O Arquivo Histórico Regional (AHR) realizou, nessa quarta-feira (16), uma cerimônia de inauguração em sua nova sede, localizada no Campus I da Universidade de Passo Fundo (UPF). Com 38 anos de existência e considerado um dos maiores acervos históricos da região, o AHR funciona agora no subsolo do prédio do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas (IFCH), em um ambiente especialmente estruturado para oferecer melhor atendimento ao público e todas as condições necessárias de conservação e preservação do acervo, que exige ventilação, iluminação controlada, baixa umidade e variação de temperatura dos ambientes em que são alocados.
Ligado ao Programa de Pós-Graduação em História da UPF, o Arquivo é um centro regional de guarda, conservação e disponibilização à consulta ou pesquisa de documentos de seu acervo, que abrange fotografias, filmes, edições de jornais impressos, revistas, almanaques e milhares de outros tipos de acervo como arquivos públicos, sociais, judiciários, privados, biblioteca auxiliar e de prefeituras de Passo Fundo e Lagoa Vermelha. “Nossa felicidade é pensar que daqui há 50, 100 anos, esses documentos estarão ainda em boas condições para a comunidade”, destaca a coordenadora do AHR e professora do curso de História da UPF, Gizele Zanotto.
A equipe responsável pelo arquivo estima que o acervo possua, hoje, mais de mil metros lineares em documentos, com aproximadamente 52 mil processos judiciais, mais de mil fotografias, 50 mil edições de periódicos, cerca de 1.400 mapas, 3.200 volumes de livros na biblioteca auxiliar, 50 caixas de arquivo com documentos em processo de triagem, além de inúmeros documentos e livros classificados, mas que não possuem uma estimativa em unidade de sua quantidade, pertencentes a órgãos públicos, entidades coletivas e acervos pessoais. Para encaixotar, transportar, higienizar e organizar a mudança de todo o material foram dois anos.
Riqueza histórica
A nova estrutura, disposta em um espaço interno de 292m², conta com quatro salas de acervo, um laboratório de conservação e restauração, uma sala de pesquisa, uma sala de triagem e higienização de documentos e um escritório administrativo. Em uma das salas, nomeada “Acervo Nicolau Vergueiro”, é possível conferir um acervo completo de móveis, livros e cadernos de memórias de Nicolau Araújo Vergueiro, um importante médico e influente político passo-fundense, que chegou a ocupar os cargos de prefeito do município e de deputado federal. “Quando a família entrou em contato conosco, eles quiseram doar os móveis dele também. Então temos cofre, armários de livros, escrivaninha, toca-discos, tudo original e em ótimo estado de conservação. Temos até mesmo cadernos de memórias dele, em que ele fala de casos médicos e políticos, envolvendo figuras como Borges de Medeiros e Getúlio Vargas”, explica Bruna.
Além do acervo de Nicolau Araújo Vergueiro, o AHR guarda ainda documentos raros e de suma importância para preservação da história regional, como Leis do Império e documentos remanescentes da Câmara de Vereadores de Passo Fundo do século XIX. Mencionando exemplos de documentos que estão abrigados no acervo e cuja existência, por vezes, passa despercebida ao público em geral, a historiadora e funcionária do arquivo cita arquivos privados de figuras emblemáticas da cidade e região, como a professora Maria Crussius e os músicos Alfredo Custódio e Alegre Corrêa, onde estão reunidas cartas, fotografias e outros registros privados. Há ainda documentos públicos como livros do tabelionato de notas do século XIX, que mostram registros envolvendo transferências de propriedades e negociações de alforria, remetendo ao período da escravidão. “Um dos livros, de 1874, está até sendo transcrito por um grupo de paleografia formado por voluntários. Nossa ideia é que, estando em um ambiente digital, esses materiais se tornem também mais acessíveis e fáceis de ler por toda a comunidade”.
Ela também menciona documentos envolvendo crimes variados, que ajudam a entender a realidade sociocultural do período; papeis referentes a demarcações de terra, que esclarecem como era a configuração das propriedades em séculos como o XIX; e documentos de uma filial da Cruz Vermelha, fundada em Passo Fundo no ano de 1942, que mostram a relação de Passo Fundo com a Segunda Guerra Mundial. “Quando o Brasil entrou na guerra, existiram soldados de Passo Fundo e região que integraram os combatentes da Força Expedicionária Brasileira e, como Passo Fundo era uma rota ferroviária muito importante, diversos combatentes passavam por aqui. Temos fotos e documentos que mostram como eles eram amadrinhados por voluntárias da Cruz Vermelha. Elas angariavam doações – cigarros, compotas de doces – para enviar para eles na Europa e se correspondiam com eles por carta, como se fossem um suporte emocional. São documentos que ajudam a entender como foi a participação de Passo Fundo e como a cidade se movimentou durante a Segunda Guerra”, conta Bruna.
Visitação
O Arquivo estava sem atendimento ao público desde 2020 primeiro em função da pandemia e na sequência, em razão do processo de mudança de sede, que funcionava no Campus III, no Centro. Com a inauguração do novo espaço, por outro lado, o AHR pôde retomar o atendimento à comunidade, que pode conhecer o arquivo e utilizar o acervo para a pesquisa gratuitamente, de segunda a quinta-feira, das 8h às 11h30min e das 13h30min às 17h30min, mediante agendamento pelo e-mail [email protected] ou pelo telefone (54) 3316-8516.