“Foi uma grande quantidade de chuva em um curto espaço de tempo”. Assim, Aldemir Pasinato, analista do Laboratório de Meteorologia da Embrapa Trigo, simplificou a chuvarada que atingiu Passo Fundo e região nas últimas horas. Chuva muito além da média, como demonstram os registros da unidade da Embrapa em Passo Fundo. “De sexta-feira (1º/09) até às 15 horas de segunda (04/09), a altura da chuva chegou a 288mm”. Ou seja, em apenas quatro dias o volume de precipitação pluviométrica ultrapassou a média histórica para o mês de setembro. Aldemir informou que essa média é de 165,5mm. “Tivemos até às 15 horas desta segunda mais de 122mm além desta marca”. Para uma compreensão prática, em quatro dias choveu quase o dobro do volume normal para os 30 dias de setembro. E, depois dessa aferição, continuou chovendo...
Pico na madrugada de segunda-feira
A medição é feita por um pluviômetro e lida pela altura em milímetros dentro um quadrado de um metro. No setembro atípico de 2023, a chuva cai em grande intensidade e vai superando outras marcas também. “Nas últimas 24 horas tivemos 164,4mm. Este é o maior registro para um dia de setembro desde 1981”, explica Pasinato. Citando, ainda, que o superlativo mais recente ocorreu em 2001 com a marca de 134,2mm. Antes, o registro histórico é de 174mm em 1998, quando as consequências foram drásticas. Esses indicadores reforçam com embasamento científico o quilate das precipitações das últimas horas. E, dentro do período dos últimos quatro dias, o pico da chuva foi na noite de domingo. “Das 21 horas de domingo até às 5 horas da manhã desta segunda-feira, portanto em oito horas, foram 102mm”.
Vento, fungos e erosão
Mas o que ocorre nestes primeiros dias do mês não se limita à chuva e suas consequências diretas, inclusive trágicas. As condições do tempo apontam ainda outras ocorrências. “Além de alagamentos e transbordamentos dos rios, podem ter ocorrido queda de granizo em áreas isoladas. O vento registrou em Passo Fundo até 56km/h, ficando entre 60 e 70km/h na região”, disse o analista da Embrapa. Nas lavouras, com o excesso de umidade, aumenta o risco da incidência de doenças fúngicas como, por exemplo, a giberela, que atinge as espiguetas do trigo. A chuva forte cria cursos de água que também pode causar a erosão nas áreas de plantação, inclusive em algumas onde existem terraços.
El Niño e suas travessuras
Extremos têm por origem fenômenos. E, mais uma vez, o fenômeno é um velho conhecido que atende como El Niño, cujas travessuras prediletas são aumentar a temperatura e ampliar os períodos de chuvas nesta época do ano. “Houve um deslocamento de ar quente e úmido da Região Amazônica, junto com um sistema de baixa pressão. Simultaneamente, uma frente fria veio da Argentina e Uruguai. A interação desses eventos ocasionou toda essa chuva. Isso tudo já é efeito do El Niño atuando”, conta Pasinato. É uma espécie de entrevero meteorológico que ainda não terminou. “A partir de agora, esses eventos vão ocorrer com mais frequência.” Ou seja, o travesso El Niño vai propiciar mais chuvarada por aí.
Previsões
Com indicativos de mais chuvas ainda na segunda-feira (04), o analista da Embrapa utilizou dados do INMET, Instituto Nacional de Meteorologia, para informar que nesta terça-feira o quadro muda. “Pelo menos até quinta-feira, pois uma nova frente fria deve chegar entre quinta e sexta-feira. Teremos mais chuva, dias chuvosos até o final de semana. De acordo com o INMET, em Passo Fundo deve chover entre 180 a 190mm. A primeira quinzena do mês será bastante variável”, informou. E o termômetro, como se comportará? “Hoje (segunda) ainda abafado, mas na terça cai e a temperatura mínima fica entre 8 e 9ºC. Na quinta-feira sobe e as máximas atingem 24 ou 25ºC”, concluiu Aldemir. Parece que, nos próximos dias, El Niño também brincará na gangorra do termômetro.