LUTO: “Nunca imaginei que a minha casa seria o pior lugar do mundo para eu entrar”

Esposa do motoboy Miro Quevedo, morto em acidente na semana passada, fala sobre a dor da perda

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No dia 9 Patrícia postou uma homenagem nas redes sociais, com a última foto do  casalNo dia 9 Patrícia postou uma homenagem nas redes sociais, com a última foto do  casal
No dia 9 Patrícia postou uma homenagem nas redes sociais, com a última foto do casal
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Há uma semana, na sexta-feira (8), o motoboy Valdomiro Gandolfi Quevedo, de 28 anos, saiu de casa, onde deixou sua esposa e as duas filhas, para trabalhar, e não retornou mais. Ao fazer uma entrega, já no começo da noite, ele se deslocava pela Avenida Brasil, bairro Petrópolis, quando foi atingido por um automóvel e caiu. Em seguida,  foi atingido por um ônibus de transporte coletivo urbano que passava pelo local.

Miro, como era conhecido pelos amigos e familiares, morreu no local do acidente. O motorista que bateu na sua motocicleta fugiu sem prestar socorro. O motoboy foi sepultado no dia seguinte, e dezenas de amigos e colegas de profissão fizeram uma homenagem a ele, que entrou para as estatísticas de mortes violentas no trânsito de Passo Fundo. Miro era casado e pai de duas filhas.  

A esposa, Patricia Lunelli, lembra do quão alegre ele era. Brincalhão com as filhas, e detentor do título de churrasqueiro oficial entre os familiares e amigos pois, sempre que tinha oportunidade, chamava as pessoas mais próximas para assar uma carne e tomar cerveja.


Paixão pela  profissão

Patricia lembra com muita alegria os 14 anos de relacionamento. Neste período, eles tiveram duas filhas, uma de 8 e outra de 11 anos. Durante todo esse tempo, a paixão por motos sempre esteve presente na família, e Miro fez dela sua profissão. “Amava o que ele fazia, gostava de andar de moto, gostava de ser motoboy, por várias vezes eu tentei convencer ele a mudar de profissão por causa do risco, mas era isso que ele gostava de fazer”, disse a esposa.

Ele começou a trabalhar ainda na adolescência, mas logo que completou 18 anos, fez a carteira de motorista, comprou uma moto, e começou a exercer essa profissão, era experiente, pois já fazia 10 anos que trabalhava como motoboy. “Mas infelizmente tudo isso terminou de forma trágica”, lamentou ela.

Motoboy havia vencido a Covid em março

Patrícia comenta que, mesmo com a personalidade alegre, ele sempre lutou muito para viver. Recemente havia passado por duas situações de risco de vida. “Há três anos, sofreu um acidente, teve muitas fraturas, e precisou ficar vários dias entubado. Em março deste ano, pegou Covid e ficou 12 dias entubado, quase morreu, pois foi bem grave, mas se recuperou. Mas na última sexta-feira ele não teve essa chance”, disse ela.

 

Sonhos ficaram pelo caminho

O acidente interrompeu os sonhos e planos que a família estava fazendo. Recentemente, Miro havia começado a se programar para comprar uma moto nova, e já estava fazendo os planos financeiros para isso. Além disso, as viagens em família não vão mais acontecer. “Ele também prometeu viajar com as filhas, mas esse plano também ficou pelo caminho devido a essa tragédia”, lamentou  Patrícia.

Ela comenta que, além de um bom marido e bom pai, ele também era um bom filho e bom irmão, pois ligava para os familiares todos os dias, era sempre muito carinhoso e ajudava quando podia. “Ele tinha um irmão que se acidentou de moto recentemente, teve uma fratura na coluna e estava se recuperando. Miro sempre ajudou, e todos reconheciam isso, tanto que a homenagem que os motoboys fizeram para ele foi muito linda, tinha muita gente”, lembrou.

 

Família em Luto 

A morte de Miro desestabilizou a família, que, após uma semana do acidente, ainda não conseguiu voltar para casa, pois as lembranças ainda causam muita dor. A mãe e as duas filhas estão na casa de parentes. “Uma pessoa tirou a oportunidade de ele ver as filhas crescerem. Também tirou o nosso direito de conviver com ele. É muito complicado explicar para duas crianças que o pai não vai mais voltar, que a gente não vai mais almoçar juntos, que não vamos mais viajar juntos, nem dormir e assistir série juntos, então, é bem complicado voltar para casa. Eu nunca imaginei que a minha casa seria o pior lugar do mundo para eu entrar”, disse Patrícia. Uma irmã acolheu ela as filhas até que todos consigam superar a dor, e retornar para casa.

Justiça

Além da perda do marido, Patrícia ainda precisa de forças para buscar justiça para o  responsável pelo acidente. “O que espero é que seja feita justiça, pois foi um assassinato, essa pessoa ceifou a vida do meu marido”, disse ela. Porém, ela também comenta que, independente das penas que este motorista venha a  sofrer, nada vai amenizar a dor que ela e sua família estão sentindo agora. “É um pai que deixa duas filhas, é um esposo que deixa uma mulher, é um filho que deixa uma mãe. É um sofrimento muito grande, e essa pessoa que tirou a vida dele vai continuar andando de carro por aí, talvez cometendo outro crime. Além da justiça, que eu espero que ela seja feita, também gostaria que isso não acontecesse novamente, para ninguém sofrer o que estamos sofrendo agora”, finalizou ela.

 

Investigação

A Delegacia de Polícia de Homicídios e Proteção à Pessoa de Passo Fundo segue investigando a ocorrência, e busca identificar o veículo e o motorista envolvidos no acidente. Segundo a delegada Daniela Minetto, desde que aconteceu o fato, a polícia está investigando e realizando diligências para buscar a identificação do envolvido. 

Na quarta-feira (13), os policiais ouviram um suspeito de ter participação, porém, ele negou envolvimento. Também foi apreendido um automóvel, que deve ser periciado em busca de indícios que possam comprovar, ou descartar, o envolvimento na ocorrência. Até o fechamento desta edição, a investigação ainda não havia sido finalizada, e os policiais seguiam realizando diligências.

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