a UPF em 2008. Mas nunca parou de ser um educador, atuando em Oficinas da Terceira Idade no Clube Recreativo Juvenil, nos cursos do IFIBE, nas ações da Igreja e nas atividades da Academia Passo-Fundense de Letras.
Agostinho Both não se furta de tratar de temas caros à Igreja. Sejam pedofilia, homossexualidade ou votos de castidade. Lamenta-se pelo padre amigo que vê a companheira tentar suicídio pela inconformidade da filha, sente a tristeza da mulher e do amigo consagrado por se afastarem do filho, por ver o padre conhecido adoecendo pela homossexualidade contida e outros casos mais. Enfim, coisas faladas e caladas. Eis o EDUCADOR Agostinho Both, que se sobressai em “Vim, Vivi e Escrevi”.