Depois de ser ameaçado de morte e ser tratado de forma ríspida por moradores, onde inclusive foi proibido de entrar em um condomínio da região central da cidade, A.F., 36 anos, desistiu da função que estava desenvolvendo nos bairros. Ele abriu mão da vaga depois de apenas três dias de trabalho.
Ao chegar em uma residência no bairro Lucas Araújo, ele foi recebido pela moradora e o esposo, de forma pouco amistosa. “Percebi que ele estava meio alterado e parecia nervoso. Logo quando iniciei o questionário ele me mandava encerrar e que já estaria na hora de eu ir embora. A esposa não o indicou como morador da casa. Durante toda a entrevista, ele passava por mim e me encarava, como se eu fosse uma ameaça”. Quando A.F. perguntou o sexo dos integrantes da família, o morador ficou alterado e o casal se desentendeu. “O ápice foi quando eu perguntei a renda da família. Ele explodiu, disse que se colocasse mais algum dado sobre os filhos, ele me mataria. Foi a última casa que visitei. Entreguei o trabalho no IBGE e pedi meu desligamento nesse dia”.
Assim como A.F. outros recenseadores estão recebendo ameaças e sendo alvo de tratamento ríspido. Segundo o coordenador do IBGE em Passo Fundo, Jorge Bilhar, essa prática infelizmente não é incomum. “Muitos recenseadores são tratados de forma grosseira, temos vários relatos. Muitos seguem trabalhando, mas esse tipo de situação fez com que vários desistissem”.
Em virtude da grande desistência dos recenseadores, o IBGE precisou fazer dois editais complementares em 2022, maio e julho e em agosto. Na última quarta-feira (24), o Edital Complementar 17/2022 foi encerrado com 114 inscritos para (60) vagas. O IBGE irá aguardar a apuração da classificação por títulos e os selecionados serão convocados para o treinamento.
Reunião
Uma ação específica deverá ser organizada no mês de setembro, onde o órgão irá propor uma reunião com entidades da cidade como Prefeitura Municipal, Câmara de Vereadores, administradores de condomínios, imobiliárias e representantes de órgãos jurídicos locais, com o objetivo de mostrar como é feito o censo. “A intenção é evitar esses problemas que vêm acontecendo e termos o apoio das entidades da cidade. Iremos explicar os objetivos, como é feita a coleta de dados, o método de georreferenciamento, instrumento que padroniza a identificação dos imóveis a partir de imagens de satélite. Também vamos explicar como é aberto e feito cada questionário, gerando uma coordenada, o que possibilita a supervisão do percurso do recenseador”, disse. Jorge Bilhar conta que cada recenseador recebe por unidade registrada. “Cada um deve fazer uma média de seis entrevistas diárias, 60 por semana, conforme a área em que for atuar. Os que não cumprirem a meta mínima prevista pelo órgão começam a ser desligados a partir da próxima semana”.
Além das desistências por situações atípicas, alguns também desistiram em função de outros fatores como a necessidade de retorno ao domicílio várias vezes, ou em casos em que não se adaptaram ao trabalho de campo. Outros foram chamados em empregos formais e concursos que haviam prestado. “Todos esses fatores elevaram o nível de desistência, porém estamos otimistas com este último edital onde tivemos 114 inscritos. Já vamos nos preparar para o treinamento. Estando tudo em ordem, até dia 12 de setembro colocamos mais uma equipe a campo”, disse.
Passo Fundo necessita um quantitativo de 178 recenseadores para o trabalho no Censo.