Medos, perdas, injustiças e traumas fazem parte da vivência e enfrentamento de uma pandemia. Em Passo Fundo, são quase 700 famílias enlutadas, além dos demais impactos gerados pela Covid-19 desde março do ano passado. Para que as experiências vivenciadas durante esse período sejam conhecidas e lembradas, o Projeto Memórias Populares da Pandemia está coletando depoimentos sobre a pandemia. Os testemunhos irão compor um livro eletrônico com lançamento previsto para dezembro deste ano, quando é celebrado o Dia Internacional dos Direitos Humanos.
A iniciativa é da Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF) e do Comitê Popular por Saúde, Democracia e Direitos. O projeto parte do conceito de memória como um direito para que sejam preservadas as condições de verdade e justiça. “Achamos importante abrir um espaço para a produção de memória, inclusive de possíveis injustiças, desassistências e dos medos, o que foi a experiência da pandemia”, explica o Coordenador de Formação da CDHPF, Paulo César Carbonari. Preservando a memória, o objetivo é evitar que essas situações se repitam futuramente. “Queremos manter viva essa experiência para que isso seja refletido e que a gente não se repita os erros na forma de tratar essas situações”, destaca Carbonari.
Participação
A proposta foi lançada há duas semanas e já conta com contribuições. A comunidade, especialmente de Passo Fundo, está convidada a encaminhar os relatos no formato de cartas. Os autores poderão ser identificados ou manter o anonimato, conforme preferirem. Sugere-se que o tamanho seja de no máximo três páginas. As cartas devem ser enviadas para o email [email protected] até o dia 30 de outubro de 2021. No email também deve constar a autorização para a publicação eletrônica da carta pela CDHPF. As demais orientações para o envio dos depoimentos podem ser consultadas na página da entidade no Facebook.
A condição para participação é o respeito aos Direitos Humanos. A organização enfatiza que não serão publicados ataques aos direitos humanos, à dignidade humana, à diversidade, à democracia e à justiça social. Para isso, uma Comissão de Deliberação irá analisar as cartas recebidas e definir quais delas serão publicadas. “É um limite de ordem conceitual, queremos que as cartas colaborem para respeitar e divulgar os direitos humanos”, enfatiza Carbonari.
Cartas
O formato carta foi escolhido como uma maneira de recuperar esse meio de escrita e também uma forma de homenagem a Paulo Freire, patrono da educação brasileira, no seu centésimo ano de nascimento, já que muitas das suas obras são compostas por cartas. “Hoje a carta é considerada algo arcaico, as pessoas mandam mensagens em duas linhas pelo Twitter ou WhatsApp. Então queremos recuperar a memória literária da carta como um recurso narrativo, para que seja outra experiência”, explica Carbonari.