Crianças em tratamento oncológico cortam os cabelos dos calouros de Medicina da UPF

Já tradicional no curso de Medicina, o Trote do bem marca de forma positiva o início da vida acadêmica

Por
· 2 min de leitura
Você prefere ouvir essa matéria?
A- A+

Aquela imagem tradicional do calouro com o cabelo raspado ganhou novos significados na Universidade de Passo Fundo (UPF). Na sexta-feira (11) dezenas de estudantes de Medicina estiveram no Espaço Lúdico do Centro Oncológico Infantojuvenil do Hospital São Vicente de Paulo (HSVP), em Passo Fundo, de onde saíram com novos cortes de cabelo. Os novos visuais ficaram sob responsabilidade dos pequenos pacientes, que comandaram as tesouras e máquinas. Além de momentos de diversão, o gesto trouxe lições de solidariedade, já que o tratamento contra o câncer, muitas vezes, causa a perda dos cabelos. Ao raspar o cabelo dos acadêmicos, as crianças puderam se identificar e entender que logo eles crescem novamente; já ao cortar os fios mais longos das alunas, os pequenos garantiram material para a confecção de perucas para as meninas em tratamento.

 

Um ato de empatia

O Trote do Bem é promovido e incentivado pela Associação Atlética Acadêmica Gaúchos de Passo Fundo (AAAGPF), da Escola de Medicina da UPF. A iniciativa é dedicada aos calouros, e tem por objetivo transformar trotes constrangedores em uma ação que marca a vida dos estudantes de forma positiva. “Assim eles já começam a faculdade fazendo uma boa ação, é uma forma deles ajudarem o outro, mesmo sem ainda ter o CRM. E sem falar que, para as crianças, é ainda mais emocionante, assim elas se sentem apoiadas, é um ato de empatia”, explica a estudante Giovana Scussel, que faz parte da tesouraria da Atlética e aproveitou a ação para doar alguns centímetros dos seus cabelos.

 

Pedro Lucas Dross, diretor esportivo da AAAGPF, conta que já foram realizadas cerca de 10 edições presenciais do Trote do Bem, além de diversas doações de cabelos a distância durante a pandemia. “Estamos muito felizes por poder trazer toda a turma para cá. Assim, quem estava um pouco indeciso (sobre cortar o cabelo) pôde ver o quão bom é fazer essa ação”, comentou o estudante, que também saiu com um novo visual. A estratégia deu certo: Nathalia Simões foi uma das estudantes de Medicina que decidiu na hora pela doação dos cabelos. “Vim aqui pensando que ia só apoiar o trote, e acabou que, no calor do momento, vi todas as minhas colegas cortando, e achei tão bonito ver a emoção daquelas crianças, e a nossa emoção, que não pude deixar de cortar o meu cabelo também”, disse a acadêmica.

 

Uma das primeiras calouras a ter o cabelo cortado foi Camila dos Santos Azeredo, e a sua participação teve um significado especial. “Sou mãe, e qualquer coisa que se trata de criança mexe muito comigo. Então, não tem como não fazer isso. O cabelo é uma coisa tão supérflua para nós, logo vai crescer”, comentou.

 

Um gesto, muitas lições

Um dos pacientes que participou da ação foi Samuel Soares, de 5 anos. Sua mãe, Valdema Soares, observou emocionada o filho interagir com os acadêmicos de Medicina. Para ela, foi comovente ver Samuel se divertindo com outras pessoas, porque ele ainda não pôde ir para a escola, e, em função dos tratamentos, tem um círculo de convivência bastante restrito. “Foi um gesto muito lindo, ver ele se tornando independente. Porque apesar de tudo o que está passando durante os três anos de tratamento, ele está se mostrando um verdadeiro guerreiro. Poder participar, junto com esses jovens, é muito gratificante, fico muito feliz”, revelou a mãe.

 

Marcelo Cunha Lorenzoni é médico oncologista pediátrico do Centro Oncológico Infantojuvenil do HSVP, e acredita que a presença dos calouros no hospital traz benefícios tanto para os futuros médicos quanto para os pacientes. “O fato de o bixo da Medicina ter o cabelo cortado justamente pelos pacientes em tratamento oncológico, isso é muito importante, e eleva sobremaneira a importância desse paciente, que já perdeu o cabelo muitas vezes pelo próprio tratamento”, considera o médico.

 

Gostou? Compartilhe