Sob influência de uma grande massa de ar quente e seco, Passo Fundo alcançou a marca dos 37,3 ºC na tarde do último domingo (23), um recorde de temperatura que não era quebrado desde 2008. A onda de calor, que está há cerca de 12 dias sobre o Rio Grande do Sul, tem previsão de se afastar do estado na quarta-feira, quando são esperados cerca de 30mm de chuva para o município. As precipitações, entretanto, ainda mantêm médias abaixo do esperado para o mês, com as consequências do fenômeno La Niña fortemente presentes.
Temperatura recorde
Por volta das 16h do domingo (23), os passo-fundenses enfrentaram o calor de 37,3 ºC. A temperatura foi um recorde, visto que o último marco do município havia sido registrado em 23 de dezembro de 2008, com os termômetros marcando 36,3 ºC, de acordo com o padrão usado como referência do clima local do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET). O alívio veio no final do dia e durante a noite, com precipitações que contabilizaram 23mm na Estação Meteorológica da Embrapa.
Cúpula de calor
Mas a onda de calor extremo deve se afastar definitivamente do estado na quarta-feira (26) e provocar um alívio nas temperaturas na quinta-feira (27), quando uma frente fria seguida de uma massa de ar mais frio vai estourar o domo de calor no qual o território gaúcho está sob influência nas últimas duas semanas.
De acordo com a MetSul Meteorologia, o verão significa clima quente e às vezes esse calor pode ficar aprisionado em algo chamado “cúpula de calor”, que é criada quando uma área de alta pressão permanece sobre a mesma área por dias ou até semanas, prendendo ar muito quente por baixo, assim como uma tampa em uma panela. As massas de ar quente se expandem verticalmente na atmosfera, criando uma cúpula de alta pressão que desvia os sistema meteorológicos, como as frentes frias, ao seu redor.
À medida que o sistema de alta pressão se instala em determinada região, como na Argentina, Uruguai e o Rio Grande do Sul, o ar abaixo aquece a atmosfera e dificulta a instabilidade, que somado ao alto ângulo do sol de verão com o céu claro ou de poucas nuvens, aquece ainda mais o solo. Além disso, devido à estiagem, o solo está ressecado e com pouca umidade, o que faz com que ele não consiga se resfriar por evaporação, ou seja, fica ainda mais quente já que a energia térmica que seria usada para isso aquece diretamente o ar e o solo.
Temperaturas voltam às médias do verão
Já durante a madrugada da quinta-feira (27) a passagem da frente fria deve provocar chuvas mais generalizadas e de maior intensidade no município, fazendo com que os termômetros voltem a marcar temperaturas abaixo dos 30ºC, nesta que provavelmente será a última chuva registrada no mês de janeiro. O agrometeorologista da Embrapa Trigo, Gilberto Cunha, esclarece que nos finais de tarde da terça e quarta-feira existe a possibilidade de ocorrer pancadas de chuva em decorrência dos tipos de nuvem que se formam pelas altas temperaturas, mas é só na quinta-feira que níveis mais elevados, chegando na faixa dos 30 mm, estão sendo apontados nos prognósticos. Cunha destaca que essa é uma das chuvas mais significativas dos últimos dias e pode promover um pequeno alívio para a situação de calor e estiagem, mas que o alerta ainda deve ser mantido para a economia de água e o consumo consciente.
Precipitações abaixo das médias históricas
A chuva em janeiro, entretanto, se mantém longe das médias históricas esperadas para o mês, que giram em torno dos 150 mm. Somada a outra frente fria que passou pelo estado neste mês e computou 33 mm, até o momento foram registrados 56 mm no município. Gilberto Cunha explica que o problema maior não é o mês de janeiro, mas uma sequência de três meses, sendo eles novembro, dezembro e janeiro, em que persistem chuvas abaixo do normal. “Nós estamos com muita pouca chuva nesses três últimos meses, que são os mais quentes do ano e, consequentemente, cada vez mais a umidade do solo, dos reservatórios, dos mananciais hídricos vão diminuindo e perdendo água”, disse.
Permanência do La Niña durante todo o verão
Com perspectivas da manutenção da influência do evento La Niña até o final do verão, esse cenário deve se repetir em fevereiro. Porém, como aponta o agrometeorologista, em fevereiro a situação vai depender da configuração das águas do Oceano Pacífico e do Oceano Atlântico, mais especificamente na costa da América do Sul. “Em fevereiro nós podemos ter chuvas mais regulares, caso tenhamos uma condição do oceano atlântico mais aquecido”, finaliza.