Uma casa para dona Isolde

Moradora da ocupação Leonardo Ilha, ela é a quarta beneficiada do Projeto Arquitetura Para Quem Mais Precisa

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A casa está assentada em pilares de madeira improvisados e tem problemas no teto. (Foto: Isabel Gewehr/ON) A casa está assentada em pilares de madeira improvisados e tem problemas no teto. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
A casa está assentada em pilares de madeira improvisados e tem problemas no teto. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
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Quando põe os pés para fora de sua casa e olha para a direita, Dona Isolde vislumbra à distância um condomínio com casas grandes e de alto padrão, com muros que dividem a realidade que ela tem ao seu redor. Isolde Salete Nunes, de 48 anos, mora em uma das várias ocupações espalhadas pela cidade de Passo Fundo, a do bairro Leonardo Ilha, junto de sete dos seus 12 filhos. A casa que serve de abrigo para a família tem um único cômodo, onde a cozinha, a sala e os quartos se misturam em um quadrado de madeira elevada do chão que até meses atrás não tinha banheiro para a família utilizar. Isolde é uma das mães solos que o Projeto “Arquitetura para quem mais precisa” presta auxílio desde 2021, planejando e buscando doações para a reforma de sua casa. Até o momento, R$ 18 mil foram arrecadados. A meta é que R$ 25 mil sejam reunidos para que a família de Dona Isolde possa ter uma sala, dois quartos e uma cozinha que possam chamar de lar.

 

“Tem que se virar, porque se tu ficar parada, as coisas não andam”

Isolde Salete Nunes nasceu e viveu até os dez anos em Tapejara, quando então se mudou para Passo Fundo. Há um ano e dois meses ela se instalou na ocupação Leonardo Ilha, em um terreno que divide com o pai, que mora aos fundos. Algumas casas ao lado, ainda na ocupação, ela tem como vizinho alguns de seus irmãos. Rodeada pela família, todos se dão as mãos, mas é no trabalho de reciclagem, com um carrinho que reúne materiais no bairro, e em bicos que realiza para os vizinhos, que a dona de casa tira o sustento de cada dia e alimenta os sete filhos. “Tem que se virar, porque se tu ficar parada, as coisas não andam”, contou ela.

Os 12 filhos foram fruto de dois casamentos que acabaram não dando certo. Assim, se tornou uma mãe solteira que cuida dos filhos sem apoio algum dos pais das crianças. “Apoio de pai eles nunca tiveram nada nessa vida, mas sempre peço a Deus e ele sempre me dá forças para eu lutar até o fim por eles”, disse. Seu lamento vem acompanhado pelo descaso de um dos ex-maridos, que mora a alguns metros de sua casa, tem com os filhos. “Mesmo tão perto, o pai não é presente e não ajuda financeiramente, nem com um litro de leite ou uma sacola de comida”, como relatou Isolde. “Eu não fiz filho sozinha”, relembrou. 

No momento, ela divide o teto com sete dos filhos. Com uma única cama na casa, a mãe espalha colchões pela sala e a cozinha para que todos possam dormir. Os outros filhos moram com a avó e têm suas próprias moradias e famílias. Um deles, que morava no bairro São José, faleceu há cerca de um mês no trevo da BR 285, às 2h30min da manhã. Os detalhes foram relembrados pela mãe que perdeu o filho atropelado por um carro com placa de Coxilha. O motorista não prestou socorro e o pedido de justiça também acompanha o seu luto. “Eu quero justiça, porque não vai voltar; Eu tenho 12 filhos. Com ele, eram 12, e perder um…”, o silêncio dela foi completado pela falta diária que o filho faz em sua vida.

 

Solidariedade e Arquitetura para quem + precisa

Assim ela segue a passos lentos, com o auxílio e solidariedade dos vizinhos. Foi por meio desses que o Projeto Arquitetura Para Quem Mais Precisa encontrou Isolde. O projeto, que iniciou suas atividades em 2020 em Passo Fundo, busca reformar ou construir banheiros para, principalmente, moradores de ocupações, onde em geral concentram-se as moradias mais precárias e famílias de baixa renda do município. A surpresa do grupo, entretanto, foi quando chegaram à casa de Isolde e nem banheiro sua residência tinha. Segundo ela, a família utilizava o banheiro da casa do seu pai.

 

Dificuldades no caminho e recomeços

A ideia do projeto passou a ser construir um banheiro do zero para a Dona Isolde. No entanto, nesse meio tempo, um temporal acabou destelhando a sua casa e cuidar dessa situação se tornou a prioridade. O problema do telhado foi resolvido temporariamente, mas Isolde conta que quando chove, goteiras se espalham por toda casa, sem contar o vento, que se infiltra entre as frestas de madeira do chão e das paredes.

O banheiro foi construído depois de algumas semanas, em uma ação mobilizada por dois vizinhos. Com materiais doados, a casa de Isolde agora conta com um banheiro equipado de chuveiro, vaso sanitário e uma pia. A partir de então, as arquitetas passo-fundenses que compõem o Arquitetura Para Quem Mais Precisa passaram a fazer visitas à casa e planejar a nova residência da família Nunes. De acordo com as voluntárias, o objetivo é construir do zero, expandindo o espaço para que os filhos possam ter um quarto e Isolde outro.

Isolde agora agradece a ajuda do projeto, que por meio de vaquinhas e ações junto a comunidade reuniu cerca de R$ 18 mil para a reforma e construção da casa e busca alcançar o valor de R$ 25 mil para que todas as melhorias possam ser feitas. “Eu tô muito contente, porque eu digo, tem pessoas boas nesse mundo, tem pessoal que tem o coração muito bom e eu tô sempre agradecendo que Deus as levante muito mais. O que eu quero de bom pra mim, eu quero para todo mundo”, agradeceu emocionada.

 

Como ajudar Isolde

Para que essa transformação aconteça, o Arquitetura Para Quem Mais Precisa aceita doações de qualquer valor no site campanhadobem.com.br/campanhas/arquitetura-para-quem-mais-precisa.



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