Quem habitualmente costuma caminhar pelo pavilhão da Feira do Produtor, no Parque da Gare, se deparou com diversas bancadas vazias durante as duas últimas semanas. A estiagem que afeta as propriedades rurais de Passo Fundo e cidades da região reduziu em 71,4% a oferta de hortaliças provenientes da agricultura familiar.
Dos 28 produtores rurais que comercializam os alimentos, apenas oito expuseram os produtos nas bancadas, segundo comentou o presidente da Feira do Produtor, Mércio Michel. “Alguns deixaram acumular para fazer a feira no sábado e se autossustentar”, mencionou. Com 64 feirantes que abastecem o centro comercial com verduras, frutas e demais cultivos colocados à disposição dos consumidores passo-fundenses, 18 se ausentaram por falta de produtos, afirmou Michel.
Alívio
Os 110 milímetros de chuva que caíram nos últimos dias, porém, trouxeram alívio aos agricultores e, de acordo com Mércio, ao solo. “Para a terra e as culturas foi ótimo. As raízes mais superficiais tiveram um bom desenvolvimento”, disse. Mais crítico, o que ainda não se alterou foi o quadro das fontes de água que abastecem as propriedades. Conforme detalhe o último boletim conjuntural publicado pela Emater/RS há sete dias, as precipitações em volumes variados propiciaram condições para a retomada de plantios de hortaliças que estavam atrasados na região, sobretudo, nas áreas implantadas de hortaliças não irrigadas, como batata-doce, milho verde, mandioca, abóbora e moranga tardias, que estão em fase de recuperação.
Mesmo com “perdas irreversíveis” em alguns cultivos, conforme cataloga a Emater, muitos reservatórios para irrigação tiveram recuperação parcial com as chuvas das últimas semanas, mas ainda há limitação de irrigação de lavouras, e mesmo estufas, por conta de falta de água. “Produtores de folhosas, beterraba e cenoura retomaram os cultivos com a volta das chuvas. Áreas não irrigadas de cenoura e beterraba apresentam perdas de produção e qualidade de 50%. São realizados novos plantios de tomate em estufas, alguns já em desenvolvimento vegetativo, visando produção na entressafra”, detalha o boletim do instituto de assistência técnica.
Comercialização
Ainda que a oferta de alimentos tenha diminuído, o presidente da Feira do Produtor comenta que os preços médios praticados pelos produtores rurais não foram influenciados pelo quadro de estiagem. “O que tem uma diferença de variação é aquele produto que não é produzido e vem de fora ou não é da estação”, ponderou Michel.
Na comercialização dos cultivos da safra, a batata, por exemplo, manteve os preços para o saco de 50 quilos em R$ 120 para batata rosa e branca, segundo a estimativa da Emater. Com o término da colheita em Ibiraiaras e municípios vizinhos, com produtividade entre 30 e 40 toneladas por hectare, a batata comercializada no município, atualmente, é produzida em Bom Jesus, onde as condições climáticas são diferentes com frio mais intenso e colheita em período posterior aos praticados na região.
Outro cultivo afetado pela escassez hídrica, a cebola segue para o final de colheita das áreas cultivadas tardiamente em Passo Fundo, cujos preços pagos aos produtores ficaram entre R$ 1,60/kg do produto de primeira qualidade e R$ 0,80/kg para tipo 1 e 2, de menor qualidade.
Conforme especifica o relatório da Emater, além das hortaliças, as frutas e erva-mate também tiveram influência das chuvas responsáveis por modificar, temporariamente, a estiagem nas plantações de uva já em fase de colheita e monitoramentos de pragas e doenças. “A industrialização da erva-mate no período de 31 de janeiro a 06 de fevereiro de 2022, em Passo Fundo, teve aumento em função das precipitações ocorridas recentemente, dando uma condição de normalidade e favorecimento das colheitas”, alude o boletim conjuntural.
Dos 35 principais produtos analisados semanalmente pela Gerência Técnica da Ceasa/RS no Estado, 13 ficaram estáveis em preços e em 20 ocorreu alta, enquanto dois tiveram redução de preços. Repolho verde, moranga cabotiá, pimentão verde, Tomate-caqui longa vida e vagem foram os cultivos com maior elevação de preços, segundo a Emater.