O feriado de Corpus Christi em Passo Fundo está sendo marcado por uma tradição que remonta ao século XVIII: A confecção dos tapetes de serragem. É nessa data, que as ruas e praças são decoradas com tapetes de imagens religiosas, produzidas com serragens coloridas. Para os cristãos, essa prática é uma forma de expressão artística e de devoção, sendo uma forma de expressar a fé na Eucaristia, que é o sacramento do corpo e do sangue de Jesus Cristo.
Em Passo Fundo, a tradicional confecção dos tapetes não acontecia desde antes da pandemia. Até 2018 cada paróquia produzia os seus tapetes na sua igreja. Porém, neste ano, diversas paróquias da cidade se reuniram no Seminário Nossa Senhora Aparecida para reviver essa tradição. Os primeiros raios de sol ainda estavam nascendo, quando centenas de fiéis já se reuniam no Seminário para ajudar na confecção dos tapetes, que serviram para compor a procissão durante a tarde. Eram pessoas de todas as idades, de jovens a idosos, que dedicaram algumas horas da fria manhã do feriado para o convívio em comunidade.
Icléia Ferreira foi uma das centenas de voluntários que ajudou na confecção do material. Ela diz que essa é uma tradição familiar, e que ajuda neste trabalho há décadas. “Lembro da época que saía da Catedral e a procissão ia até o campo do Gaúcho”, diz ela. A voluntária comenta que essa é uma tradição da sua família, que e sempre trabalhou em prol da igreja, já que isso faz parte do “partilhar”. “É um sentimento de gratidão, pois aprendemos a partilhar, e entendemos que o ser é mais importante que o ter”, disse ela.
União e fé
A confecção dos tapetes envolve muita criatividade e trabalho em equipe, unindo a comunidade em um momento de fé e celebração. É uma tradição que encanta os fiéis e toda a comunidade, destacando a cultura e religiosidade. O padre Claudir Pressi, da paróquia São Vicente, foi um dos organizadores dos atos religiosos que envolveram o Corpus Christi no Seminário Nossa Senhora Aparecida. Ele destaca que para a sociedade civil é apenas um feriado, mas que para os cristãos, esta quinta-feira foi um dia Santo. “Foi Deus quem mandou seu filho até nós, ele se consome pela vida e nos ensina com a simbologia do pão, que ele mesmo, Jesus, se fez alimento”, diz o padre.
Um dos principais simbolismos deste dia está em construir sinais, ou representações, de partilha e de um mundo mais justo. Neste contexto, o padre destaca que esse ano a Campanha da Fraternidade trabalhou a perspectiva de uma realidade que assola muitos brasileiros, que é fome, e de alguma forma, isso também é expressado neste dia. “Durante a procissão vamos levar Santíssimo, que vai passar sobre os tapetes, que expressam o Sagrado”, diz ele.
Outro ponto de destaque é que esta atividade também incentiva a vida em comunidade, agregando pessoas de diferentes locais, que se reúnem para esta prática. “Nós, da paróquia São Vicente, não poderíamos fazer os tapetes na rua, devido ao grande fluxo de trânsito na av. Brasil. Por isso nos reunimos todos aqui no Seminário, e isso também ajuda a agregar as pessoas.
O processo de confecção dos tapetes
Muito planejamento é necessário para confecção dos tapetes. Todo percurso temático da procissão é planejado previamente. Durante a semana, uma base dos símbolos e temas são desenhados em papel. No dia de confeccionar o tapete, esses desenhos são colocados no percurso da procissão, e em seguida preenchido com serragem colorida. A perspectiva dos organizadores era que milhares de pessoas participassem dos atos religiosos no Seminário Nossa Senhora de Fátima. Durante a procissão de ontem, os fiéis foram convidados a fazer doações de alimentos, que serão encaminhados pela Cáritas para as pessoas necessitadas.