As centenas de quilômetros que compõem o município de Passo Fundo serviram, ao longo de toda a sua existência, como pano de fundo e até mesmo palco principal para milhares de histórias. É nas ruas da cidade que amigos se cruzam, trabalhos são gerados, amores reencontrados e momentos de lazer compartilhados. Por isso, no aniversário de 165 anos de Passo Fundo, a reportagem de O Nacional decidiu ouvir aqueles que percorrem o município todos os dias e veem, a partir de suas próprias lentes, a vida acontecendo em cada um dos caminhos que formam a cidade.
“Não me vejo morando em outro lugar”
Motorista de coletivo urbano há 16 anos, o passo-fundense Jocemar Oliveira Vieira, de 53 anos, passa ao menos sete horas por dia percorrendo a cidade e vendo a vida acontecer dentro dela, através das janelas de um ônibus. A rotina de Jocemar começa junto com o nascer do sol, por volta das 6 horas da manhã, enquanto ele se prepara para percorrer cerca de 150km dentro de Passo Fundo, transportando centenas de pessoas pela linha Hípica/Planaltina, em mais um dia de trabalho. “Eu amo o que eu faço. É maravilhoso porque um dia você está em um lugar, outro dia no outro, sempre girando a cidade. E a gente conhece tantas pessoas, cada dia é uma história diferente. Isso é o que eu mais gosto na minha profissão”, conta.
O prazer encontrado por Jocemar no dia a dia como motorista é acentuado, ainda, pelo amor que ele diz sentir por Passo Fundo. Morador do bairro Vera Cruz há cinco décadas, ele sorri enquanto revela que não consegue imaginar sua vida fora do município. “Eu me criei em Passo Fundo e não me vejo morando em outro lugar. Como morador, gosto muito do Parque da Gare, mas como motorista, gosto da cidade inteira. Todo canto da cidade tem algo bonito para olhar. É impossível descrever todos os lugares que vejo enquanto trabalho, porque são muitos”.
“Eu ando há anos pela cidade [de bicicleta], quase a vida toda”’
A praticidade de pedalar por Passo Fundo, enquanto une os benefícios de uma atividade física à economia proporcionada pela redução na utilização do automóvel, é um dos principais motivos pelo qual o passo-fundense Celso Amadeu, de 63 anos, encontra na bicicleta o meio de locomoção perfeito para o seu dia a dia dentro da cidade. O aposentado, que é morador do bairro Rodrigues, conta que costuma percorrer trechos do município de bicicleta, enquanto observa o ir e vir da cidade, praticamente todos os dias. “Eu sempre morei em Passo Fundo e sempre tive bicicleta. Então, ando há anos de bicicleta pela cidade, quase a vida toda”, compartilha. Entre os lugares favoritos da cidade, não coincidentemente, Celso cita as ciclovias. “Uso principalmente a do Boqueirão e a da Presidente Vargas. Até acabo usando muito mais a bicicleta do que o carro para andar pela cidade. É uma companheira muito legal”, comenta.
“É bom circular pela Petrópolis”
Cleidson Simões é motoboy que faz entregas para o iFood e particulares. Natural de Passo Fundo, está com 36 anos dos quais 18 dedicados à profissão. “Para mim um dos locais mais bonitos de Passo Fundo é a Petrópolis, em especial o Sétimo Céu”. Como circula por toda a cidade, tem algumas preferências. “Gosto da São Cristóvão, do Passo Fundo Shopping e da Gare”. Cleidson fala com muito carinho sobre o Parque da Gare. “É um local muito bonito. Uso muito, pois moro perto na rua de trás. Levo as crianças para brincar Também é muito gostoso ir lá para tomar um chimarrão”. E para fazer as entregas? “Ah, a Petrópolis é o melhor lugar para a gente circular”.
“Uma cidade ótima e compactada”
Jonatan Zonatto é taxista com ponto na General Netto em frente ao Fórum. Nasceu em Passo Fundo há 40 anos. Em 15 anos que trabalha como motorista, cultivou preferências por algumas áreas. “Gosto muito da Cidade Nova, Altos da Fátima e o Sétimo Céu. Mas a parte mais bonita da cidade é o Parque da Roselândia, o local dos rodeios”. As melhores recordações de Jonatan estão ligadas ao Parque da Gare. “Lembro de quando eu namorava ali com a minha mulher. Também jogava vôlei numa quadra de areia que tinha lá. Nos fins de semana ia com o meu pai para tomar um mate de manhã”. E como o taxista define Passo Fundo? “É uma cidade ótima. Aqui a gente encontra tudo o que tem numa capital com a vantagem de que é uma cidade mais compactada. Com certeza, eu não sairia daqui”.
“Bonito é o nosso Centrão”
Luiz Carlos Mello da Silva está com 56 anos. Mais conhecido como Chicão, o passo-fundense trabalha como porteiro do Condomínio 5ª Avenida há 26 anos. Suas preferências estão próximas ao seu olhar cotidiano. “A área central da cidade, a Catedral, a Gare, o Comercial e a antiga Brahma”. Chicão utiliza os coletivos urbanos para vir de casa desde a Lucas Araújo até o trabalho. “Venho pela Chicuta e o que mais observo nesse trecho é a grande movimentação de pessoas”. E no dia a dia? “Sempre dou uma passada no Borga, no Oásis e no Krep’s”. E, afinal, o que é mais bonito em Passo Fundo? “O bonito é o centro da cidade, o nosso Centrão”.
“Faço o que amo na minha cidade”
Wellington Tisian nasceu em Passo Fundo há 33 anos. É instrutor, coordenador de voos no Aeroclube de Passo Fundo e piloto executivo da Razera Agrícola. Mora na Petrópolis e curte o trecho da 285 até a entrada para o Aeroclube. “Mas aquela vista do Aeroclube é sempre demais”. O piloto tem o privilégio de ver Passo Fundo do alto. “De cima fica nítida a grande mudança da cidade, principalmente no centro. As torres do Bella Città são um destaque. É difícil um piloto não avistar, pois para o nosso padrão de segurança elas representam o maior obstáculo vertical”. Mas a UPF está na proa do olhar desse passo-fundense. “É impressionante ver a evolução. Quando tinha uns seis anos, aos domingos eu ia ao Zoológico da UPF, sempre sonhando em um dia voar. Hoje do alto é uma sensação diferente. Ao olhar a UPF de cima sinto que sou um privilegiado, pois eu faço o que amo na minha cidade”.
* Este material foi produzido pelos repórteres Claudia Dalmuth e Luiz Carlos Schneider