Seis bancas inativas no camelódromo são lacradas pela fiscalização

Queda do público é estimado em 80% desde o início da pandemia

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Proprietários reivindicam melhorias no espaço que sedia o camelódromo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)Proprietários reivindicam melhorias no espaço que sedia o camelódromo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
Proprietários reivindicam melhorias no espaço que sedia o camelódromo. (Foto: Isabel Gewehr/ON)
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Com mais de trinta anos de história, o Camelódromo de Passo Fundo vem perdendo o público e seus tradicionais comerciantes desde o início da pandemia, sinalizando uma queda de cerca de 80% de sua movimentação e mantendo no momento cerca de 30 bancas em funcionamento. Na última sexta-feira (11), a Prefeitura de Passo Fundo, em parceria com a Brigada Militar, realizou a fiscalização do espaço para verificar a regularidade das bancas e dos produtos comercializados.


Ação de fiscalização 

Retomada após quatro anos, a ação de fiscalização foi desencadeada pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico e cumprida por fiscais urbanos, junto com agentes de trânsito da Secretaria de Segurança. Ao todo, o camelódromo possui 50 bancas e no momento da operação possuía 30 abertas ao público. Dessas, 7 estavam operando de forma regular, 17 receberam notificação para regularização de alvará e 6 foram lacradas, uma vez que os permissionários não estavam mais operando.

A operação começou às 9h e teve duração aproximada de uma hora e meia. Além de buscar a regularização das bancas em desacordo com a legislação, resultou na apreensão de produtos como CDs piratas, perfumes falsificados e óculos de sol e de grau. 


Alvarás 

Há cerca de 30 anos no mercado, a proprietária do box 43, Pedrinha Aloíza Xavier, conta que a fiscalização foi recebida com surpresa, mas que tanto a Prefeitura quanto as bancas fizeram a sua parte e já na segunda-feira (14) retornaram ao fluxo normal de trabalho. “A maioria do pessoal só não havia pagado a licença do alvará de 2022, mas todos vão logo regularizar e já retornamos às nossas atividades”, relatou.

Em 2021, o valor anual para regularizar o alvará de permanência no local era R$ 580,21, subindo para R$ 709,48 em 2022. “Das bancas que foram fechadas muitas são de pessoas que faleceram e que ainda não fizeram o cadastro para novos comerciantes atuarem. De outras bancas, muitos comerciantes foram embora porque tomaram outro rumo, outros também faliram”, explicou Aloíza. 


Mudança interna e externa 

Sem uma melhora no cenário de vendas desde que a pandemia teve início, as bancas não têm conseguido sair do vermelho e tem “empurrado com a barriga” a situação, como confessou Aloíza Xavier. “E não é só por causa da pandemia, mas porque abriu muitas lojas e tem muita concorrência que está trabalhando por aí, entre eles vendedores ambulantes”, esclareceu. Somado a isso, a proprietária Madalena Aparecida Barbosa acrescenta que muito do que vendiam antigamente agora também é oferecido por outros comércios. “Tudo é difícil e vai encarecendo. Cada vez mais caro, custos mais altos que o nosso lucro e vamos resistindo para ter só o que comer”, relatou Madalena, que há 22 anos mantém sua banca como a única fonte de renda da família. 

Com a queda de público, as viagens para compra de produtos têm se tornado cada vez mais escassas, tendo em vista que muito do que é comprado pode acabar “encalhando” nas bancas. Assim, as idas e vindas para o Paraguai e o Uruguai, que aconteciam três vezes por semana em tempos melhores, hoje se limitam a uma por mês. “Alguns ainda vão comprar, mas não é como uma vez que todos nós íamos. Eu, por exemplo, não viajo mais, compro as mercadorias aqui. Para mim sai um pouco mais caro, mas eu não tenho o risco de perder elas”, contou Aloíza Xavier, lembrando que muito do prejuízo sentido pelos comerciantes eram das mercadorias perdidas quando compradas fora do país.


Manutenção que sai do próprio bolso 

Conforme relataram os proprietários, o custo mensal para manutenção dos boxes gira em torno de R$ 400, incluindo a conta de luz e o salário de dois guardas que monitoram o camelódromo durante a noite. Sem receber qualquer auxílio ou verba de órgãos municipais, eles relatam ser difícil realizar qualquer reforma e melhora no espaço que serve de sede para o camelô. “Aqui é o nosso espaço, adquirido, se um dia a Prefeitura achar que nós não devemos ficar aqui, ele vai ter que nos dar um lugar melhor. No caso, já era para ter feito melhorias, mas até agora nada”, afirmou a proprietária Aloíza, elencando a possibilidade de um espaço mais arejado, com as lojas de frente para a rua, expostas ao público, ou até mesmo em uma estrutura de dois andares. 

Camelódromo necessita de reformas, mas proprietários não possuem a verba para realizá-las. (Foto: Isabel Gewehr/ON)


“União, para manter esse espaço em pé” 

A esperança é para a próxima data comemorativa do calendário, o Natal. No entanto, o último dia das crianças não trouxe resultados além da venda normal do dia-a-dia, o que mantém o desânimo que se torna mais intenso após ações de fiscalização. “Mas esse é o negócio da família. O sustento dos meus filhos sai daqui e se Deus me der oportunidade de viver 80 ou 100 anos, o meu trabalho é esse”, afirmou emocionada Aloíza, que desde os 15 anos trabalha envolvida no comércio. Hoje com 44 anos, ela diz estar ali por amor e pela parceria que todo o camelódromo mantém. “Trabalhar aqui é muito bom, a gente tem coleguismo e conhecimento, a gente aqui é uma família e não tem porquê a gente não gostar do que faz. União, para manter esse espaço em pé”.

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