Número de venezuelanos aumenta 80% em quatro meses em Passo Fundo

Cadastro em maio era de 280 imigrantes, número ultrapassa 500 pessoas em setembro

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Família Castillo foi a primeira a chegar na cidade. (Foto: Rosângela Borges/ON) Família Castillo foi a primeira a chegar na cidade. (Foto: Rosângela Borges/ON)
Família Castillo foi a primeira a chegar na cidade. (Foto: Rosângela Borges/ON)
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O número de venezuelanos que migrou para Passo Fundo em busca de melhores condições de vida dobrou nos últimos quatro meses. A maior parte das famílias reside nos bairros São Luiz Gonzaga, Vila Luiza, Santa Marta e Santa Maria.

O representante da Associação de Venezuelanos em Passo Fundo - Tricolor No Sul, Daniel José Martínez, conta que cerca de 70% dos venezuelanos já estão estabelecidos e trabalhando em empresas da cidade ou como prestadores de serviço. O restante é a população idosa ou ainda alguns que estão sem trabalho e recebem benefícios sociais. “O processo de inserção ocorre de forma organizada, com apoio da associação em questões como documentação, encaminhamento e orientação para atendimento de saúde pela rede pública e de assistência social pelos Centros de Referência da Assistência Social -CRAS”. O atendimento odontológico é oferecido uma vez por mês pela Fasurgs (que foi adquirida pela Atitus Educação). 

Daniel explica que a Associação tem por prerrogativa recomendar que as famílias que chegam ao município se cadastrem na Central de Vagas no site da prefeitura ou, no caso de escolas da rede estadual, procurem diretamente na 7ª Coordenadoria Regional de Educação. “Acreditamos que o contato com a língua portuguesa é necessário e primordial e oferecemos esse suporte”. 


Primeira família completa quatro anos em Passo Fundo

A família Castillo foi a primeira a chegar em Passo Fundo ainda em 2018. Lá se vão quatro anos de aprendizados e criação de vínculos. O chefe dessa família, Alfredo Castilho, viveu na pele o que grande parte dos imigrantes enfrentam quando chegam no Brasil. Ele conta que um colega de trabalho não aceitava sua presença e repetia diariamente que ele era um estrangeiro e deveria ir embora de Passo Fundo. “O começo foi ruim, não tive acolhida. Mas um dia o cumprimentei, o abracei e falei ‘te amo, você é meu amigo’. Ele me pediu desculpas, nós dois choramos e hoje ele é meu melhor amigo. Depois desse dia todos os outros foram bons”.

Essa é uma das tantas histórias dessa família alegre e que gosta de estar em Passo Fundo. Eles vivem desde que chegaram na mesma casa alugada na Vila Luiza. Nesse período tiveram que aprender sobre a língua, se adaptar à alimentação e buscar colocação no mercado de trabalho. Aos poucos foram conseguindo ocupar seu espaço e hoje se sentem felizes no lugar onde estão. “Viemos aqui para trabalhar, gosto muito do bairro, mas ainda tenho dificuldade com a língua. Estamos nos adaptando cada vez mais no cotidiano da cidade. Aqui é tudo tranquilo”, conta Margelis de Castillo, confessando que teve que adaptar a comida típica venezuelana chamada “arepa” com a farinha brasileira até conseguir comprar a própria de seu país pela internet. 

A filha do casal, Marfred Castillo, vive com os pais e o irmão e, esta semana, o irmão de seu Alfredo, Alcides Rodriguez, também chegou em Passo Fundo para buscar uma vida melhor. Ele conseguiu trabalho no segundo dia em que estava na cidade. “Aqui é muito bom para conseguir emprego e estou gostando bastante”.


Imigração 

O antropólogo e professor da UPF, Frederico Santos dos Santos, doutor em Antropologia pela UFSCar, explicou que deslocamentos das pessoas sempre fizeram parte da história da humanidade. “Na última década Passo Fundo tem se tornado rota migratória de muitas pessoas oriundas das Américas (como Venezuela e Haiti), bem como de países africanos como Senegal. A presença dessas pessoas, com suas práticas culturais (na alimentação, religiosidade, vestimenta, música, idioma) dinamiza a cultura de Passo Fundo. Confere à cidade novas formas de se relacionar com as diferenças, de rever nossas práticas culturais e compreensão de mundo. Esse exercício, que parece que aprendemos no plano teórico (especialmente nos anos de escola e com políticas de respeito à diversidade), é feito na convivência cotidiana nos diversos espaços da cidade, acolhendo esses sujeitos e suas culturas”.


Exposição

A partir do próximo sábado, dia 1º de outubro, acontece a exposição: “Retratos da imigração venezuelana em Passo Fundo”, na Galeria Estação da Arte, junto à na Gare Gastronômica, com registros feitos pelos fotógrafos Diogo Zanatta e Guilherme Escobar Benck. A exposição segue até 16 de outubro, aos sábados e domingos, das 16h às 19h, com visitas agendadas. 


Músico venezuelano se apresenta na Gare

Há um mês o músico Henry Alejandro Salazar Castillo chegou em Passo Fundo com o plano de desenvolver projetos na sua área. Já foi convidado para alguns eventos e se apresentara no sábado (1º), a partir das 16h, junto à exposição das famílias venezuelanas.  


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