Olhar para pessoas que antes não recebiam atenção e oferecer apoio emocional e material: essa é a essência do Projeto Mãos Unidas, que reúne e atende os catadores de material reciclável de Passo Fundo. Na tarde de ontem (25) o projeto realizou a entrega de cinco carrinhos que irão auxiliar os catadores no recolhimento dos materiais recicláveis. Mais quatro carrinhos já foram entregues durante o mês e estão em circulação, totalizando nove catadores beneficiados.
Carrinhos
Irmã Inês Sartori, coordenadora do projeto, conta que muitos catadores não tinham um carrinho para o transporte dos materiais que recolhiam e carregavam tudo em suas costas, provocando graves lesões em seus ombros. Outros catadores tinham carrinhos, mas com pedaços de madeira em sua estrutura, o que os tornava pesados e dificultava o carregamento de mais materiais. “Estamos dando suporte à ferramenta para eles trabalharem”, explicou Inês, dizendo que agora, ao invés de carregarem, os catadores poderão puxar os materiais.
O responsável pela construção dos carrinhos foi Valdomiro De Lima Pacheco, serralheiro que é parceiro do projeto desde a sua criação. “É um povo que precisa de alguém para ajudar eles, então o que a gente pode fazer, a gente faz com satisfação para ver essas pessoas um pouco mais felizes”, relatou. De acordo com Valdomiro e a irmã Inês, cada carrinho custou cerca de R$ 1.4 mil, somando os materiais utilizados para a construção e a mão-de-obra.
João Tadeu, catador de rua há mais de 30 anos, contemplado com um dos carrinhos, conta que “agora dá pra trabalhar direto e conseguir mais. Eu andava com um carrinho de mão e ele enchia ligeirinho. Tinha que fazer umas três, quatro viagens por dia”. Elisabeth e seu marido, que são catadores há cerca de cinco anos, sentiram-se privilegiados por receberem a ajuda do projeto e poderem trabalhar com mais dignidade. “Antes nós sofríamos com os sacos nas costas e agora com o carrinho, e esse projeto apoiando nós, temos até ânimo para continuar trabalhando e ajudando o planeta, porque o planeta está morrendo”, comentaram, destacando a importância do seu trabalho junto a sociedade.
Projeto Mãos Unidas
Um grupo de oito voluntários, a maioria mulheres, que se organizou inicialmente para ajudar nas ocupações do Bairro Popular. O trabalho seguiu por cerca de um ano, até que o grupo notou que o número de catadores no município de Passo Fundo havia crescido com o início da pandemia. Foi então que o Projeto Mãos Unidas nasceu, em parceria com a Associação de Moradores do Bairro Popular. “É uma classe que não tinha ninguém por eles. Em Passo Fundo não havia ninguém que olhasse para eles com carinho”, conta a irmã Inês. Hoje a associação atende cerca de 78 famílias de catadores e dez que estão em situação de vulnerabilidade social.
Dentre as ações desenvolvidas pelo projeto, a principal é a arrecadação de alimentos, por meio de sacolas econômicas entregues aos catadores todo mês. Além do grupo receber roupas, móveis e até madeira, que foi usada para a construção de três casas pequenas para famílias que moravam embaixo de lonas.
A irmã Inês Sartori conta que para 2022 a ideia é ampliar o projeto oferecendo reforço escolar para os filhos dos catadores, além de aulas de capoeira. “Hoje, de grupo em grupo, nós já damos um pouco de orientação, vendo quem tinha feito a vacina, quem estava vindo sem máscara e até com as próprias mulheres por causa da gravidez. Então não é só dar comida, é dar formação”, explica Inês. O trabalho acontece aos poucos porque o projeto até dois meses atrás não tinha um espaço físico para alocar e oferecer os serviços aos associados, o que acontecia só quando o grupo se deslocava para os bairros.
Conscientização
Além de ajudar os catadores diretamente por meio de suas ações, o Projeto Mãos Unidas busca conscientizar a população sobre a correta separação e destinação final dos resíduos sólidos nos contêineres. De acordo com informações obtidas com os colaboradores, atualmente o município de Passo Fundo gera em torno de 160 toneladas de resíduos sólidos por dia, isso significa um montante de 4.8 mil toneladas por mês. Nesse sentido, a separação adequada auxilia os catadores autônomos que têm como única renda e sustento da família a reciclagem. “Tem muita gente fazendo reciclagem para poder sobreviver. Então nós, que temos como sobreviver e colocamos o lixo no contêiner, temos que ser a ajuda para essas pessoas, separando bem o material”, finalizou Inês.