Com a falta de chuvas significativas e o tempo seco sendo o cenário predominante nos últimos meses, mais de 250 municípios do Rio Grande do Sul decretaram situação de emergência em virtude da estiagem. Apesar da região de Passo Fundo sinalizar quebras de 35% na cultura do milho e cerca de 10% na soja, Passo Fundo ainda não analisa emitir o decreto, visto que, no momento, o município não tem dados agravantes de perdas na agricultura e de crise de abastecimento de água, segundo o secretário municipal de Agricultura, Cristiam Thans.
Situação de emergência
A onda de calor com origem na Argentina que se aproximou do Estado nesta semana afastou a possibilidade de precipitações pelos próximos dias. A falta de chuvas, no entanto, se encontra em um ponto limite para a entrada em um estágio crítico nas culturas de verão.
Conforme sinalizou Cristiam Thans, o município irá aguardar mais 10 dias e então voltará a analisar a situação para ver a necessidade de emissão de um decreto de situação de emergência. “Por enquanto, não estamos analisando a possibilidade de emitirmos um decreto porque ainda não temos informações suficientes, um agravamento maior aqui em Passo Fundo”, ponderou o secretário. “Mas faremos uma nova avaliação daqui alguns dias, porque, felizmente, no momento não temos falta de água para o consumo humano e nem de animais no interior. Nenhum caso nesse sentido”, completou, acrescentando que a Emater sinalizou perdas na agricultura, mas ainda não são em volumes que justifiquem a emissão do decreto.
Abastecimento de água
De acordo com o superintendente regional da Corsan, Aldomir Santi, a situação nas barragens de Passo Fundo tem se mostrado críticas dada a falta de chuvas que não tem recuperado os níveis das barragens. Até a tarde de terça-feira (7), a barragem da Fazenda da Brigada estava 2 m abaixo do nível máximo e a barragem do Arroio Miranda estava com 80 cm de déficit. “A situação está acendendo um alerta. Estamos tomando providências e no final de semana vamos iniciar a transposição de água do Lago da Pedreira para a barragem do Arroio Miranda”, declarou Santi, lembrando que desde 22 de dezembro a Corsan realiza a transposição de água do Rio Jacuí para a barragem da Fazenda da Briga, buscando estabilizar os níveis de água e prevenir o racionamento.
Região de Passo Fundo
Ao todo, são 42 municípios que pertencem a região administrativa de Passo Fundo. Conforme pontuou o engenheiro agrônomo e responsável pela área de culturas da Emater/RS - Ascar, Oriberto Adami, a região está dividida em duas: uma que foi afetada de maneira mais grave pela falta de precipitações e outra que segue estável, sem perdas alarmantes. “Os municípios no entorno de Marau, Casca e Ciríaco tiveram chuvas que não ocorreram em outras partes da região nos meses de novembro e dezembro. Então elas têm um potencial produtivo bom e não ocorreram tantas perdas”, explicou.
Em contrapartida, municípios próximos a Sananduva, Cacique Doble e Machadinho se encontram em situação crítica, com perdas que variam entre 50% e 60% na cultura do milho. “O que observamos é que assim como dentro de um mesmo município, onde em um distrito chove e outro não, na região como um todo também é assim. Não é uniforme", analisou Oriberto Adami. “Essa estiagem não é como a do ano passado, que foi mais severa e generalizada”, pontuou.
Perdas no milho
Levando esse ponto em consideração, na média geral, a Emater analisa que a quebra do milho na região de Passo Fundo é de 35%, que pode variar de 50% a 80% em algumas lavouras. Até o momento, cerca de 10% das lavouras foram colhidas, o que torna possível, conforme as lavouras serem limpas, quantificar as verdadeiras perdas.
Na safra de milho do verão 2021/22, neste mesmo período, as perdas se concentravam em 60%, quase o dobro deste ano. “Ano passado o problema era bem mais sério e generalizado aqui. Não é o ideal, temos a estiagem, mas ocorreram chuvas localizadas, algumas de alta intensidade que tem amenizado a estiagem. No ano passado, isso não ocorria”, esclareceu Oriberto Adami. “Uma ou duas chuvas já fazem a diferença. Neste ano, ocorreram algumas chuvas quando havia floração e espigamento do milho e assim amenizou o problema”, completou Adami, relembrando, no entanto, que é necessário um grande volume de chuva para que o déficit hídrico da região normalize e volte a patamares adequados.
Soja em andamento
Quando se trata da cultura da soja, as perdas estão sendo analisadas, até o momento, entre 10% a 15%. No entanto, são necessários mais 30 dias para determinar de maneira mais exata as quebras e níveis de produtividade.
O momento mais crítico e que apresenta a necessidade de água é agora, quando a planta entra em floração e na fase de enchimento de grãos. “A maioria das lavouras de soja foi plantada tardiamente porque no período adequado de implantação não havia as condições necessárias para o plantio em função da falta de umidade”, considera Oriberto Adami. “Então observamos uma soja em condições melhores do que o milho porque houve chuvas pontuais em janeiro. Mas, com a entrada da planta em fase de floração e formação de grão, ela tem um consumo mais elevado de água, então é urgente a necessidade de chuva”, afirma.
Previsão do tempo
A chuva deve tardar e não tem chances de ocorrer em Passo Fundo pela próxima semana. O dia de hoje (8) deve ser marcado por nebulosidade e termômetros na casa dos 33ºC, enquanto a quinta-feira (8) traz possibilidade de pancadas de chuva isoladas e de fraca intensidade, acompanhada do calor de 30ºC.
No fim de semana, o tempo quente e seco permanece, com predomínio de sol e a probabilidade de 34ºC. Na próxima semana, principalmente na segunda-feira (13), a onda de calor presente no Estado atinge seu ápice, com temperaturas que podem chegar aos 35ºC.
A primeira quinzena de fevereiro deve continuar com as temperaturas elevadas e chuvas mal distribuídas, enquanto a segunda metade do mês apresenta uma melhora nas condições hídricas. Com a perspectiva do encaminhamento do fenômeno La Niña para uma fase neutra, os prognósticos apontam precipitações entre normal e abaixo da média, que para fevereiro é de 147 mm. Até hoje (8), Passo Fundo registrou 9,6 mm, distribuídos de forma irregular pelo município.