Camelódromo retoma os trabalhos de maneira lenta com queda de 70% do público

Redução das vendas, crescimento do comércio ambulante e alta do dólar são alguns dos problemas enfrentados desde o início da pandemia

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Depois de mias de um ano as atividades do camelô retornaram sem restrições. (Foto: Isabel Gewehr/ON)Depois de mias de um ano as atividades do camelô retornaram sem restrições. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
Depois de mias de um ano as atividades do camelô retornaram sem restrições. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
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Cores e diferentes tipos de produtos se misturam no olhar de quem caminha pelo extenso corredor do Camelódromo de Passo Fundo. Localizado há mais de 30 anos na Praça Tochetto, o espaço que no momento conta com 44 bancas abertas vem, no entanto, perdendo o seu principal propulsor desde que a pandemia teve início: o público, com a redução de mais de 70% da sua movimentação.

Francisco Brasil, presente há 31 anos no camelódromo, conta que a espera foi de mais de um ano para que o trabalho das bancas retornasse normalmente, sem restrições. No início, com as imposições da pandemia, o local ficou totalmente fechado por cerca de 150 dias, para só então abrir com a intercalação dos dias de trabalho entre os boxes pares e ímpares.

Foi somente em maio de 2021 que os comerciantes puderam respirar fundo retornando ao trabalho em sua totalidade. Contudo, não foram os 50 boxes do camelódromo que tiveram esse fôlego. “Ainda não voltou ao normal porque ficou praticamente um ano fechado. É um processo gradativo, algumas bancas que estavam fechadas estão voltando aos poucos, recomeçando, mas mesmo assim ainda tem bancas fechadas”, disse Francisco, que é também presidente da Associação dos Camelôs de Passo Fundo (Assocap).

 

Afastamento do público

A queda de comerciantes foi acompanhada pela queda de compradores. Os corredores, outrora preenchidos de conversas de adultos e crianças curiosas olhando para os produtos dentro das bancas, agora parece ter esquecido como é ter um fluxo constante de pessoas. “Hoje o que nós temos aqui, comparado ao que era uma vez, não chega a 30% dos nossos clientes”, apontou Francisco. “O movimento caiu uns 70% e não reagiu mais”, completou Romano Gerlach, vendedor há 33 anos, desde que o camelô “ainda era lá em cima”, nas proximidades da Avenida Brasil, contou.

Vice-presidente da Assocap, Romano relata que a maioria dos vendedores não conseguiu retornar e essa, possivelmente, é a maior crise que eles já enfrentaram dentro do camelódromo. “Já tivemos crises, mas assim, que caiu tanto as nossas vendas, o nosso rendimento, eu nunca tinha passado por isso”, disse. “Se você olhar, temos poucos fregueses. O que tem nos corredores é os vendedores, e isso uma vez era um fervo, muito bom”, relembrou Romano.


Perdas do tempo

O olhar de Romano recai para o extenso corredor e as paredes de metal e madeira construídas improvisadamente dentro do espaço cedido pela Prefeitura para o camelô. Depois de mais de três décadas, o chão se tornou mesclas de variadas cores de lajotas, que se intercalam entre algumas inteiras, outras quebradas e espaços que são preenchidos somente pelo cinza do cimento batido, provocando um sobe e desce para quem caminha do início ao fim do camelódromo. “O nosso camelô ‘tá’ em uma situação precária, porque como nós não temos vendas, a gente não tem como ampliar, melhorar a entrada…”. Uma das entradas do camelódromo, localizada no centro do local, em algum momento já recebeu um toldo, mas agora, só resquícios do verde folha da lona permanecem firmes na estrutura. “Talvez se fosse melhorar o visual do camelô, as coisas melhorassem, mas como entra pouco dinheiro, a gente não tem condições de manter”, lamentou o comerciante.

 

Para além do camelódromo

Francisco Brasil lembra que o crescimento do comércio ambulante em Passo Fundo também foi um fator que provocou impactos sobre as vendas. “Hoje é mais a oferta do que a procura. Cada esquina tem uma loja e todo mundo precisa vender”, esclareceu, pontuando que agora os estabelecimentos também estão fortemente presentes nos bairros. “A pessoa que mora em uma vila não vai se deslocar de lá pra vir até aqui porque lá já tem a loja. Ele pode pagar um pouco mais caro, mas vai ficar uma coisa pela outra ao gastar passagem até o centro”, disse Francisco.

Isso se soma às oscilações do dólar, visto que a maioria das mercadorias são trazidas de outros países, como o Paraguai. “Teve épocas que você viajava, voltava e já tinha dinheiro pra viajar de novo, mas agora você viaja hoje e vai viajar daqui a uma semana, dez ou quinze dias”, contou Francisco. Com a alta do combustível, o valor das passagens também subiram, o que se alia aos custos de estadia e alimentação, que comprometem boa parte da renda e tornam as viagens muito caras. “Não vale a pena, se você tiver, por exemplo, R$ 2.000 para viajar, quase 13% do dinheiro é comprometido com as despesas”, disse.

Francisco ainda elenca que o conflito entre Rússia e Ucrânia tem causado a falta de matérias-primas e a consequente falta de produtos. “Isso tudo são coisas que refletem, refletem lá na ponta, mas nós sentimos”, comentou. No entanto, isso, aponta ele, não pode ser repassado para o consumidor. “Onde tem muita gente, tem concorrência. Se você não não vender um pouco mais barato, o outro vende e temos que respeitar isso”, salientou, acrescentando que acima de tudo, o poder de compra da população diminuiu e as prioridades se tornaram outras.

Ainda assim, um fio de esperança permanece no vendedor, sabendo que o local por muitas vezes é referência para a população. “Pessoas que vem de fora contam pra gente que gostam de vir no camelódromo porque eles são bem tratados, recebidos e bem atendidos, se sentem em casa”, refletiu Francisco Brasil.

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